Uma difícil conversa

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Deixo o celular na cama depois de marcar um horário com Mariano Urquiza, me arrumo melhor e penso em como será essa conversa. Quando Ana disse que estava pronta para conhecê-los me prontifiquei a falar com eles, afinal eu não os conhecia e por isso estava um pouco temeroso. 

Fecho meus olhos e tento dormir um pouco mas se torna impossível, como falar para um pai que sua filha está viva depois de anos? Como eles reagiriam ao saber de que ela não tem nenhuma memória deles? Eu tentaria ao máximo proteger a Ana de tudo e esperava que eles entendessem.

Acordo um pouco desorientado não sei em que hora peguei no sono, me levanto e pego o celular para ver as horas e vejo uma mensagem do meu advogado do Brasil pedindo para que ligasse para ele, respiro fundo um pouco irritado pois tinha certeza que era a Alana como sempre. Ligo para ele e conversamos por uma meia hora, eu estava certo, Alana queria saber a quem pertencia a casa de Buenos Aires e estava com raiva ao descobrir que segundo o inventário, ela era minha por direito. Assim que desligo o celular vou para o banheiro tomar um banho e logo desço para a sala.

Ao chegar vejo minha mãe no sofá, vou até ela a cumprimentando e sento ao seu lado, mamãe como sempre olha para mim com a sua serenidade habitual.

Maria: Vejo que teve uma noite difícil – fez um carinho em meu rosto – Está pensando na conversa não é?

Thiago: Sim – dei um leve sorriso – Estou com medo mãe, não quero que Ana se machuque.

Maria: Estaremos aqui meu filho, ela precisa saber sobre si mesma – eu sabia que sim – Mas sei o que está pensado, não os conhecemos Thiago isso também me assusta, mas ela é tão especial e eles devem ser também – olhei para o piano – Ninguém vai machuca-la, não permitiremos isso.

Isso era um fato, nada nem ninguém iria feri-la e eu garantiria isso.

Maria: Ela adorou o presente. 

Sorriu internamente, quando tivemos que nos despedir da Fazenda tiramos algumas coisas como por exemplo alguns pertences pessoais, mas uma das primeiras coisas que fiz foi guardar o piano que era tão importante para ela. No começo era pra ir para São Paulo, mas já havia um lá então o deixei guardado e quando viemos para cá soube que deveria traze-lo. 

Que momento lindo fora quando ela o viu, o brilho dos seus olhos era tão intenso que iluminou minha alma por completo, me vi tão perdido nesse momento que deixei transparecer o sentimento que guardo a sete chaves no coração.

Tudo era tão grande dentro de mim e eu não sabia se conseguiria esconder por mais tempo todo esse sentimento.

Maria: Deveria dizer o que sente pra ela meu filho.

Thiago: Mãe – disse baixo – Não é hora de me dizer isso.

Maria: É sempre a hora de dizer isso Thiago – disse contrariada – Do que tanto tem medo?

A encarei, eu não gostava de falar disso, do que eu tinha medo? Nem eu mesmo sabia, talvez medo de perde-la, dela não sentir o mesmo. 

Thiago: São tantas coisas mãe.

Maria: Queria que você pudesse ver o que eu vejo – me arrumei no sofá – Nunca vai perde-la meu filho, sabe o que eu vejo quando olho para vocês? – fiz que não – Eu vejo duas pessoas que se amam, mas que ainda precisam compreender esse sentimento.

Thiago: Podemos não falar disso? – disse me sentindo um pouco desconfortável.

Maria: Podemos né, nunca me deixa falar disso.

Thiago: E você sempre volta nesse assunto – levantei do sofá.

Maria: O que posso fazer – deu de ombros – Os jovens de hoje são um pouco cegos, só isso explica o fato de não verem o que está diante deles – ela me acompanhou – Mas sinto que não vai demorar mais para eles verem.

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