Recado dado

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Durante a nossa caminhada de volta para casa, Ana me atualizou sobre o teor da sua conversa com o Victor e no tempo que ela falava pude reparar em alguns pontos importantes. Sua inquietude era perceptível e seu encantamento pela história citada também. 

Ele lhe descreveu como ambos se conheceram, como foi que ocorreu o acidente e que eram complemente apaixonados um pelo outro e por último. Relembrou de um fato bem marcante.

Thiago: Então quer dizer que você tem um cadeado naquela ponte? – falo assim que avistamos o gramado que antecede a entrada da nossa casa – Devo ficar preocupado? 

Ana: Engraçadinho – ela sinalizou para que nos sentássemos em um dos bancos – Pior que eu consigo visualizar uma eu de dezessete anos fazendo isso.

Era realmente a cara dela mesmo, o que me fazia pensar no Victor Gutierrez. Quando o vi ali tão perto dela ficou claro que ele ainda nutria sentimentos pela garota ruiva, eu não estava nem um pouco surpreso. O que não queria dizer que também não estava irritado, porque na verdade irritação era pouco para descrever.

A forma como ele mantinha seus olhos nela não me agradou, tinha qualquer coisa estranha e um brilho escuro, ele a cobiçava. Deixando claro a sua infelicidade ao saber que ela seguirá em frente.

Thiago: Ele foi inconveniente?

Desviei meu olhar até a grande porta de entrada, ao seu lado uma pequena placa chama a minha atenção. O nome Kunst se encontrava gravado e novamente sinto que falta alguma coisa, o que seria?

Ana: Um pouco – concentro-me nela – A todo instante tive a sensação de que ele esperava por algo. 

Bufo passando a mão na minha nuca, eu sabia muito bem o que ele esperava encontrar. Era resquícios da garota de anos atrás ou que ela ainda mantivesse os mesmos sentimentos de antes.

Thiago: Como se sente? – pousei minha mão na sua – Te fez bem?

Ana: Estou cansada, como se um caminhão passasse por cima de mim e depois desse ré – foi impossível não rir da sua comparação – Foi muita coisa pra um dia só, mas tô aliviada também. Porque por mais que não lembre, eu estou a par de tudo que é importante.

Thiago: E é isso que importa pra mim, que você esteja bem.

Ana: Isso é porquê você me ama – enruguei o nariz e mandei um beijo pra ela – Desde que tive aquela pequena lembrança fiquei tão confusa com isso de passado e presente se fundindo. Tão perdida em dois extremos, a garota de agora e a desconhecida que fui um dia. Sempre desejando lembrar.

Thiago: Sempre foi um dos seus maiores objetivos na vida – ela mordeu os lábios – O que acontece se não lembrar do passado?

Recuperar sua memória sempre foi algo que ela ansiou desde que recobrou a consciência lá na fazenda, ela viverá no escuro por muito tempo sem nem poder dizer de onde vinha suas manias, seus gostos. Lembrar era mais do que descobrir quem ela era, lembrar era encontrar um equilíbrio em sua vida. 

O equilíbrio que ela tanto buscava veio sem memórias.

Ana: Acharia esquisito se eu dissesse que não me preocupo mais com isso? – esbocei um grande sorriso – Eu amo minha família, eu gosto de quem eu sou e quero estar de volta com eles. Quero ser Helena.

Thiago: Você é Helena! 

Ana: Eu sou Helena – ela piscou e seus olhos se banharam em lágrimas – Assim como sou Ana, antes eu acreditava que era duas pessoas diferentes e com personalidades distintas. Isso machucava tanto.

Thiago: Porquê antes sua mente estava vazia, depois você passou a ser Ana e começar a se descobrir como pessoa e do nada passou a ser Helena também – ela apertou minha mão com força – O pane no sistema foi grande e você sentiu como se uma quisesse roubar o lugar da outra.

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