Última vez

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Paro no meio da cozinha e observo como tudo está uma tremenda bagunça, os utensílios domésticos como faca, garfos e panelas estavam espalhados pela bancada juntamente com os mantimentos que acabei de comprar, volto a me movimentar e arrumar tudo. Talvez eu estivesse um pouco neurótica.

Bia: Acho que exagerou Helena.

Ela estava encostada na parede com a sua mochila pendurada no ombro, seu olhar era melancólico e eu sabia o porquê.

Era saudade..... 

Ana: Dever de matemática? – apontei para a mochila e franzi o nariz, eu não era fã dessa matéria.

Bia: Pra sua sorte hoje é de história.

Sorri um pouco mais animada e a vejo deixar suas coisas de lado e vim me ajudar, ofereço um pedaço de pano e ela começa a limpar o balcão da pia. Eu ainda podia ver a tristeza em seus olhos e enquanto colocamos a cozinha em ordem escuto ela falar sobre a escola e sobre uma prova chata que está chegando.

Bia: Onde eu coloco isso?

Ana: Segunda gaveta – disse assim que notei os talheres em sua mão – Pronto.

Olho para o trabalho feito a cozinha agora estava impecável então a chamo para irmos até a sala, quando chegamos lá ela senta sobre o tapete e tira o seu material da mochila. Eu não era uma boa professora, mas ajudo no que podia, na meia hora que passou nos concentramos na tarefa e vez por outra Bia olhava para o relógio na parede, a garotinha estava ansiosa.

Ana: Já já ele chega – disse entregando um dos livros pra ela.

Bia: Porque eu não pude ir junto?

Ana: Porque ele já está voltando – ela não se convenceu.

Bia: Eu estou com saudades – sua irritação era perceptível.

Mordo a bochecha para não rir, ela estava mesmo enraivecida e suspiro pensando no motivo por trás, Maria tinha sido internada a pouco mais de uma semana o que deixou Thiago e eu sem direção. Passamos a revezar todas as noites pois não queríamos deixá-la sozinha ainda mais por ela odiar estar em um ambiente como esse.

Mamãe e papai foram imprescindíveis nesse momento complicado, os dois faziam companhia pra ela de dia. Era comum eu chegar em seu quarto de hospital e pega-la rindo com o papai. Já a minha irmã como ela mesmo frisava era a sua enfermeira particular, porém ver a Maria tão debilitada a desestabilizou e todos concordaram que Bia ir sempre ao hospital não era recomendado.

Naquele dia em especial Bia dormiu comigo já que ainda estava assustada, antes de dormir eu cantei baixinho a nossa música na tentativa de acalma-la e acariciei seus cabelos como na única lembrança que tenho dela.

Deixo o silêncio tomar conta do lugar e encosto na lateral do sofá, já a Bia começava a arrumar suas coisas quando quem ela esperava entrou pela porta. Maria estava com o braço apoiado no Thiago e com um lenço rosa na cabeça, o caminhar era lento e seus olhos refletiam cansaço, preocupação e a paz que a muito eu não via.

Bia: Você demorou em – se fez notável – Maria eu estava com muita saudade de você.

Maria: Eu também anjinho – sua voz saiu um pouco abafada devido a máscara que ela usava, ordem médica.

Ela fez um sinal para que o Thiago a ajudasse e ele o fez prontamente, reparo na cara cansada e ele ainda usava a mesma roupa de ontem. Como Maria teria alta ele quis ficar até o momento que ela sairia.

Ana: Amo você – digo quando ele sentia ao meu lado – Como foi com o médico?

Ao mencionar esse fato vejo seus olhos serem banhados em lágrimas cristalinas, afago sua mão e beijo seu rosto com todo o amor que sinto.

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