Era uma mulher.
Torment logo olhou para a garota; era loira, de estatura média, olhos castanhos.
1 e 71? Não, 1 e 72, eu acho.
Mas ele lembrou: ser visto era a última coisa que ele queria. Arranjou tempo de quebrar um pedaço do retrovisor e pegá-lo, enquanto se agachou dentro do carro. O retrovisor era o único jeito de Tormes enxergar alguma coisa.
Foi quando ele ouviu uma risada calma. Ela murmurava; após cerca de 5 minutos falando, Torment entendeu uma frase.
Hm, hm. Ele tá escondido, mas o tabuleiro é meu. Ele não é invisível.
Os sussurros foram ficando baixos, até serem inaudíveis. E sua voz desapareceu por um tempo. Torment não se conteve.
Ele riu, baixinho.
Ela provavelmente percebeu a reflexão do sol no vidro.
E sussurrou, falando sozinho:
-Sua vadia, hm. Só posso esperar, agora. Qual vai ser a próxima carta na sua manga?
Ele riu mais um pouco, e sentiu o vento no rosto, muito rápido contra ele, depois uma dor nas costelas. Ele havia sido atropelado e sua adrenalina não o deixou perceber. A mulher, então disse:
-Hah... Seu lixo, quem você acha que é? Hahah, olha pra mim.
-Já... estou o-olhando, imbecil.
-Olha com quem fala, pedaço de merda.
Torment parou para raciocinar. Ela não explodiu. Será que ela é real? Ele franziu a testa, e riu mais um pouco.
Ela não existe. É um sonho. Eu fui atropelado, eu posso muito bem estar em coma. Mas existe a chance.
Ele beliscou o ombro, em um ato infantil. Não aconteceu nada. Ele foi tomado por desespero, começou a lacrimejar.
Ele riu.
Por muito tempo.
Então, começou a transmitir sua aflição, e chorou brevemente. Sentou no chão e percebeu que a mulher ainda estava assistindo.
-Perdão. Eu pensei que nunca mais iria ver ninguém na vida, já que...
...meu registro foi eliminado.
-Normal. Aconteceu comigo também...
-Sério? Eu tô atrás de informações sobre essa parada de registros, pode significar o futuro do mundo, né?
-Eu só estou sobrevivendo, aqui. Eu sou inútil, não tem porque tentar mudar o mundo.
Qual é seu nome, garoto?
-Torment. Não precisa dizer seu nome. Daqui em diante você vai ser chamada de Pirralha, ou a louca que me atropelou. Que tal?
-Achei horrível.
-É seu nome, Pirralha.
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Contos da Tormenta [¼]
General FictionEm um mundo onde uma vida dá um lugar à outra, um jovem indeciso faz mais barulho do que deveria. À ressonância de todo esse barulho, se dá o nome de contos da tormenta.