Amanheceu o dia, e nada havia mudado. Torment ainda estava no chão, acordado, porém sem forças para fazer nada. Nate estava o encarando, pensando se deveria fazer alguma coisa.
Eu não sei. Ele e a Fauna me ajudaram quando... Melhor não lembrar disso. Eu deveria retribuir, pra mostrar que eu tô grato por isso, eu acho. Por outro lado, ele não é tão amigável comigo, eu tenho medo de ajudar ele e acabar dando em problema depois. E a Fauna tá de mal com ele, se eu ajudar o Torment, pode ser que eu piore até pra ele. Eu...
Então, Nate se lembrou de sua conversa com Torment no dia anterior:
-Você não tá com medo? -Disse Nate.
-Claro que tô. Mas lutar contra esse medo é uma coisa que eu tenho que fazer. Você também.
Nate respirou fundo, se ajoelhou, e finalmente falou, baixinho:
-Torment. Conta comigo. Eu vou te ajudar. O que você tá tentando fazer é interessante.
Olha, Torment. Eu... Não tô com medo.
Fauna ouviu isso, e desceu rápido, dizendo:
-Nate, não faz merda! Cê vai se arrepender disso depois, ele não presta.
-Sabe, meus pais morreram do mesmo jeito que o pessoal aí fora tá morrendo, e se eu puder fazer com que isso nunca mais aconteça com mais ninguém, eu topo. Mas tenho duas condições. É bom que você continue treinando uma semana...-
Ele terminou, em um tom irônico: -E me ensina o que significa puta.Torment abriu um sorriso curto, se esforçando ao máximo para isso.
-Por favor, Fauna, me ajuda. Nunca te pedi nada na vida, vai.
-Não.
-Se o Torment morrer, pra onde que a gente vai?
-Se acontecer, a gente vê.
-Vai ser assim mesmo? A gente tá aqui que nem animal comendo carne quase crua, e só por causa dessa sua atitude infantil aí, a gente não vai chegar a lugar nenhum.
-E daí?
-...Se você não vai ajudar, deixa que eu tento sozinho. Se você atrapalhar, eu te bato.
Fauna se compadeceu levemente, e foi tentar determinar o que Nate deveria fazer:
-Sai da frente, criança.
Nate ficou alegre pela atitude de Fauna, e deixou ela olhar o corpo de Torment.
-Nariz quebrado, um corte grandão na testa, hematoma também, acho que é só isso... Não, tem um cortezinho no lábio. Vai ter que catar tecido pela casa, a gente não tava preparado pra isso.
-Tá, eu acho.
-Envolve os cortes, o nariz deixa que eu arrumo. Não sei o que fazer com os hematomas, então deixa assim mesmo.
Fauna colocou o nariz de Torment no lugar, no que se ouviu um forte estalo. Ele teria gritado, se tivesse forças para algo além de um suspiro.
-Envolve o nariz dele também, só na dúvida.
Nate estava procurando álcool, ele sabia que iria encontrar em algum lugar.
Fauna percebeu que Nate queria algo, e pediu:
-Nate, o que você tá procurando?
-Álcool, isso iria ajudar!
-Procura lá em cima, tenho quase certeza de ter visto algo assim por lá. Acho que alguém nessa casa bebia, né?
-Faz o que você puder, aí! Eu já volto.
Fauna acenou com a cabeça, e continuou tratando de Torment. Enquanto isso, Nate subiu ao andar de cima, para procurar o que Fauna disse que estaria em um dos quartos.
Após um tempinho de busca, Nate viu, no seu quarto, uma garrafa, com metade do seu interior preenchida de um líquido transparente. Nate já percebeu que não era água, então pegou a garrafa e correu para a escada.
Fauna ouviu Nate gritar, muito forte:
-ACHEI!
Infelizmente, Nate não estava muito focado em sua descida, e acabou caindo na escada. Sua queda veio acompanhada da destruição da garrafa.
Nate começou a chorar de frustração, mas Fauna disse:
-Calma, carinha, não é o fim do mundo. Vamos curar ele de boa, só vai ser mais chatinho. Só não prova essa coisa, você é novo demais pra isso.
Nate percebeu que Fauna tinha razão, então enxugou as lágrimas do rosto, se levantou e foi auxiliar a mulher.
Mais de 10 horas se passaram até que o longo trabalho da dupla acabasse. Fauna e Nate carregaram Torment à cama de Nate, por pedido do garoto.
Nate estava ciente da tensão entre Fauna e Torment, que só aumentava, cada vez mais, então pediu para Fauna deixá-lo aos seus cuidados.
ーー・ーー
Durante a noite, Torment abriu seus olhos, logo viu Nate ao seu lado e exibiu uma clara expressão de surpresa.
Nate notou o despertar de Torment, e disse, alegre:-Pensei que você havia morrido, cara! Que susto você me deu!
Fauna, em seu quarto, ouviu as palavras de Nate e sorriu. Ela sentiu um alívio grande, e pôde dormir em paz.
Enquanto isso, Nate começou a contar uma história para Torment.
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Contos da Tormenta [¼]
General FictionEm um mundo onde uma vida dá um lugar à outra, um jovem indeciso faz mais barulho do que deveria. À ressonância de todo esse barulho, se dá o nome de contos da tormenta.