10:01 da manhã, hospital de veteranos de Long Beach.
Foi uma experiência assustadora. Torment sentiu uma descarga imensa de adrenalina em seu corpo, e ele já havia percebido que sua vida estava por um triz, mais uma vez.
Ele estava caído no chão; suas roupas estavam cheias de rasgos, e ele tinha queimaduras em todo o corpo. Ele se apoiou em seus braços para ver se estava tudo bem com Fauna, ato esse que não foi bloqueado pelo seu ego, pela primeira vez.
Em suma, a explosão havia, sim, impulsionado Torment para frente, e estava tudo bem com a mulher, o que, no fundo, deu alívio a Torment.
Fauna estava encarando a cena, atônita e apavorada com a capacidade destrutiva da explosão de Torment. Ela saiu correndo em direção a ele, por impulso, e o pegou em seus braços. Torment a interrompeu, dizendo:
-Não precisa de tudo isso, eu consigo caminhar...
Logo em seguida, ele tentou apoiar as palmas de suas mãos no chão, para se erguer. Não deu certo, visto que a explosão queimou ambas ao ponto de arderem ao toque. Ele emitiu um grunhido e desistiu.
Fauna levantou Torment e saiu correndo para algum lugar longe da vista de todos, pois já sabia que uma coisa dessas seria um chamariz para qualquer um. Logo antes de completar 500m de distância do ponto inicial, ela ouviu um som estrondoso, que, ao olhar para a fonte do barulho, descobriu ser a marcha de todos os soldados da milícia gigantesca do governo.
Ela se agachou e deitou seu companheiro no chão, dizendo:
-Estamos fodidos. Vamos esperar um pouco e nos mandar pro carro. Boa ideia, né?
Torment riu baixinho e disse, sorrindo e com dificuldade de falar:
-Pode ser, Fauna.
Ao ouvir Torment sendo respeitoso, as pupilas de Fauna dilataram, e ela se sentiu satisfeita. Gaguejando, ela murmurou:
-B-beleza... Vamos pro... P-pro carro de uma vez.
Mais uma vez, ela levantou Torment em seus braços e foi se esgueirando pelo mato, que estava grande ao redor do hospital. Não foi muito complicado, já que as atenções do exército estavam voltadas para o epicentro da explosão misteriosa.
Ao chegar no carro, Fauna viu um soldado isolado dos outros, encarando a dupla, sem mexer um músculo. A mulher ficou pasma, e não conseguia mais se mover. Ela cerrou os lábios, tentando não mostrar o que estava falando, cutucou Torment e lhe disse:
-Cara, seguinte. Vamos causar mais uma distração? Consegue pôr fogo nessa árvore?
Torment fez uma cara que deixava clara sua falta de interesse no ato, mas então ele olhou para o soldado e entendeu a ideia. Ele resmungou:
-Vai, pode ser então. Vamos fazer assim: Entramos no carro e você manobra pra mim alcançar a árvore e tentar fazer isso. Não aceito de outro jeito. E vamos logo, porque eu tô me mijando.
-Adorei a ideia, vai ser assim. - Fauna respondeu, empolgada. Torment, então, revirou os olhos e resmungou:
-...Tudo eu nessa merda.
Então, Fauna pegou as chaves do bolso do homem e se aproximou do carro muito lentamente, ao passo que aquele soldado andava alguns passos mais perto do resto da equipe. Então, ela rapidamente abriu as portas do carro, jogou Torment no banco do caroneiro, deu partida no veículo e fez uma manobra, deixando Torment mais perto da árvore. Então, ele sentou, quebrou o vidro fechado com o cotovelo, aproximou a mão e tentou usar a "força do pensamento" para acender um fogo forte. Enquanto isso, o soldado correu para avisar o grupo de que os possíveis culpados estavam lá.
O plano de Torment deu errado, pois ele não conseguiu acender o fogo. Mas ele, querendo outra chance, bateu na coxa de Fauna e gritou:
-POR DENTRO DAS ÁRVORES, METE O PÉ!
Ela obedeceu e pisou fundo, andando pelo gramado, entre as árvores, enquanto Torment tentava de novo. Mas, no retrovisor, a mulher viu dois carros da tropa os perseguindo, e tentou dirigir mais rápido ainda. Por cerca de 50 metros, Torment não conseguiu nada, mas então, vendo o fim da trilha de árvores, ficou mais nervoso e tentou uma última vez.
Então, sua mão emitiu uma fraca labareda, que pegou em um galho e começou um fogo leve. Torment não ficou satisfeito com a fraqueza do fogo e abriu a porta enquanto o carro se movia. Ele rolou por um tempo e gritou:
-JÁ VOLTO! - E então, ele se levantou, ignorando a ardência em suas mãos, e gritou desesperadamente, enquanto tentava uma explosão para os lados. Então, ele estendeu os braços horizontalmente e abriu suas mãos. Delas, sairam explosões altas e largas, que formaram uma parede de fogo que consumia a madeira das árvores, algumas de pé, outras caindo, e também levantando muita terra e poeira. Então, Torment saiu correndo em direção ao carro, com a parte de trás de suas mãos contra o nariz e boca. Isso serviria de distração para os soldados, que aparentemente saíram de vista.
Fauna voltou alguns metros antes e abriu a porta, gritando para Torment, que estava mais para trás:
-Vem logo!
Torment correu mais um pouco e chegou ao carro. Antes de entrar, ele olhou para o lado e viu uma coisa que o assustou: Uma criança e seu cachorro queimando no fogo que ele havia feito, gritando em agonia. Essa imagem fez Torment molhar as calças antes de entrar no carro. Logo após entrar, ele começou a olhar para baixo, boquiaberto e com os olhos arregalados.
Fauna não prestou atenção nisso, e continuou a dirigir, tentando achar o caminho de volta para casa.
- - • - -
11:30 da manhã, alojamento do trio.
Fauna havia acabado de estacionar. Ela ficou olhando para Torment, que não fez mais nada desde que voltou ao carro. Depois de um tempo, ela encostou no ombro dele e pediu:
-O que foi, idiota? Quem morreu?
Torment virou bruscamente para ela, e fez uma expressão de raiva genuína. Então, ele gritou, em uma voz de choro:
-Quem morreu...? QUEM MORREU?! Pensa antes de- Antes de... - Ele não conseguiu conter suas lágrimas, que carregavam em si a culpa e a tristeza de Torment por ter cometido o pior ato de sua vida.
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Contos da Tormenta [¼]
General FictionEm um mundo onde uma vida dá um lugar à outra, um jovem indeciso faz mais barulho do que deveria. À ressonância de todo esse barulho, se dá o nome de contos da tormenta.