26 - partida: parte 5

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~Segunda, 5 de março~

03:04 da manhã, casa do trio.

Torment estava desanimado. Aquela fatídica cena pairava sobre sua mente perturbada. Ele estava incerto do futuro da missão. Até o momento, não havia caído a ficha. Matar gente estava um pouco acima do que ele poderia fazer, mas ainda era a opção mais viável. Quem sabe, seria melhor desistir de fazer esse possível massacre. Ele não queria uma 4ª morte. Nem uma 5ª. Nenhuma. Na verdade, qualquer coisa parecia melhor do que continuar.

Ele levantou do sofá, que estava machucando suas costas, lentamente virou a maçaneta da casa de madeira e saiu para caminhar. Ele estava querendo achar alguém. Para observar. Ver a vida de alguém normal. Que não tem medo de ser morto a tiros por ser perigoso para o mundo. Que não matou ninguém. Que tem futuro.

- - • - -

03:26 da manhã.

Depois de um tempo caminhando, ele viu uma rua cheia de lojas, todas fechadas. Embaixo de um poste iluminado, ele viu uma jovem mulher em roupas sugestivas, segurando uma pequena bolsa e enrolando com seus dedos os cachos de seus lindos cabelos, em um tom escuro de vermelho, que era destacado pela luz branca do poste. Ela usava um brilho labial chamativo, que fez Torment olhar para sua boca sem dizer uma palavra. Então, a jovem começou a encarar fixamente Torment, que estava parado no escuro prestando atenção nos lábios dela. Ela falou baixo:

-Algum problema que eu possa... - Ela fez uma breve pausa para pôr o dedo polegar na boca e levá-lo até sua saia curta, gemendo mais baixo ainda: -...Resolver?

Torment deu mais uma olhada na mulher, quieto. Então ele desceu o morro asfaltado, tapando seu rosto, enquanto dizia:

-Eu... Não tô atrás disso aí, não.

Ele continuou, indo até uma loja por perto, estalou os dedos e pediu à moça:

-Se eu tirar um dinheiro daqui e te der, você promete que não vai falar nada do que rolou aqui?

-...Nem uma palavra, querido.

-Eu tô acreditando em você. - Disse Torment, abrindo as mãos e tentando tirar mais explosões de suas mãos.

Ele conseguiu controlar a explosão da mão direita, porém sua mão esquerda expeliu um fogo extenso. De qualquer forma, ainda foi melhor do que na última vez. Torment entrou correndo, pela porta arrombada e tirou dinheiro físico de uma máquina com a mão direita. Foi algo um pouco estranho, pois ele não via cédulas há muito tempo.

Ele saiu devagar, ainda desanimado, da loja de eletrônicos, que estava pegando fogo. Eram coisas de valor, mas ele não se importava com isso, até porque ele não iria encontrar nenhum uso para elas se ele quisesse roubar algumas. Ele tentou não olhar para a garota de programa, mas não conseguiu desviar seu olhar do decote em sua roupa. Então, ele colocou quase todas as notas na mão esquerda, deixando quatro aleatórias na direita, para entregá-las à mulher. Fechar a mão foi algo difícil, pois, aparentemente, explosões grandes deixavam suas mãos ardendo; de qualquer jeito, ele aguentou a dor de fechar a mão e entregou o dinheiro nas mãos da mulher de uma vez. Ela olhou para o dinheiro e aumentou o tom de voz:

-Quatrocentos dólares?! Cacete, com tudo isso eu te faço uma semana inteira de graça!

Torment achou uma proposta tentadora. Ele era virgem, e todos os seus antigos amigos já haviam perdido a virgindade. Era um ponto frágil nele, e fazer isso pela primeira vez era algo que, no fundo, ele queria, mas sua "repulsa por mulheres" não o deixava. Quem sabe fosse seu orgulho. Ele começou a dialogar com a jovem, ainda sem revelar seu rosto:

-Sabe, eu sou virgem.

-Qual é a sua idade?

-Vintão. Na real, vinte e um.

-Caramba. Ainda virgem...?

-É, né?

-...Quer, sei lá, perder o cabaço comigo? Tipo, já tá meio que pago.

-Nunca encostei em uma mulher desse jeito antes, acho que não... Você não tem medo de morrer? Você acabou de ver o que eu fiz com aquela loja.

-Não. Não mais. Sabe, minha vida é meio... Complicada, tá ligado? Você não sabe o quanto é difícil ser uma mulher com essa profissão no meio de tanta gente nojenta. Eles te tratam de um...

Ela ficou em silêncio por alguns segundos.

-...Eu não deveria estar falando disso com um estranho que conheci há 5 minutos atrás.

-Heh, é mesmo.

-...É... Se você não quer transar, que tal um beijo?

-... - Torment ficou em silêncio, então a moça o tranquilizou:

-Vai, só de cortesia.

-...Sério?

-Claro que sim, gato.

Ela se arqueou para beijar a boca de Torment, que estava sentado de trás para ela. Assim que ela viu seu rosto, o sistema, apelidado de brainrotter, agiu e explodiu a cabeça dela rapidamente, sem deixar vestígio nenhum e soprando uma grande onda de calor no rosto do garoto. Ele se levantou e abriu um sorriso torto, ironizando e resmungando:

-Mas é claro.

Ele guardou o dinheiro no bolso de sua bermuda e saiu caminhando em direção a sua "casa".

Em um campo gramado e isolado, ele tentou mais algumas explosões.

Primeira. Forte demais, precisou de alguns minutos de descanso.

Segunda. De novo, controlada em uma só mão, dessa vez, a esquerda.

Terceira. Deixou Torment satisfeito. O plano é acertar até ele se convencer de que vai continuar com essa missão.

Quarta. Fraca demais. Foi uma brasa. Embora não fosse muito poderosa, ainda era muito interessante, pois mostrava que além de explosões fortes, Torment também poderia fazer fogo, em ações mais específicas e precisas.

...

03:58 da manhã.

Trigésima sétima. O nariz de Torment estava sangrando, e o outro conjunto de roupas que ele havia pego também estavam queimadas. Suas mãos continham algumas feridas de queimaduras. Ele estava bem cansado, então decidiu sentar em algum lugar um pouco mais longe do calor intenso de todas as explosões.

Não foi muito longe, pois ele gostou da temperatura morna que estava a 7 metros da origem delas. Torment olhou para cima e viu algumas estrelas. Não eram muitas, pois haviam nuvens ocultando várias delas. Mas a Lua estava aparente, e linda. Isso o trouxe calmaria, uma coisa que os dias recentes não lhe deram. Ele sentiu o vento ao redor ficando mais fresco. Era algo muito bom, pois isso mostrava claramente a paz que aquele momento estava trazendo ao garoto. Ele sorriu, finalmente, alegre. Ele pensou em Nate, mais uma vez. E se o governo fosse atrás dele? Aparentemente já foram uma vez. Mas, por que fazer isso com uma criança? Ele merece o futuro. Ele merece sentir a Lua banhando em luz seu semblante feliz. Nate é o futuro. O futuro em que deu tudo certo.

Contos da Tormenta [¼]Where stories live. Discover now