Algum tempo depois.
Nate, Fauna e Torment estavam sentados à mesa de jantar de Yui, que estava na cozinha. Esta, por sua vez, não estava fazendo nada além de conversar sobre os "intrusos" com Adora e Jonathan. Os seis estavam nervosos, cada um com seus motivos. Torment pediu a Nate:
-Me diz aí: você prefere lamber um picolé com gosto de rola ou uma rola com gosto de picolé?
Nate ficou quieto. Ele nunca havia comido um picolé e não tinha a mínima ideia do que "rola" significava. Fauna achou engraçado, porém seu nervosismo não a deixava reagir.
Adora entrou na sala. Torment estava prestes a se levantar da mesa, mas se assentou de novo. Nate olhou para a careta que Torment fez ao perceber a presença de Adora, e deu muita risada. Yui entrou segurando um prato com pedaços de bolo, de cor vermelha e com uma cobertura amarelada, ainda quente. Se ouvia a respiração ofegante de Jonathan, vinda da cozinha. Ele foi à sala de jantar após alguns segundos de suspiros e silêncio.
Estava um clima muito desconfortável para todos. Torment foi o primeiro a comer um pedaço do bolo. Sua expressão assustada se tornou em contente. Ele elogiou:
-...Nossa, tá bonzão. Quem fez?
Adora levantou um pouco sua mão direita, olhando fixamente para suas próprias pernas. Torment disse:
-Poxa, eu gostei mesmo!
Adora deixou escapar um sorriso de canto de boca. Mesmo tendo medo dos meninos, seus elogios ainda conseguiam aquecer seu coração gélido.
Após ouvir que o bolo estava bom, Fauna se rendeu à sua fome e comeu. O sabor carregava uma estranha nostalgia. Estranha, porque o conforto que ela sentia não vinha junto com nenhuma memória específica. Ela engoliu o que havia em sua boca e pediu:
-É de quê?
Adora respondeu apreensiva:
-Sabe... Red Velvet? É... é tipo isso...
Red Velvet. A palavra também arrancava nostalgia da alma de Fauna. Sua cabeça doeu. Seus olhos se focaram assustadoramente no pedaço de bolo. Na segunda mordida, esta agora combinada com as palavras que havia acabado de ouvir, Fauna sentiu algo a mais.
Era algo muito esboçado em sua cabeça. Talvez uma memória, perdida nas cores foscas de sua mente indecifrável. Ela via duas pessoas à sua frente, a encarando de cima para baixo com um sorriso aconchegante. Elas e Fauna estavam ao redor de uma mesa.
A consciência de Fauna tentou correr atrás de mais memórias. Faltavam informações e isso simplesmente a deixava desesperada. Quem eram essas pessoas? Por que apenas Red Velvet a trouxe essa memória? Em que lugar estava aquela mesa? Essa cena era tão perfeitamente montada em sua mente, mas não era algo do qual ela poderia se lembrar com carinho.
Assim, uma melancolia forte recaiu sobre a mulher. Não cabia em seu coração, ocupado por sangue, e nem em seu cérebro, atormentado por desespero; portanto, lhe escorreu pelos olhos. Eram poucas lágrimas, mas carregavam todo o peso das dores de Fauna.
Nate viu aquilo e se espantou. Torment tocou gentilmente o braço de Fauna, como se estivesse tentando a tranquilizar. Obviamente, a situação quebrou o clima horrível que se instalara ali. Yui achou estranho. Suas primeiras impressões em relação aos três não eram muito boas, mas ver os meninos se sensibilizando por Fauna era algo que contrariava tudo o que ela pensava deles.
Adora encarou os três. Mesmo tendo medo dos três, ela ainda sentia empatia por Fauna. A julgar pela aparência do grupo, ela poderia muito bem dizer que eles vinham passando por maus bocados. Jonathan, como de costume, não expressou nenhuma reação além de mais nervosismo.
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Contos da Tormenta [¼]
General FictionEm um mundo onde uma vida dá um lugar à outra, um jovem indeciso faz mais barulho do que deveria. À ressonância de todo esse barulho, se dá o nome de contos da tormenta.