Alguns minutos atrás
Eu e Thomas não tínhamos o que conversar, estávamos guardando energia que ainda poderia existir nos nossos corpos famintos, Thomas sentia seus pulsos latejando pela força em que a corda prendia seu corpo à parede inclinada do sobrado, eu conseguia ouvir seus grunhidos regulares durante a madrugada, mas não ousei olhar para ele, não queria ver a sua dor, já não bastava ouvir. Enquanto eu apenas olhava para um ponto qualquer em minha frente, sentindo minha pele rígida dentro daquela calça, a jaqueta que Thomas tinha me emprestado cobria apenas meus braços, o peitoral estava frio com o sereno da manhã que subia rapidamente. Levantei o olhar, vendo as nuvens clareando conforme o dia subia, inclinei minha cabeça para trás, na esperança de relaxar os músculos, não consegui pregar o olho, não estava mais assustada, toda a dor que tinha sentido foi o suficiente, estava apenas preocupada.
— Você está se sentindo melhor? — Thomas falou depois de um tempo, sua voz grave estava baixa, como se tivesse um escudo em volta do seu corpo, impedindo que eu pudesse ouvi-lo, mas apenas direcionei meu olhar para ele, analisando seu rosto sombrio com o cansaço.
— Tanto faz, não vou me sentir melhor enquanto tudo isso não tiver terminado. — Eu estava sendo totalmente sincera, não conseguia definir uma sensação digna, como se tudo que eu tivesse sentido antes, foi apenas um sonho, o choque que levei, foi como se eu estivesse caindo para o mundo real. — Não sei o que mais me assusta, não saber o que pode estar acontecendo no instituto, ou ficar aqui, esperando que alguém venha nos salvar, talvez milagrosamente apareça um prego na minha cadeira para eu tentar me soltar.
— Bem, você está melhor do que eu imaginei. — Thomas suspirou e esticou seu corpo para frente, tomando coragem de usar sua única força para puxar a corda e se soltar. — Seu humor ainda está aí, espero que a bondade também esteja.
— Está de brincadeira? Acha que eu vou ser boazinha depois de tudo que eu passei? — Perguntei estreitando o olhar e analisando sua expressão se diluir em uma risada fraca. — Qual é a graça?
— Não quero que seja boazinha com eles, eu falei sobre você ainda ter o coração doce, esse sorriso que me instigou. — Fechei os lábios em uma linha reta e desviei o olhar, ele só queria que no final eu ainda tivesse a chance de ser feliz como merecia, seria difícil conseguir isso, mas eu tentaria. — Depois de conhecer sua mãe, tenho certeza que você puxou essa sua doçura dela... A audácia e teimosia talvez seja de seu pai, presumo. — Revirei os olhos, seguindo meu olhar para o gancho que prendia a corda de Thomas balançar quase que inexistentimente.
— A teimosia veio da minha mãe, meu pai é... Calmo e extremamente educado com todos, talvez ele gostaria de você. — Thomas parou de se agitar e mirou o olhar intrigado para mim.
— Talvez? Quais são as chances de ele me odiar?
— Muitas. — Thomas fez uma careta e voltou a sacudir seu corpo, com dificuldade por estar na ponta dos pés.
— Como se eu um dia fosse conhecê-los como queria... — Suas palavras soaram baixas, mas consegui ouvir perfeitamente, como se fosse sua intenção, suspirei profundamente e abaixei o olhar, esperando que ele pudesse dizer mais alguma coisa.
— Se sairmos vivos, talvez você possa ensiná-lo à... Lutar. — Eu não queria que meu pai se envolvesse nessas coisas, muito menos minha mãe, mas eles formariam uma dupla imbatível. — Eu tenho esperança de que iremos sair daqui, afinal você é o herdeiro do Instituto. — Thomas voltou a me olhar, incrédulo, como se tivesse esquecido dessa informação.
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A Vingança De Alessandra Bianchi | AVAB | 1º Livro REVISANDO
AléatoireAlessandra foi sequestrada e abusada por exatos dez meses, que mais parecia anos lentos e torturantes para ela, mas pela sorte do acaso, conseguiu fugir das garras de Mark, o líder do tráfico de garotas. Porém, pensando que iria alcançar a liberdad...