Capítulo 2

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Respirei fundo, dessa vez o ar parecia limpo, então meu pulmão inspirou o máximo possível, levei minhas mãos indiretamente até meus olhos, esfregando a pele sensível da pálpebra, eu sentia como se meu corpo estivesse leve, a luz do cômodo parecia mais fraca, então tomei coragem para abrir meus olhos lentamente, a lâmpada era branca, diferente da lâmpada amarelada que eu costumava ver durante esses últimos meses, olhei ao redor com curiosidade, as paredes eram brancas, do lado esquerdo tinha uma poltrona vazia, uma bancada ao lado com roupas e algumas outras coisas que eu não conseguia identificar, um nicho na parede era preenchido por vasos pequenos de flores artificiais, do lado direito, tinha mais uma poltrona, do lado da cama em que eu estava deitada, tinha um equipamento médico, uma bolsa de um líquido transparente pingava no pequeno cano que seguia até meu braço, provavelmente injetando soro em meu corpo, atrás da bolsa de soro, tinha uma máquina que contava meus batimentos cardíacos, pulsava devagar, formando aqueles riscos identificando que eu estava viva e... Calma.

Há quanto tempo eu não estava calma, nem sabia quando eu iria me sentir assim novamente, eu nunca perdi a esperança, o medo nunca deixava, era desesperador imaginar que antes de eu desmaiar, estava na mata, fugindo de todo meu trauma, mas ele ainda está aqui, me impedindo de me sentir realmente segura, assim que me toquei que estava em um lugar diferente, me levantei bruscamente, sentando na cama, o cobertor era fino e branco, assim como tudo ao meu redor, olhei para minhas mãos e aquela sujeira havia sumido, até meus ferimentos estavam tapados com bandaids de um tom mel.
Em meu dedo indicador, tinha um objeto que prendia bem na ponta da unha, como se fosse um prendedor de roupas, acho que media minha pressão, eu não gostava de hospitais, sentia medo de não conseguir sair, tirei o cobertor sobre meu corpo e pisei no chão, meus pés estavam inchados, talvez pelo soro, ou pelos ferimentos, eu usava um vestido largo azul bebê de hospital, as costas eram nuas, presas apenas por uma fita que amarrava minha cintura, como um cinto. Era melhor que as roupas que eu era obrigada a usar, pois ao menos tapava meu corpo, mas ainda sim eu me sentia simplesmente horrível com aquilo, era como se eu estivesse grávida, levei meus dedos até aquele cano fino que levava as pequenas gotas do soro até meu sangue, eu iria arrancá-lo, mas a porta abriu, revelando um rapaz que vestia roupas pesadas de couro preto, seu cabelo era cheio e escuro, levemente arrepiado, assim como eu imaginava que meu cabelo estaria agora, seus olhos eram escuros, talvez pretos, parecia ter uma intensidade ali, mas desviei o olhar. Ele se aproximou de mim, seus passos firmes pararam em minha frente, respirei fundo sentindo meu corpo se arrepiar com sua presença, ele exalava um tipo de poder que eu não conseguia decifrar, levantei o olhar, percebendo que ele tinha pequenos fios da barba que crescia pelo seu queixo, suas sobrancelhas eram cheias e escuras, assim como seus olhos, o brilho no olhar dele, me fez recordar de quando fui resgatada e aquela iluminação me engoliu por inteira. Eu não sabia que um acompanhante poderia entrar no quarto e tirar o soro do braço do paciente como se estivesse em casa, afinal um hospital tinha suas regras de segurança e higiene. 

- Está se sentindo melhor? - Aquela voz, era familiar, certamente o mesmo rapaz que me encontrou. Mantive meu corpo inclinado para trás, deixando uma distância entre nós dois, era difícil confiar em alguém depois do que me aconteceu.

- Não sei, você me levou ao hospital? - Minha pergunta soou como uma resposta irônica, olhei  ao redor mais uma vez, desviando o contato visual, antes que ele pudesse me responder, senti suas mãos tocarem em meu braço, recuei, me afastando dele, como um instinto de proteção.

- Olha eu sei que você está assustada, mas precisa se recuperar logo. - Dessa vez, deixei com que ele pegasse em meu braço direito, com uma agilidade desconfiável, ele tirou o cano fino que levava o soro até minha veia, puxou devagar, trazendo com si um rastro de sangue, que iria começar a espalhar rápido, se não fosse pelo bandaid redondo e pequeno que ele colou no lugar onde a agulha furou.

A Vingança De Alessandra Bianchi | AVAB | 1º Livro REVISANDOOnde histórias criam vida. Descubra agora