- Alessandra você conhece esse rapaz? - Thomas apertou o meu braço, tentando me acordar daquele transe, mas não era tão fácil assim, eu estava totalmente distraída, a pessoa que eu tanto quis abraçar, que me confortasse, estava em minha frente, o que eu poderia fazer com isso? Eu não sabia nem o que dizer.
- É o Marcos...! - Minha voz saiu fraca e rouca, não percebi que a vontade que eu senti de chorar já estava enchendo meu peito, eu estava realmente desligada, como Thomas havia dito, se Marcos quisesse atirar em mim ou me bater ali mesmo, eu deixaria, não elevaria a respiração ou piscaria, mesmo sabendo que essa seria a última coisa que ele faria comigo, em base de todas as vezes que ele me protegeu de um acidente simples ou grave. Como a vez em que eu estava na praia com minha família e ele corria atrás de mim, dando risada pela minha bunda estar toda manchada de areia e minha cara estar branca pelo protetor solar, eu corria em direção ao mar, aquele dia estava muito quente, eu precisava sentir as ondas batendo contra meu corpo e me empurrando para a areia, a água salgada entrando pela minha garganta e me fazendo cuspir sentindo nojo. Até eu acabar prendendo o pé na areia, aquela praia sempre tinha redemoinhos na areia que poderia prender o pé de qualquer pessoa e naquele momento aconteceu comigo, mas eu tinha apenas treze anos minha altura estava ainda menor que atualmente, as ondas estavam grandes e grossas, o pico do dia, o sol queimando a pele de todos, causando um bronzeado bonito, feio ou avermelhado. Eu tentava de todo jeito soltar meu pé, até afundar a cabeça na água e puxar minha perna, pegar impulso ou até mesmo gritar, mas a onda que passava em cima de mim sempre abafava o som da minha voz, me fazendo engasgar e ficar tonta pelo medo e cansaço que estava consumindo meu corpo, a qualquer momento eu iria ficar com cãibra nas pernas, mas Marcos foi mais rápido e nadou até mim, segurou meus braços com força e me puxou para cima, trazendo meu pé dolorido e inchado pela pressão que a areia colocou contra mim, meus olhos estavam ardendo pelo sal da água, além da garganta que parecia coçar a cada vez que eu engolia a água quando tentava gritar. Se não fosse por ele, talvez eu teria me afogado e as ondas sempre iriam me esconder da vista de qualquer pessoa, foi um dia traumatizante, mas demonstrou que eu podia sempre confiar em Marcos, ele sempre me salvava, não importava o que fosse, poderia ser de um namorado tóxico, um afogamento, uma bicicleta com o freio quebrado, qualquer coisa, ele estava lá para me proteger, talvez por isso que meus pais apoiava tanto a nossa amizade, além de que eles sempre gostavam de quem me fazia feliz e ele era a pessoa que me fazia feliz, sempre me causando sorrisos e uma risada gostosa de se ouvir.
- Então o dia que você foi na entrevista de emprego, você finalmente conseguiu a vaga? - Marcos se aproximou, levantando a mão em minha direção e tocando seus dedos no logo do uniforme que eu usava, assim como Thomas. - Espera, você está trabalhando no Instituto de São Francisco? - Ele era inteligente, calculava os fatos, juntando as peças e percebendo que eu e Thomas usávamos o mesmo uniforme, ele conhecia o instituto, isso já bastava para saber onde me encontrar, mas Thomas não permitiu que eu dissesse nada, mesmo que eu nem conseguiria, apenas deixei que ele me puxasse para trás evitando o contato de Marcos.
- Temos que ir, lembra do que eu falei? Precisamos estar lá antes do almoço. - Ele evitava dizer meu nome ou o instituto, não queria dar certezas para Marcos que eu estava lá, ele achava que era uma pessoa perigosa que poderia me causar mal, ou talvez estava apenas tentando protegê-lo. Deixei que ele me levasse para longe, mesmo vendo o olhar franzido de Marcos me seguindo com cautela, ele parecia não acreditar que tinha me visto. Será que ele não sabe que eu passei por tudo isso? O desaparecimento ou a morte que meus pais acreditam.
- Tudo bem, vamos. - Virei-me de costas, deixando Marcos para trás, eu não podia dizer nada, ou se quer abraçá-lo, precisava que ele se mantesse seguro e pra que isso aconteça eu não podia falar com ele, não podia demonstrar afeto, qualquer olhar alheio poderia calcular que ele era importante para mim, qualquer pessoa que viu minha reação deve ter pensado que fiquei com medo, já que eu não sorri ou falei palavras doces. Thomas empurrava o carrinho enquanto segurava meu pulso com a mão livre, descendo a rua inclinada até onde o novo veículo estava estacionado, o restante do grupo vinha do outro lado com sacolas nas mãos, cada um levava cerca de cinco sacolas em cada braço, provavelmente os alimentos. Enquanto colocávamos as nossas compras dentro do veículo, de forma que não atrapalhasse ninguém a se sentar ou que não caísse derrubando tudo, eu via que Marcos me olhava do outro lado da rua, guardando na memória todos os detalhes de minha presença.
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A Vingança De Alessandra Bianchi | AVAB | 1º Livro REVISANDO
RandomAlessandra foi sequestrada e abusada por exatos dez meses, que mais parecia anos lentos e torturantes para ela, mas pela sorte do acaso, conseguiu fugir das garras de Mark, o líder do tráfico de garotas. Porém, pensando que iria alcançar a liberdad...