"Eu posso sentir seu sangue correndo em suas veias em algum lugar. Ela é só um bebê e seu poder já é lançado em minha direção como ondas de um mar revolto. A Imperatriz da Lua é forte.
Eu não sei onde ela está, onde a Lhuria a escondeu, muitas coisas estão cobertas por uma névoa em minha mente desde o dia em que acordei do meu curto coma e segurei minha filha em meus braços.
Não foi como eu esperava que seria, Ailyn não se parece comigo em nada, nem um mísero centímetro da sua pele grita com o poder da destruição que eu imaginei que ela carregaria. Minha filha é fraca, a mais fraca dentre todos os amaldiçoados. Ela é uma vergonha. Ela não vale o risco que corri para segurá-la em meu ventre. Talvez Fernyan não seja tão forte quanto eu pensei que fosse, talvez outro homem...ou talvez seja apenas a minha sina. Um castigo por tudo.
Mas eu não acredito em castigos, e Ailyn não é o meu.
Ela é apenas mais uma pessoa, apenas mais uma mulher manipulável. Ailyn vai crescer sabendo o quão inferior é, o quanto ela é um erro e uma vergonha. Minha filha não carregará sequer meu sobrenome, ela não é nada para mim. Ela é insignificante.
Mas a Imperatiz da Lua não é. Seu poder é como um inseto irritante em meu ouvido. Ele está ali, rondando minha cabeça, me estudando. Ele está me avisando o que estar por vir e eu não sei traduzir seus murmúrios. Se eu acreditasse em castigos, esse seria o meu. Ter ela murmurando em meus ouvidos e ser incapaz de compreender seu chamado.
Essa será a última página que eu escrevo, o ar tem ouvidos, o fogo tem olhos, ela está aqui, em todos os lugares. Eu posso sentir.
A rainha da luz não irá ter vantagens sobre mim, ela não vai saber minhas fraquezas.
Você será destruído, suas páginas reduzidas a nada...todos os meus segredos virarão pó junto a você. A ama de minha filha, Mália, será incumbida dessa tarefa, você não pode ser queimado, não quando ela pode manipular o fogo. É seu fim e eu não irei lhe agradecer por me ouvir por todos esses anos, você deveria me agradecer por te tocar sem te destruir.
Adeus"Deixei o diário da rainha jogado na pequena mesa ao lado da grande janela do meu quarto, os primeiros raios da aurora iluminavam com sua luz pálida o topo congelado da Montanha Renascença.
— O último dia — sussurrei.
Olhei o sol que se levantava, uns poucos raios atravessavam as grossas nuvens que encobriam o céu. Elinor estava por perto, as nuvens eram dela, o inverno na Lhuria estava quase no fim, nuvens pesadas como aquelas não eram vistas à semanas e as primeiras flores começavam a brotar no chão gelado. A renovação que vinha com a nova estação.
Olhei novamente para o diário com a capa em couro negro. Passei a noite lendo cada palavra e nenhuma me deu sequer uma informação que eu já não soubesse. Nenhuma me deu uma luz de como matar Elinor.
Lágrimas vieram aos meus olhos quando olhei para a grande cama atrás de mim.
Amber entrelaçava seus pequeninos braços ao redor do pescoço de Henri, Anthony se enrolava nos pesados cobertores buscando calor e ressonava suavemente, sorrindo docemente entre um sonho e outro.
Ao lado deles, deitando em um berço e balançando as mãos rosadas, Aurora olhava para o teto com seus olhos de cores diferentes, grandes e redondos. Um verde, outro azul, ambos que ontem, na última noite de lua cheia do mês, reluziam em um bonito lilás.— Você vai cuidar deles por mim, não vai? — sussurrei quando retirei minha filha do berço branco, segurando seu corpo bem enrolando em um grosso manto revestido com pele de lobo branco em meus braços.
Seus olhos se voltaram para o meu rosto e uma leve sombra de sorriso pareceu pairar sobre seus lábios.
— Seus irmãos também são fortes, mas você é a que possui o coração mais selvagem, eu não sei como, mas sinto isso — passei meus dedos da mão livre pelos seus cabelos louros avermelhados — talvez eu não volte, talvez essa seja a última vez que eu lhe vejo, minha princesinha, guarde para sempre o meu amor em seu coração, Aurora, saiba que eu sempre te amei e amei toda nossa família. Seja forte e seja feliz.
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Imperatriz da Lua
FantasyA paisagem congelada era um fiel retrato do coração de Ailyn Bernardi, uma jovem princesa do reino de Salim, com uma aparência unicamente exótica e um precioso dedo livre de um anel de compromisso. Inconformada com o destino que lhe aguardava, mais...