CAPÍTULO 31

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Sentia a brisa acariciando minha pele.
Sentia algo gelado correr pelo meu corpo, junto ao meu sangue, anestesiando todo ponto de dor, permitindo que o ar entrasse em meus pulmões de forma suave e revigorante.

— A consciência dela está voltando — uma voz ecoou em minha mente, suave, marcante, feminina e desconhecida.

Ela está bem? — uma voz mais grossa perguntou. Senti sua aproximação rápida e agitada.

— Sim, seu corpo desligou para poupar sangue. Mas agora está bem, ela é forte, nós temos uma boa líder.

— Graças a Lua.

Christian. A voz masculina era de Christian.
Tentei mover meu corpo, abrir minhas pálpebras e olhar para meu irmão, ver se ele estava bem e inteiro.
Mas não consegui.
Minha mente estava acordada, mas meu corpo dormente, só sentia o frescor correr pelas minhas veias e a dor e o cansaço dar lugar a uma força revigorada.

— Se acalme, querida.

Uma mão acariciou minha cabeça, colocando uma mecha de cabelo atrás de minha orelha. Seu toque era gelado e suave.
Tentei me mover novamente, mas nada aconteceu. Tentei encontrar meus elementos, mas a sensação fria do ar e quente do fogo não se manifestaram. Comecei a me desesperar, presa dentro da minha própria mente.

— Por favor, Héstia, mantenha a calma. Você já vai conseguir abrir os olhos. Deixe-me terminar o meu trabalho, seu corpo precisa se recuperar.

Sua voz não estava mais tão suave, seu tom era de repreensão e eu me senti como uma criança que saiu na chuva após se curar de um resfriado.
Era difícil, mas tentei manter a calma, tentei fazer o que a estranha me pediu, mas apenas porque sabia que meu irmão estava ali, que se ele confiava na desconhecida, eu podia confiar.
Senti seu toque percorrer todo o meu corpo, se demorando mais nos pontos onde me lembrava que antes estavam feridos. Senti cada músculo parar de doer e meu sangue correr em minhas veias cada vez mais gelado. Por fim, suas mãos delicadas chegaram em minha cabeça, espalmando minha testa.

— Pronto querida, abra os olhos.

Sua voz tinha voltado a ser doce, mas continuava autoritária.
Vagarosamente movimentei minhas pálpebras, testando se elas obedeciam meus comandos e, se não estivesse deitada, pularia de alegria e alívio ao perceber que elas faziam o que eu mandava.
Todo meu corpo tinha voltado a me obedecer.
Abri meus olhos lentamente, me preparando para defendê-los da claridade, mas fui pega de surpresa por um céu estrelado e uma noite fresca e silenciosa.
Olhei para os lados vagarosamente, Christian estava sentado em um toco de madeira, me fuzilando com seus olhos curiosos e preocupados, mas me concedeu um pequeno sorriso quando voltei meu olhar para seu rosto.
Continuei olhando a minha volta, uma árvore frondosa nos dava cobertura e uma fogueira fora acesa no centro, o crepitar do fogo era reconfortante e o cheiro de comida fez meu estômago roncar.

— Logo servirei uma refeição — a mesma voz feminina falou novamente, o som vindo do lado oposto de onde Christian estava.

Virei minha cabeça em sua direção e me deparei com uma senhora de cabelos brancos como a neve, pele negra como o ébano que nos cercava e olhos castanhos como pinheiros, seu sorriso parecia as próprias estrelas, de tão brilhante e mágico.

— Prazer, alteza.

Sua voz não condizia com sua aparência, sendo tão doce e jovem. Suave como uma brisa de outono.

— O prazer é meu...

— Carmélia, guardiã da Água.

Ela sorriu novamente e passou sua mão delicada pela minha bochecha.
Meu irmão se aproximou, segurando com cuidado minha mão, a acariciando com seus dedos calejados.

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