Sentia a brisa acariciando minha pele.
Sentia algo gelado correr pelo meu corpo, junto ao meu sangue, anestesiando todo ponto de dor, permitindo que o ar entrasse em meus pulmões de forma suave e revigorante.— A consciência dela está voltando — uma voz ecoou em minha mente, suave, marcante, feminina e desconhecida.
— Ela está bem? — uma voz mais grossa perguntou. Senti sua aproximação rápida e agitada.
— Sim, seu corpo desligou para poupar sangue. Mas agora está bem, ela é forte, nós temos uma boa líder.
— Graças a Lua.
Christian. A voz masculina era de Christian.
Tentei mover meu corpo, abrir minhas pálpebras e olhar para meu irmão, ver se ele estava bem e inteiro.
Mas não consegui.
Minha mente estava acordada, mas meu corpo dormente, só sentia o frescor correr pelas minhas veias e a dor e o cansaço dar lugar a uma força revigorada.— Se acalme, querida.
Uma mão acariciou minha cabeça, colocando uma mecha de cabelo atrás de minha orelha. Seu toque era gelado e suave.
Tentei me mover novamente, mas nada aconteceu. Tentei encontrar meus elementos, mas a sensação fria do ar e quente do fogo não se manifestaram. Comecei a me desesperar, presa dentro da minha própria mente.— Por favor, Héstia, mantenha a calma. Você já vai conseguir abrir os olhos. Deixe-me terminar o meu trabalho, seu corpo precisa se recuperar.
Sua voz não estava mais tão suave, seu tom era de repreensão e eu me senti como uma criança que saiu na chuva após se curar de um resfriado.
Era difícil, mas tentei manter a calma, tentei fazer o que a estranha me pediu, mas apenas porque sabia que meu irmão estava ali, que se ele confiava na desconhecida, eu podia confiar.
Senti seu toque percorrer todo o meu corpo, se demorando mais nos pontos onde me lembrava que antes estavam feridos. Senti cada músculo parar de doer e meu sangue correr em minhas veias cada vez mais gelado. Por fim, suas mãos delicadas chegaram em minha cabeça, espalmando minha testa.— Pronto querida, abra os olhos.
Sua voz tinha voltado a ser doce, mas continuava autoritária.
Vagarosamente movimentei minhas pálpebras, testando se elas obedeciam meus comandos e, se não estivesse deitada, pularia de alegria e alívio ao perceber que elas faziam o que eu mandava.
Todo meu corpo tinha voltado a me obedecer.
Abri meus olhos lentamente, me preparando para defendê-los da claridade, mas fui pega de surpresa por um céu estrelado e uma noite fresca e silenciosa.
Olhei para os lados vagarosamente, Christian estava sentado em um toco de madeira, me fuzilando com seus olhos curiosos e preocupados, mas me concedeu um pequeno sorriso quando voltei meu olhar para seu rosto.
Continuei olhando a minha volta, uma árvore frondosa nos dava cobertura e uma fogueira fora acesa no centro, o crepitar do fogo era reconfortante e o cheiro de comida fez meu estômago roncar.— Logo servirei uma refeição — a mesma voz feminina falou novamente, o som vindo do lado oposto de onde Christian estava.
Virei minha cabeça em sua direção e me deparei com uma senhora de cabelos brancos como a neve, pele negra como o ébano que nos cercava e olhos castanhos como pinheiros, seu sorriso parecia as próprias estrelas, de tão brilhante e mágico.
— Prazer, alteza.
Sua voz não condizia com sua aparência, sendo tão doce e jovem. Suave como uma brisa de outono.
— O prazer é meu...
— Carmélia, guardiã da Água.
Ela sorriu novamente e passou sua mão delicada pela minha bochecha.
Meu irmão se aproximou, segurando com cuidado minha mão, a acariciando com seus dedos calejados.
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Imperatriz da Lua
FantasyA paisagem congelada era um fiel retrato do coração de Ailyn Bernardi, uma jovem princesa do reino de Salim, com uma aparência unicamente exótica e um precioso dedo livre de um anel de compromisso. Inconformada com o destino que lhe aguardava, mais...