Heitor Bernardi
— Como você pôde fazer isso com a minha irmã? — gritei sentindo meu coração bater com força, esquentando meu sangue.
Fergus podia ser meu pai, podia ser o rei de Salim e meu superior, mas naquele momento ele era apenas o homem que tinha condenado a irmã que eu amava. A irmã que implorei a tudo que era mais sagrado para voltar para casa viva, apenas para ser mandada para a guilhotina no dia seguinte.
Estava cego pela fúria. Ela era sua filha, sua única princesa.— Heitor, abaixe o tom de voz. Não quero punir você também, filho. — Sua voz era contida, como sempre, mas seus olhos cintilam em pura raiva e ódio.
— Não me chame de filho, não depois do que fez com Ailyn.
Deixei meu corpo cair sobre a cadeira estofada e olhei as paredes cheias de ornamentos ao nosso redor. Estávamos na sala de reuniões privada do rei, todo o luxo que habitava o cômodo não significava nada para mim, a coroa não era apenas um luxo que eu almejava, era um dever.
— Eu ainda sou seu rei.
Ele se levantou e bateu as duas mãos na mesa de madeira, com a intensão de me intimidar. Mas não aconteceu nada, eu não era mais uma criança, era o herdeiro criado por Fergus, um homem indiferente, treinado para não se abalar em situações como aquela.
— Solte Ailyn — sibilei cruzando meus braços e olhando com intensidade para o meu pai.
— Ela fugiu, ela contrariou tudo o que uma mulher deve ser, ela tem um dragão.
— Ela fugiu porque você a aprisionou. Por quase dezenove anos Ailyn sofreu nas mãos da rainha e você não fez nada. Minha mãe torturou a sua filha emocionalmente embaixo do seu nariz e você não moveu um dedo para impedi-la. Na primeira oportunidade você a vendeu por um pedaço de terra a um homem que matou cinco esposas. Ailyn nunca saiu desse palácio porque você não quis que ela saísse, você sempre viu minha irmã como um objeto.
Os olhos do rei cintilaram em surpresa quando disse tudo que tinha guardado dentro de mim. Eles estavam matando minha irmã dia após dia, e eu era tão culpado quanto eles, nunca fazendo nada para impedir.
— Ela tem um dragão — ele sussurrou depois de um tempo, voltando a se sentar e mantendo os olhos fixos na mesa que brilhava com a pouca luz pálida que entrava pela janela.
— E Elinor não tinha um também? Sua esposa não foi o que vocês taxam como a mulher perfeita. Ela foi uma caçadora, uma guerreira, uma assassina. Foi ela quem proibiu os dragões e mesmo assim subiu ao trono, se casou com o único filho do rei e é considerada a mulher mais incrível que Salim já teve o prazer de conhecer? Por que Ailyn tem que ser julgada sendo que a própria mãe fez pior?
— Porque Ailyn é fraca,Heitor. O que eu fiz foi para salvar Salim, salvar o meu povo e que vai ser o seu povo, eu matei o meu dragão por uma causa maior. Sua irmã é fraca e tudo o que faz é por rebeldia, Ailyn é como as outras mulheres e não deve ter direitos.
Elinor entrou silenciosa como uma leoa, entrando no assunto sem ser convidada, como sempre.
— Ela é sua filha, se não tem amor pelas suas iguais, devia ter por ela. Ailyn só precisa de uma chance, uma chance pra mostrar quanto potencial tem, ela é a princesa.
Estava ficando frustrado com o rumo daquela conversa. Eu só queria libertar minha irmã da morte, não revirar o passado sujo de Elinor.
— A única coisa que sua irmã tinha que fazer era se casar, mas nem para isso ela teve prestígio — Elinor caminhou lentamente até meu pai e passou suas mãos com dedos longos e unhas afiadas sobre seu ombro coberto pelo tecido grosso de sua roupa — Ailyn tem que morrer.
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Imperatriz da Lua
FantastikA paisagem congelada era um fiel retrato do coração de Ailyn Bernardi, uma jovem princesa do reino de Salim, com uma aparência unicamente exótica e um precioso dedo livre de um anel de compromisso. Inconformada com o destino que lhe aguardava, mais...