Sentia como se o frio acariciasse minha pele pelo lado de dentro.
Caminhando lentamente pelas minhas veias, banhando meu sangue e aconchegando meus músculos de forma suave e revigorante.
Não era como o frio da neve, mas sim o frio da água corrente nos rios, fresco, convidativo e revigorante.
Tinha a sensação de já ter sentindo aquele frescor antes, mas não sabia se era apenas uma fantasia da minha mente ou um acontecimento real do meu passado.
Não conseguia mover meu corpo, estava paralisada, sentindo apenas a dor pouco a pouco consumir lentamente cada parte de mim, sendo amenizada apenas pela sensação refrescante que corria pelo meu sangue. Minha mente estava desligada e meus pensamentos estavam lentos, localizados em uma única parte da minha cabeça que latejava e doía.— Ela está bem? — Ouvi um sussurro, um sussurro tão baixo que tive dificuldade para entender o sentido das palavras.
Senti um toque em minha pele, mas não consegui indentificar em que parte do corpo, tudo estava diferente e igual ao mesmo tempo, como se minha mente estivesse em um corpo que não fosse o meu.
— Não, mas vou fazer o possível para ela ficar. Dessa vez nós quase a perdemos. — Daquela vez o sussurro me atingiu de forma mais alta e mais nítida, meus ouvidos conseguiam entender as palavras, mas não conseguiam indentificar de onde vinha a voz ou quem estava falando.
Era como estar perdida dentro do meu próprio corpo, vagando por labirintos intermináveis sem encontrar a saída.
Um solavanco ao meu redor fez uma dor aguda se espalhar em ondas por todas as partes, sugando minha energia e aumentando o cansaço que só naquele momento eu percebi que sentia. Estava exausta, até mesmo respirar me custava uma força que não tinha, causando ainda mais dor.
Dor, a única sensação que era sentida pelo meu corpo, até mesmo o frescor de antes tinha desaparecido, consumido pela ardente queimação gelada.— Ela está recobrando a consciência, mas não vai acordar sozinha dessa vez. Vou ter que ajudá-la.
Então novamente o frescor tocou minha pele, se concentrando no único ponto vivo em meu corpo, o ponto onde meus pensamentos eram formados.
— Acorde, querida, seja forte como da última vez — a sensação passou de fresca para gelada quando ficou mais intensa — vamos, Héstia, desperte. Desperte como você despertou a cavaleira dentro de você.
Eu tentava, mas não conseguia.
Não conseguia sentir meus membros, nem minha pele, nem meu corpo. Nada. Apenas a dor e meus pensamentos sendo congelados, congelados como os mares de Salim.
Sentia desespero, sentia agonia e sentia meu corpo perder ainda mais as forças que tinha, meus pensamentos se tornaram mais lentos e até mesmo a dor cessou, deixando o silêncio e a escuridão reinarem sobre mim.— Pela Lua, ela está piorando, ela vai morrer desta forma, chamem Destroyer! — o sussurro foi dito com um tom muito mais alto e urgente, mas as palavras se embaralharam em minha mente e viraram ecos que bateram nas paredes do meu crânio, exalando ondas de dor por toda minha cabeça.
Senti tudo girar e a dor aumentar, meu corpo parecia cair mil vezes, bater contra paredes por incontáveis vezes, quebrando meus ossos e torcendo meus nervos.
— Ela está convulsionando, Steffan, preciso que faça seu corpo paralisar agora.
Então a dor cessou novamente e minha cabeça girou mais uma vez. Eu não aguentava mais aquilo, não aguentava mais a dor indo e vindo a todo o tempo, queria que ela parasse de uma vez ou continuasse até meu corpo perecer. Queria morrer.
— Eu estou aqui, filha, fique comigo.
Olhos cor de mel invadiram meus lentos pensamentos, formando uma única imagem nítida em minha mente. Pai.
Tentei mover minhas mãos e procurá-lo, tentei me agarrar ao seu corpo e pedir que me tirasse daquele lugar e levasse meu sofrimento. Tentei sussurrar seu nome e pedir socorro, perdir para que me salvasse da minha própria mente.
Mas nada aconteceu, não conseguia comandar meu próprio corpo, minha própria voz.
O desespero voltou a tomar conta de mim e senti gotas molhadas escorrerem pelo que imaginava ser meu rosto, fazendo uma dor ardida se alastrar.
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Imperatriz da Lua
FantasyA paisagem congelada era um fiel retrato do coração de Ailyn Bernardi, uma jovem princesa do reino de Salim, com uma aparência unicamente exótica e um precioso dedo livre de um anel de compromisso. Inconformada com o destino que lhe aguardava, mais...