CAPÍTULO 34

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Se antes a tenção já se alastrava pelo ar como uma neblina pegajosa, depois da morte de Lucas virou uma espessa parede sólida que mantinha cada um de nós presos em seu centro.

— Você sabia que isso ia acontecer mais cedo ou mais tarde, querida.

Tia Cássie terminou de prender meus longos e pálidos cabelos em um coque elaborado, retocando logo em seguida o batom avermelhado em meus lábios.

— Eu não queria que fosse assim, tia. Não queria me casar com ele, mas tão pouco queria que a morte fosse seu destino. 

Suspirei tocando o os cristais que brilhavam sobre a luz dos candelabros. 

— Esse foi o último tratado que seus pais fizeram, Héstia, o honre como uma verdadeira rainha. Nem será mais um sacrifício para você se casar com um Gohann. 

— Claro que será um sacrifício, Cássie! Eu vou me casar com o irmão do meu falecido noivo. 

A encarei com descrença nos olhos. Pela Lua, como Cássie podia ser tão insensível.

— Héstia, você traia Lucas em vida, não se faça de noiva em luto agora, pois você não é. Você ama Henri, não dificulte as coisas agora, já estão complicadas de mais. 

Cássie me deixou paralisada no meio do meu quarto e foi embora, deixando um rastro do seu perfume adocicado e cítrico para trás.
Suas palavras feriram meu ego profundamente pelo simples fato de serem verdadeiras.
Eu traia meu prometido, o noivo que deu a vida por mim.
Pela Lua, eu traia meu futuro marido com seu próprio irmão.

Me ajude, mamãe, esclareça minha mente com a sua justiça. 

Olhei para a Montanha Renascença, para o seu topo onde o jazia o corpo da mãe que nunca conheci, Celeste a Justa, a última imperatiz que Aridon teve o prazer de conhecer, a última a pisar naquela terra antes do sangue voltar a jorrar pelo chão, levando a paz consigo no dia de sua morte.
A lua tocou as pedras, espalhando seus raios luminosos, tão redonda quanto a pérola mais perfeita. Em seu centro podia ver a silhueta de Lucy matando Cíntia em sua forma bestial. Lucy.

— Atenda meu pedido pioneira, pela Lua, Primeira Cavaleira, venha ao meu encontro.

Olhei para a lua com meu coração ficando cada vez mais apertado. Eu estava perdida dentro da minha própria mente, presa entre a culpa e a vontade de viver finalmente ao lado de Henri.
Queria tê-lo ao meu lado, mas ao mesmo tempo não queria olhá-lo nos olhos, por ver ali seu irmão. Eu amei o irmão errado e pagava pelo meu erro com minha própria sanidade, minha própria paz.
Senti uma lágrima rolar pela minha face quando abaixei meu rosto, vendo uma imagem embaçada dos meus dedos pálidos e finos.

— Não chore, minha querida, não faça do amor seu pior castigo, não transforme a beleza da paixão em ruínas que amargamente te destruirão.

Uma voz mais suave do que do que a brisa que nos cercava se pronunciou atrás do meu corpo, trazendo quase de imediato uma certa sensação de calmaria ao meu coração.

Lucy — sussurrei antes mesmo de me virar para encarar a Primeira Cavaleira.

Sua energia era exclusivamente única, de tal modo que eu sabia exatamente que ela havia atendido meu pedido.

— Você veio.

Sorri ao olhar seus olhos, antes azuis, em um tom de lilás profundo. A Lua Cheia ainda a afetava.
Seus cabelos, claros e brilhantes como raios de sol, ondulavam a sua volta. Suas roupas brancas e leves se balançavam com delicadeza, seguindo o movimento da brisa.

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