CAPÍTULO 2

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O casulo se mexia lentamente.
Com movimentos simples e suaves a pequenina criatura que ocupava seu interior se esforçava para se libertar e cumprir seu ciclo.
Era uma Borboleta Branca, um ser raríssimo que se reproduzia apenas no auge do inverno, quando tudo se tornava gelo e neve e os dias se tornavam cinzas com a ausência da luz solar. Lendas antigas afirmavam que quem presenciasse a metamorfose e o renascimento da Borboleta para sua segunda vida, alcançaria a salvação em um momento de aflição. E ali estava eu, vendo seu belo e úmido corpo deslizar para fora do que por dias fora seu lar.

- Você está na minha janela favorita, a única que me permite ver além dos muros. Será desta aflição que você vai me salvar?

Seu corpo era completamente aveludado e branco, mais branco do que o pico da montanha mais alta, onde apenas neve pura e vento tocavam. As asas eram mágicas, mesmo indecisas entre os azul mais claro e o branco quase transparente, brilhavam intensamente, como um céu noturno no verão. Era a coisa mais maravilhosa que eu já tinha visto em toda minha vida.

- Você é linda - sussurrei ao vê-la movimentar suas asas, fazendo o brilho ficar ainda mais mágico.

Pouco depois ela levantou voo e se foi, deixando a prisão que eu chamava de lar sem exitar, buscando sua liberdade. A liberdade que me foi tirada.
Um pequeno sorriso ainda brilhava em meus lábios quando o som da porta se chocando contra a parede fez meu corpo se encolher e meu coração bater mais forte.

- Ailyn! - Mália pronunciou meu nome de forma urgente, correndo ao meu encontro com as bochechas vermelhas e a respiração ofegante.

Ela entrou em meus aposentos como uma ventania forte de outono, me forçando a segurar com força seus ombros e ordenar olhando dentro dos seus olhos azuis:

- Mália, por tudo que é mais sagrado, se acalme!

- Eu não acredito que você ainda não está pronta - ela se soltou do meu aperto e correu em direção aos meus vestidos - Elinor está quase pedindo minha cabeça em uma bandeja de prata, o que você estava fazendo?

- É só mais um jantar.

- Não é apenas mais um simples jantar, menina tola. Vamos, venha vestir isso antes que seja tarde de mais.

Seus olhos apavorados tocaram o fundo dos meus quando ela olhou para o meu rosto e eu pude sentir uma lâmina banhada em medo cortar minha alma.
Algo estava acontecendo.

- Mália? - sussurrei sentindo a palavra arranhar minha garganta seca enquanto me aproximava lentamente da minha dama de companhia, da minha mãe.

- Seu noivo, Ailyn, você está prestes a conhecer o seu noivo.

Um buraco se abriu sob meus pés e senti meu corpo ser arremessado em queda livre por um penhasco. Eu sabia que esse era o meu destino, sempre soube que o casamento era minha única opção...mas tão rápido? Eu sequer havia chegado aos vinte anos e Heitor teria mencionado se ele soubesse que papai estava pronto para usar a principal moeda de troca do reino. Ele teria me alertado.

- Não fique aí parada, Ailyn, me ajude a te vestir.

Depois da ordem de Mália tudo não passou de vultos incompreensíveis e uma crescente sensação desesperadora de vazio. Eu não teria minha liberdade, eu nunca conheceria a vida fora dos muros, sejam estes os muros do castelo ou os muros da residência de meu noivo.
Seria para sempre um pássaro aprisionado em uma gaiola de ouro, impossibilitada de voar, incapaz de cantar.
O vestido longo e pesado, em azul e branco, me deixava ainda mais pálida que o natural, os olhos marcados e delineados se destacavam contra a pele desprovida de cor do meu rosto, principalmente quando uma lágrima brilhante rolou úmida pela pele fria.

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