Imperatriz da Lua

CAPÍTULO 39

As garras de Elinor cortaram o ar gelado, rasgando-o com ferocidade ao mesmo tempo que comandava suas camadas de gelo, envolvendo meu corpo em uma tumba congelada, uma tumba que corroeria minha carne e fazeria pó de meus ossos.
Não conseguia mover meu corpo, vi sua mão se movendo, cada vez mais rápida, mais próxima.
Em um ato de desespero, vendo minha vida prestes a ser ceifada, movi a única parte do meu corpo que não tinha sido congelada, virando meu pescoço para o lado, fazendo as garras mortais de Elinor se afundarem na minha bochecha, rasgando profundamente a carne ao invés de decepar minha cabeça.

— Maldita — ela sibilou.

O sorriso marcado em seu rosto poderia ser comparado facilmente ao de uma fera, era brutal, animalesco e mortal.
Seus dentes levemente pontiagudos poderiam destroçar facilmente minha carne. Ela sabia disso, pois os ostentava, sorrindo mesmo quando o ódio queimava em seus olhos de forma tão intensa que nem mesmo o fogo em minhas veias podia ser tão devastador quanto ele.
Ela se levantou, erguendo seu corpo com a dominância de uma rainha, uma imperatiz.

— Eu entendo que a morte lhe assusta, querida, mas você está apenas atrasando o inevitável. Pare de resistir, Héstia, você não é mais uma criança, tem consciência do seu destino.

— Eu não tenho medo da morte, Elinor, eu a aceito avidamente se isso significar a liberdade e a felicidade do meu povo. Eu morro em paz se souber que consegui concluir minha missão, meu verdadeiro destino.

Minha voz soou baixa e estranha, as palavras não possuíam uma pronúncia perfeita e bolhas se formavam em minha garganta quando o sangue se empossava na minha boca, escorrendo pelo pescoço e adentrando na armadura. O único foco de calor em um corpo totalmente congelado.
Não conseguia conjurar o calor, algo no gelo de Elinor me deixou completamente paralisada, tanto externamente quanto internamente, como uma doença que anestesiava meu corpo parte por parte, até nenhum ponto conseguir ser sentido. Senti até mesmo meu coração bater cada vez mais devagar, se paralisando como o restante do meu corpo.

— Eu nunca imaginei que fosse tão tola. Você está prestes a morrer e se preocupa com o seu povo?

Ela gargalhou e os espinhos de gelo acima de nós tremeram.
Seus olhos dourados cintilaram em êxtase ao olhar o sangue perolado, prateado como um raio de luar, escorrer dos grandes cortes que multilavam minha bochecha e deixavam minha mandíbula exposta.

— É isso que uma líder faz, Elinor. Você como uma rainha a tantos anos deveria entender o que é dar a vida pelo seu povo, é por isso que você nunca deve subir ao trono de Aridon.

Quanto mais eu mexia meus lábios feridos, mais a dor me consumia e mais sangue derramava pelos cortes, fazendo meu corpo perder ainda mais calor.
Seria tão irônico uma princesa do fogo morrer congelada que até mesmo em meus pensamentos não fazia nenhum sentido.
Escutei os passos de Elinor se aproximarem e senti sua mão forte agarrar meu cabelo, levantando minha cabeça e quase quebrando meu pescoço, que se encontrou diretamente com o gelo que envolvia meu corpo, impedido de se mover mais.

— Eu não governo pelo povo, Héstia, eu governo pelo poder. Sempre pelo poder. — ela abaixou seu rosto em minha direção e sorriu ainda mais, destacando seus dentes brancos e pontiagudos — Olhe pra você, minha querida, tão jovem, tão bela e tão tola. Podia ter simplesmente voado para longe de Aridon, fugido de tudo e todos, mas preferiu lutar por um povo que na primeira oportunidade jogaria seu corpo aos lobos apenas para lutarem pelo trono. Você podia viver, mas agora vai morrer por pessoas que não se importam com você, sua beleza grandiosa foi reduzida a nada agora que praticamente metade de seu rosto foi arrancado. Você é frágil, Héstia, apenas uma menina brincando de salvar o mundo. Apenas uma tola brincando de ser deusa em um mundo onde não foi aceita nem mesmo por reles humanos imundos.