CAPÍTULO 16

683 118 18
                                    

Aqueles olhos azuis gelo não podiam pertencer a outra pessoa. Mesmo se Mália tivesse uma irmã gêmea, os sentimentos guardados por anos atrás daquelas íris geladas não seriam iguais. Nem em mil vidas.

— Como — sussurrei dando um pequeno passo em sua direção.

Mália alargou mais o sorriso e abriu os braços, como se me chamasse para o conforto de casa. O único conforto que eu tive de verdade.

— Venha querida.

O sorriso em seus lábios não morreu. Fui até ela e a abracei forte. Seu corpo estava mais cheio de curvas, não tão magro como antes. Seus braços me envolveram com o mesmo carinho de antes, o mesmo amor maternal.

— Como? Você está anos mais jovem! — disse me afastando do abraço e segurando suas mãos, deixando meus olhos percorrerem por seu rosto e seu corpo.

Suas costas não estavam mais encurvadas, seu rosto não tinha mais as rugas de antes, porém os olhos continuavam cansados, exauridos.
Ela sorriu de forma mais aberta e brilhante.

— Eu sou uma guardiã, querida. Não era difícil andar encurvada e manipular o ar ao meu redor.

Eu senti tanto medo de nunca mais ver Mália, de Elinor fazer alguma coisa contra ela depois que eu fosse embora. Tive medo de perder a única mãe que eu tive por toda a minha vida. Mas vê-la lá, uma década mais jovem, sendo uma mulher que eu jamais imaginei que fosse, fez um frio descer pela minha coluna e uma onde de medo fez minhas mãos tremerem levemente.

— Por que isso tudo? Por que não me contou a verdade de uma vez? Todos sabiam e me deixaram sofrer por todo esse tempo.

Seu rosto adquiriu uma expressão bem mais sombria que antes, e a voz que saiu de seus lábios era irreconhecível aos meus ouvidos:

— Foi necessário, minha Luz, doeu em mim, fazer tudo que eu fiz. Perdi muitas coisas nesse tempo — vi seu olhar ir para Steffan discretamente — mas todos temos responsabilidades, tarefas para cumprir. Você nasceu com uma muito grande, precisa entender que não pode ser fraca, se culpar ou culpar outras pessoas pelo seu passado. Nada acontece por acaso, sem um motivo.

— Mas eu queria saber. Podia estar preparada agora — falei desentrelaçando nossos dedos. Suas mãos não me buscaram novamente, como teria feito antes. Ali ela não era Mália, era Cássie.

— Se fosse pra você saber de tudo, não teríamos te levado para Salim, você teria sido criada como a herdeira de Aridon. Não questione querida, você não podia saber e ponto. Agora venha, vamos entrar, está ficando frio. — Ela sorriu de novo, sempre me olhando dentro dos olhos, mostrando que não tinha nada para esconder.

A tarde começava a cair cada vez mais rápida, o vento frio da montanha arrepiava meus pelos quando dançava pela minha pele.
Steffan estava parado, afastado de nós. Ao lado de Desty.

— Vocês sabiam, não sabiam? — acusei dando um passo em sua direção.

— Não exatamente, Cássie esteve fora por todo esse tempo, mas a única coisa que sabíamos é que ela estava em Salim. Esse é um assunto totalmente reservado da família real.

Seu olhar pesou em mim. Como se eu o tivesse acusado de forma injusta, o que era verdade.

— Desculpe. — Abaixei a cabeça.

— Tudo bem.

Sua voz era mansa e tranquila, feliz até. A mulher que ele amava estava de volta, depois de quase duas décadas que ficaram separados.

— Vá até ela depois — sussurrei quando cheguei perto o bastante para ela não escutar.

Seu sorriso iluminaria as noites sem lua.

Imperatriz da Lua Onde histórias criam vida. Descubra agora