CAPÍTULO 42

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O ar era livre. Era essencial, era vida e morte, beleza e destruição. Era indomável.
O fogo era feroz. Era energia, era pureza e devastação, conforto e dor. Era implacável.
E dentro de mim esses dois elementos corriam livres pelo sangue, fazendo meus pelos se arrepiarem e minha cabeça girar levemente.

— Vossa Alteza, Héstia Luz Dallow.

Anunciaram em alto e bom som quando meus pés tocaram o primeiro degrau da longa escada que levaria até o salão. Até onde, depois de alguns passos, ao lado do grandioso trono meu futuro marido me esperava.
Naquele momento eu percebi que éramos completos opostos.
Enquanto Henri era o príncipe da luz, vestindo branco e bronze, eu era a rainha do ébano. Senhora das noites sem estrelas, a coroa flamejante era como as fogueiras crepitantes que aqueciam e iluminavam aquelas noites trevosas.
Os sussurros dos abutres da corte me cercaram, mas ninguém foi audacioso o bastante para olhar em meus olhos, encarar minha face por mais de alguns segundos.
Em meu rosto feições de pedra ganharam vida, nenhum sorriso, nenhuma chama de alegria no olhar. Meus passos eram firmes e precisos. Eu era poder em cada respiração, e fazia questão de mostrar isso a eles.
Senti meu coração ficar descompassado quando os olhos de Cássie se firmaram nos meus e o desgosto era o único sentimento ali presente. Não fúria, não raiva, apenas um congelante e profundo desgosto, como se me ver vestida em preto fosse sua maior decepção.
E era, eu sabia.
Anna desviou o olhar para o próprio vestido negro, feito de tule, que esvoaça com a brisa gélida da noite. Não suportou olhar para mim, para minhas cicatrizes. Para quem eu era naquele momento.
Christian caminhou na minha direção quando cheguei ao último degrau, seus olhos brilhavam em divertimento, mas seus lábios eram apenas duas linhas finas.
Senti sua pele quente sob o tecido branco e prateado que compunha sua requintada roupa quando segurei seu braço para que meu irmão me acompanhasse até onde Henri estava.

— Você está fatalmente deslumbrante. Não esperava nada menos da terrível Cavaleira da Destruição — Christian sussurrou sem olhar diretamente para mim, deixando um mísero sorriso levantar o canto esquerdo de seus lábios.

Meu coração se aqueceu com o gesto. Meu irmão. Meu apoio. O garoto de sorriso fácil que nunca me deixaria afundar sozinha no mar revolto, sempre seria minha salvação. 

— Obrigada — sussurrei de volta e permiti que um sorriso pequeno dançasse em meus lábios.

Pelo aperto que meu irmão deixou em meu braço em forma de resposta, tinha certeza que ele sabia que o agradecimento não era só pelo elogio. Pela companhia. Era por tudo, desde o momento que eu chegara na Lhuria e na vida dele.

— O general está sem palavras.

Meu olhar foi atraído diretamente para o rosto petrificado de Henri e tive que me apoiar mais em meu irmão para meus passos lentos não vacilarem. 
Seus olhos verdes como a grama queimavam, percorrendo cada centímetro do meu corpo, sua mão passou pelos fios ruivos em sua cabeça, bagunçando levemente os cabelos antes perfeitamente arrumados. Sua cicatriz se destacava entre a pele bronzeada pelo sol e a roupa imaculadamente branca.
Meus lábios se abriram para responder Christian, mas a distância entre nós, entre o meu passado e meu futuro iminente, acabou.

— A ame como nunca amou nada neste mundo, general. Ela merece muito mais do que você acha ser o máximo que pode dar. — Foram as únicas palavras que Christian dedicou a Henri antes de se virar para mim e dar um beijo demorado em minha testa — seja forte. Amo você — ele sussurrou.

Meu irmão segurou minha mão e a conduziu na direção da mão do príncipe de Tarack.
Henri inclinou o corpo como em uma reverência e deixou um suave beijo nas costas de minha mão, firmando o olhar no meu logo em seguida.

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