CAPÍTULO 29

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O ar carregava o cheiro de morte.
A neblina da manhã tinha se erguido mais branca e mais densa do que o normal, quase podia pegá-la entre minhas mãos.

— Você está sentindo isso? — Steffan perguntou ao meu lado, colocando suas botas reforçadas.

O mago voaria no acobreado dragão de Alice, Kalon, conjurando feitiços do céu, retirando as forças do exército de Salim.

— Sim, estou — disse.

Virei meu corpo para o norte, onde ficava visível o pico da Montanha Renascença, qual começava a ficar dourado com os primeiros raios do sol.
A energia que fluía por cada brisa fazia meus pelos se eriçarem, ela me acariciava ao mesmo tempo que sugava pequenas moléculas da minha força. Poderia deixar meu corpo exaurido antes mesmo da batalha real começar.
Eu já havia sentindo aquela energia antes, no Jardim Morto de Salim, onde tudo parecia morto e as árvores retorcidas de forma anormal pareciam garras prestes a arrancar pedaços de quem quer que as tocasse. Aquele jardim sugava as forças de quem o cruzasse, até mesmo respirar exigia grande esforço para os despreparados.

Era magia obscura. Elinor.

— Faça um contra feitiço, Steffan, forme uma bolha de proteção entre nós agora.

As palavras saíram atropeladas, arranhando minha garganta e deixando um gosto amargo em minha língua.
Nós já estavamos sendo atacados. A guerra tinha começado.

— Como?

Steffan me olhou com uma expressão confusa e um tanto desconfiada.

— Elinor está nos atacado, se não cortar o feitiço, nosso corpo estará exaurido antes mesmo de chegarmos na fronteira — expliquei apressada e ele assentiu com um mínimo gesto com a cabeça.

Seus lábios se moveram com uma rapidez impressionante, suas mãos faziam gestos e logo eu senti a sensação que sugava minhas forças dar lugar a uma falsa calmaria. Estava feito.

— A guerra começou, precisamos ir.

Concentrei meus pensamentos no meu dragão. Desty estava sobrevoando acima de nós, encoberto pelas nuvens e pela neblina espessa, só esperando meu chamado.
Conseguia sentir o vento passando por suas escamas, como se fosse naquele momento, o meu corpo sobrevoando os céus.

Estou indo.

Sua voz de trovão ecoou na minha cabeça, porém ao invés de me intimidar, me dava uma sensação de paz, uma certeza de que estava protegida. Afinal, Destroyer morreria por mim, ele iria morrer por mim.
Senti sua dominância aumentar, exalando superioridade por todos os lados.
Ele pousou na minha frente, seu corpo cintilava com a pouca luz da manhã, a névoa circundava suas escamas, quase o camuflando.

Estamos prontos.

O dragão me encarou, seus olhos enevoados, prateados, penetrando dentro dos meus. Tempestade contra tempestade.
Eu tinha os olhos de Diunye.
Kalon pousou ao seu lado, suas escamas de um cobre profundo cintilavam, seus olhos, quase como o metal derretido no fogo, brilhavam com voracidade. Ele era menor que Destroyer, mas continha tanta fúria quanto meu dragão.
Ele se abaixou para que Steffan pudesse montar em seu dorso, se acomodando onde devia ficar por horas, ou talvez dias.
Desty se abaixou ao meu lado, sua asa tocou o solo úmido pelo sereno da noite.

Vamos logo, pequena cavaleira, é um longo caminho até Hevrá.

Eu sei.

Subi em suas costas com facilidade, depois de tantas vezes voando em seu dorso, me sentia perfeitamente confortável, mais confortável do que em qualquer outro lugar. Desty era minha metade.
Quando suas asas bateram contra o ar, uma corrente fria passou pelo meu rosto, e meu corpo, mesmo coberto pela armadura de prata, sentiu a mudança de temperatura, quanto mais alto, mais frio.

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