CAPÍTULO 14

668 134 16
                                    

— Por que meu nome não estava naquele manuscrito, Steffan?

Foi a primeira coisa que perguntei quando entrei no escritório do mago.

— Você nunca foi uma princesa, Ailyn.

Ele não levantou a cabeça do livro que lia, nem mesmo para me dar uma explicação decente.

— Mas é claro que eu fui uma princesa, eu era filha do rei, eu sou a filha de um rei.

Me sentei a sua frente, colocando o livro de prata sobre o colo, tentando chamar sua atenção. Estava me sentindo pequena, inferior, me sentindo um nada depois de ser descartada como uma de sangue real. Virei nada mais do que uma plebéia de rosto desconhecido.

— Então por que você está aqui, e não lá, na corte junto dos seus?

Seu tom continuava neutro, indiferente e sarcástico até, seus dedos viravam as páginas como se eu não estivesse ali. Ele não me levava a sério.

— Não sei porque eu perco meu tempo tentando entender todo esse mundo que não me pertence — coloquei as mãos nos braços da cadeira, pegando impulso para levantar — se Destroyer quer ir pra casa, que vá sozinho, ele não depende de mim.

— Ele não pode ir sem você, Ailyn.

Finalmente ele levantou os olhos do livro e me encarou. Suas íris eram de um mel tão profundo que eu quase podia esperar que escorressem líquidas a qualquer momento, como lágrimas por suas bochechas.
Não cansava de me perguntar se ele era um Berthel. De acordo com o manuscrito, a família real de Hevrá tinham olhos cor de mel, porém duvidava que fossem tão bonitos como os do mago.

— Então o que você quer que e eu faça? — me sentei novamente, deixando o corpo cair na madeira da cadeira — Você quer que eu largue minha vida e acompanhe Destroyer por onde ele quiser ir?

Minha voz estava contida, porém a amargura era explícita no tom.

— Você já largou sua vida. Você é uma desertora, abdicou o seu título como princesa. Vou ser obrigado a te lembrar isso todos dias, Ailyn?

— Eu sai do meu reino justamente para isso, Steffan. Para viver a minha vida sem precisar de ninguém, sem receber ordens de ninguém. Para poder ser eu mesma — fuzilei o mago com os olhos, sentindo meu peito ferver — mas veja só, agora eu sou a humana de estimação de um dragão grosso e mal humorado que sequer me faz companhia.

— Aquele dragão é único, você devia se orgulhar por ser a Cavaleira dele, por ele fazer o que faz por você.

Ele estava me julgando, de novo.

— Eu não sei quem ele é. Eu não sei o que estou fazendo aqui, eu não sei de mais nada, Steffan! Era muito mais fácil viver em Salim, sem ter que me envolver com nada.

— Muito mais fácil viver como uma escrava prisioneira.

— Você é cruel.

Não esperei uma resposta de Steffan e me levantei com um movimento brusco que fez o manuscrito luxuoso que eu tinha esquecido que segurava quicar pelo chão, se abrindo em uma página que eu não tinha tido permissão para ler.
Vi pelo canto do olho que Steffan fez um movimento rápido para alcançar o livro antes de mim, e, movida pela raiva e curiosidade o peguei em minhas mãos antes dele e decidi ler o que ele tanto tentou esconder de mim.

"Seu sangue contém tanto poder que corre prata pelas veias. Tiveram que selar o mesmo em um feitiço de magia obscura, feito com o sangue de sua própria mãe, para mascará-lo e escondê-lo enquanto ela vive em terreno inimigo. Será libertado apenas com a conjuração das seguintes palavras, juntamente com seu próprio sangue: "Liberte, ascenda, queime, mostre sua verdadeira cor, mostre seu verdadeiro valor, se inunde de calor"

Imperatriz da Lua Onde histórias criam vida. Descubra agora