Henri caminhava segurando meu braço com firmeza enquanto passávamos pelos soldados. Ele não dizia nada. Não tinha nada que precisasse ser dito, eu estava condenada, sentenciada a morte pelo meu próprio pai.
— Eu vou dar um jeito, vou salvar você querida.
Sua voz não passou de um sussurro mesmo depois que já estávamos afastados dos curiosos que nos encaravam, como se já estivessem no meu desfile fúnebre.
Eu não teria um.
Pessoas condenadas não tinham direito nem mesmo a um enterro digno junto de seus antepassados, meu corpo seria jogado em uma vala qualquer. Me arrepiei com o pensamento.— Apenas tenha misericórdia e me mate da forma mais rápida e limpa que existir.
Senti os músculos do general se enrijecerem e seus olhos verdes como a relva se incendiaram.
— Eu jamais faria qualquer coisa que a machucasse, Ailyn. Por tudo que é mais sagrado, eu vou impedir isso nem que seja entregando meu próprio coração ao rei.
Nossos pés nos guiaram pela direita em um corredor quando os olhos assustados e apreensivos de uma jovem serva vestida com maltrapilhos sujos e rasgados fizeram o corpo de Henri parar com um solavanco.
— Senhor General — a voz da menina falhou e seu queixo parecia tremer contra o ar frio da manhã — a rainha ordenou que Ailyn fosse levada para a Guilhinólia na primeira hora da manhã, para uma execução pública.
Então sem olhar diretamente para mim, ou esperar uma resposta de Henri, a menina se foi. Sumindo nas sombras que nos cercavam, tão rápida que poderia pensar que ela nunca esteve ali de verdade.
— Elinor é cruel, cruel de uma forma que Fergus jamais será — puxei meu braço para longe dos dedos de Henri e o olhei nos olhos — apenas aceite meu destino, general. Estou em paz, mais em paz do que se estivesse me casando com Kamal, muito mais.
— Seu destino não é esse. Você não vai morrer assim — ele murmurou e agarrou meu braço mais uma vez, voltando a andar tão rápido quanto antes.
O silêncio que se estendeu entre nós era pesado e denso. Era incômodo.
Minhas botas molhadas estavam congelando e eu já não sentia meus pés.— Eu estou aqui para te proteger, Ailyn. Não pense que vou desistir agora. — Ele voltou a falar quando já estávamos quase na torre mais alta do castelo. Sua respiração estava tão ofegante quanto a minha, depois de centenas de lances de escadas.
— Eu fui condenada pelo rei e tive minha sentença declarada pela rainha. Você não pode fazer mais nada — parei e passei meus dedos gelados suavemente pela pele quente de seu rosto — você já fez tudo por mim.
— Não preciso de uma coroa para te salvar, Ailyn.
Ele levantou sua mão enluvada e a colocou sobre a minha, apertando meus dedos contra sua pele.
— Não quero que me salve, acabou Gohann. Me deixe pelo ao menos fazer isso sozinha, me deixe caminhar para o meu destino com a cabeça erguida.
— Esse não é seu destino, garota ingênua.
Meus olhos arderam com o tom afiado e frio que saiu dos lábios do general. Ele nunca tinha levantado a voz para mim, em nenhum momento.
Puxei minha mão com força e levantei a cabeça, forçando as lágrimas quentes a desaparecerem tão rápidas quanto surgiram.— Tranque a maldita porta e não volte aqui enquanto eu viver.
— Ailyn...
— Isso é uma ordem.
Toquei a porta de madeira desgastada pelo tempo e o cheiro azedo e velho adentrou minhas narinas.
Tinha cheiro de morte.
Aquela era a tão temida Torre da Guilhotina.
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Imperatriz da Lua
FantasyA paisagem congelada era um fiel retrato do coração de Ailyn Bernardi, uma jovem princesa do reino de Salim, com uma aparência unicamente exótica e um precioso dedo livre de um anel de compromisso. Inconformada com o destino que lhe aguardava, mais...