CAPÍTULO 27

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Em Salim suas vozes foram caladas, mordaças fecharam suas bocas e algemas invisíveis prenderam suas forças.
Gritavam por socorro em silêncio, seus gemidos eram obstruídos, seus corpos queimavam em uma dolorosa agonia que não tinha fim. Eram prisioneiras em seu próprio reino, prisioneiras de seus próprios pais, maridos, irmãos e filhos, reprimidas, reduzidas a nada, presas em um rigoroso padrão inquebrável, onde eram queimadas vivas por nada mais que uma palavra ou um gesto errado.
Caladas, sem forças, prisioneiras, machucadas, violadas e reprimidas, as mulheres de Salim perderam seu brilho, a monarquia patriarcal, sem a intervenção do Império com sua monarquia matriarcal, onde a mulher era valorizada, não só tachadas como progenitoras de herdeiros sem valor, afundaram a magnífica essência feminina, sua poderosa força e sua glamourosa inteligência.
Por medo, sim, por medo de perder sua masculinidade, por medo de perder seu poder, por medo de dar liberdade a criaturas naturalmente preparadas para liderar, naturalmente atraentes, conquistadoras e sedutoras, os homens forjaram limites injustos e incompreensíveis.
Porém longe daquelas terras geladas, reunidas para um chá da tarde no núcleo do Palácio da Lua, segurando xícaras de porcelana com a graça de perfeitas damas, trajadas nos melhores vestidos, feitos dos mais finos tecidos de Aridon, comendo biscoitos e sorrindo.
Apenas princesas, apenas mulheres, apenas para quem nos olhasse por fora.
Ninguém sabia, mas entre risos e cochichos estávamos planejando estratégias de guerra.
Éramos todas princesas, damas nascidas em berços de ouro e prata, criadas com a presença de tutores como se fossem nossas sombras, treinadas para sorrir, acenar e dançar com graça e elegância, mas também nascemos guerreiras de coração e alma, prontas para defender e atacar, proteger nossos amados com unhas e dentes, derramar o sangue inimigo sem piscar os olhos, éramos guerreiras prontas para a guerra iminente que estava prestes e eclodir.
Demorou um pouco, mas quando percebi a preciosidade que eram as princesas de Aridon, não consegui conter o bolo de esperança que se formou em meu peito e a constante sensação de orgulho, por ver que somente Salim destruiu as suas, mas nós íamos acabar com aquilo, assim que Elinor estivesse morta.

— Eles vão atacar em breve, ouvi os espiões de meu pai comentarem. O exército é grande — Anna comentou, pousando delicadamente sua xícara no pires.

Quem a olhava tão serena, com um sorriso doce, não imaginava que por baixo de seu vestido preto cravejado com contas de prata, havia um punhal escondido.

— Nosso exército está atento. O poder bélico da Lhuria é invejável. A infantaria está preparada, pode lutar em qualquer terreno, sobre qualquer condição climática que nos surpreenda, eu posicionei pessoalmente os soldados de elite na formação, espalhados na linha de frente, e no meio. A cavalaria está revisando todas as celas, a saúde dos cavalos e sua resistência, além do mais — dei um sorriso de lado — temos a grande vantagem dos cavaleiros de dragões. Eles querem guerra, então é guerra que vão ter, com toda a intensidade que Aridon pode mandar.

— A terra vai tremer, como num terremoto — Alice e Arya disseram ao mesmo tempo, bebericando seus chás.

— A água vai se chocar, como num tsunami — Erin sorriu apoiando suas costas no assento estofado.

— O fogo vai se espalhar, como num incêndio — Anna sorriu diabólicamente.

— O ar vai destruir, como num tornado — disse triunfante, erguendo minha xícara em um brinde qual as meninas me acompanharam. 

— As grandes princesas guerreiras — falamos em uníssono e gargalhamos no final, como velhas amigas.

As velhas amigas que devíamos ser, se fosse tudo diferente.
Se eu não fosse a escolhida da profecia, conheceria Anna, Erin, Alice e Arya a muito tempo. Desde criança. Mas era como se o tempo não fosse vago, como se os dois meses que nos conhecemos fossem vinte anos, como se nossas almas fossem unidas por um laço de magia antiga, e nunca tivessem sido separadas. Talvez.

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