( Refúgio )

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__ Minha casa? Pergunto e ele faz que sim.

__ Eu moro num apartamento perto da praça, por que? Pergunto vendo ele lançar um olhar desanimado para a escada logo a nossa frente.

__ Então isso significa que você vai vir morar comigo, certo? Ele pergunta enquanto eu ultrapasso-o ficando a sua frente.

__ Hum pode ser, deve ser melhor do que pagar aluguel. Digo e quando saímos da loja percebiamos o longo caminho que tinhamos de seguir para casa.

__ Eu sinceramente não me sinto disposta pra isso. Digo segurando meu celular.

__ Uber, com que dinheiro? Ele pergunta.

__ Com o seu. Digo já confirmando a corrida.

__ A propósito você é médica, deve receber bem mais que eu. Ele diz pensativo.

__ Certas coisas não precisam ser ditas em voz alta no meio da rua. Digo rindo e encarando-o.

__ E você mora de aluguel? Ele perguntou.

__ Bom, sim sai bem mais barato do que comprar uma casa. Digo.

__ MAS ENTÃO VOCÊ É RICA!!! Ele grita e rapidamente tampo sua boca com minhas mãos.

__ Grita mais alto, acho que nem todos os ladrões de Yokohama escutaram. Digo e ele ri.

__ Mano minha namorada é rica, onde vamos passar nossa lua de mel? Em Maldivas talvez? Ele diz fazendo pose como se segurasse uma taça e ajeitasse o paletó.

Passamos a viagem inteira falando de lugares que gostaríamos de ir algum dia.

Ao chegar ele se despede com um selinho e logo estou de volta a minha casa.

Entro no elevador e sem parar chego em frente a porta recém colocada.

Dava pra ver algumas marcas de vandalismo, obra de uma certa alguém.

Abro-a com cuidado, vai que ela solta na minha mão.

Entro e a fecho com cuidado.

Passo direto pro meu quarto, ou melhor minha cama, meus fones de ouvidos e uma boa playlist recheada de Paramore.

A música e o livros, eram neles que sempre fugia dos problemas, da vida na verdade.

Acho que todos nós temos um refúgio, algo que fazemos para nós distraímos das coisas mundanas e dos problemas cotidianos, algo que faça você viajar ao seu mundo interior.

Um lugar só seu e de mais ninguém, um lugar em que só de pensar em dar adeus já se torna uma tristeza, pois logo teremos que encarar a realidade.

E ela está lá para nós dizer que a vida não é fácil e que uma hora, ou a todo momento, iremos cair, mas é aquele ditado, tudo o que é bom vem de maneiras difíceis.

Esse ditado existe, se não, eu o inventei agora.

Não funcionou dessa vez...

A música não funcionou, ainda continuo aqui, no meu quarto, a brisa gelada da noite invadindo-o como se estivesse lutando com as paredes para tornar o quarto todo seu.

Agora percebo que acabei de voltar pra realidade, o meu refúgio se tornou o Ranpo.

O mundo que era pra ser só meu, agora não é só mais meu, o Ranpo faz parte dele, e ele é a minha passagem para um lugar melhor.

Isso é de algum modo bom, mas agora sinto que, assim como a música e os livros eram pra mim, não consigo pensar na minha vida sem ele.

Parando pra pensar foi tão rápido quanto o vento que com certeza quebraria a janela se esforçar-se um pouco mais.

Num piscar de olhos tudo mudou.

Talvez a vida seja assim mesmo, dizem que é como uma montanha russa, mas acho que no meu caso ela sobe rápido e desce devagar.

Será que eu dou tanto valor as coisas ruins, que as boas passam rápido?

***

Fanática - Ranpo Edogawa (BSD)Onde histórias criam vida. Descubra agora