45- Lumi, o ser espiritual da vida

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Um jovem M sentado no chão abraçava fortemente uma menina. Seus olhos imploravam por alguma ajuda. O capitão caminhou até os dois, atrás dele havia um garoto de olhos cinzentos.

—O que aqueles monstros fizeram — Se lamentava vendo o corpo das crianças, com suas roupas brancas tingidas de vermelho. _ Não consegui chegar há tempo, deveria ter vindo mais rápido, eu sinto muito Mesti.

Tirou a menina dos braços do irmão, colocando seu corpo ao lado. Ajoelhado, tentou ajudar M a levantar. Ele agarrou o braço do capitão, seus olhos cansados encararam o homem, tentando lhe contar um segredo.

— Não pode ser... Você conseguiu, Mesti. Não esperava nada menos de você _ declarou com pesar em sua voz. Ergueu a criança e a abraçou. Não conseguiu impedir as lágrimas. — Acabou, M. Finalmente acabou!

Aquela cena congelou, e de forma lenta tudo se apagou.

— Naquele dia, você perdeu tudo. Mas aquele garoto, achando que atrasou o capitão, encontrou algo para se agarrar. Vejo que você percebeu isso, que ele abandonou aquele olhar melancólico e decidiu cuidar de você.

Um estalar de dedos, e tudo ficou branco. Na sua frente um ser quase angelical vestia branco, os cabelos de um azul claro, tinha algumas mechas presas por presilhas circulares. Não havia íris ou pupila em seus olhos, só o branco, veias saltavam nos cantos do mesmo. Em sua testa, um losango azul com as pontas afinadas.

— Lumi, você pode me ver? — Perguntou M.

— Não. — A voz ecoou em sua mente.

O jovem levou uma mão até os olhos, tentando apertá-los. Abaixou a cabeça, incrédulo.

— Por quê? Me sentenciou a nunca mais poder lhe evocar.

— Não me evocou, criança. Estou aqui porque decidi estar aqui. Como um ser de luz, por não haver nada em meu ser além de bondade, vendo em sofrimento um daqueles que vivem minha filosofia, ainda que desviado, lhe ofereço o meu perdão, minha segunda chance. Prove-me, Emi, que não estou sendo ingênuo. Que não me equivoquei com a mudança de seu caráter.

M tentava prestar atenção naquelas palavras, mas bem longe via a luz forte de Apoly, o cheiro da brisa do mar. Bem longe sentia sua garganta doer. E às vezes a imagem de Lumi sumia, e viu a praia, viu Eliseo e Derik ainda lutando. Tentou dizer alguma coisa, porque não queria que ele fosse até o fim. Ele estava machucado, tão machucado. M fechou os olhos para impedir de ter que continuar a ver o amigo daquela forma.

Abriu seus olhos de novo e o ser espiritual estava na sua frente, no branco infinito, com o braço em sua direção.

— O que vai fazer?

— Salvar você.

— Não! — Se curvou encostando a cabeça no chão. — Eliseo está morrendo, salve ele!

— Então você irá morrer, e ele voltará a ser o mesmo de anos atrás. Não terá salvado-o. Você acha que morrendo não sofrerá, pois suas lembranças terminaram aqui, puramente egoísta.

— Se eu viver também não terei salvo ele. Não deixe ele morrer, Ser Lumi. Eu imploro, sei que ele vai se reerguer. Eliseo tem pessoas que nunca o abandonaria.

— Por ser criança daqueles que rezam em meu nome, lhe abençoando com o nome Lumi, ofereço mais uma vez a você o meu espírito em terra.

— Obrigado...

M viu a praia outra vez, procurou por Eliseo. Em meio a areia perto do mar estava ele, ao lado de Derik, que só se permitiu enfim descansar quando acertou o irmão no mesmo lugar que Eliseo o havia acertado no passado: seu coração.

Universo Obscuro - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora