21-Atamis

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A escadaria parecia não ter fim, era a ilusão que a escuridão causava. E, depois de descerem tantos degraus, eles pareciam ter acabado. Uma chama se acendeu à frente, mostrando alguém com um manto escuro cobrindo todo seu corpo, era baixa e corcunda. Segurava uma espécie de bengala de madeira. 
Bris olhara para Paul, que parecia tranquilo com a presença da pessoa, então se manteve calma também. 

_ Querem ouvir uma história?_ Perguntou uma voz feminina, rouca e cansada.

_ Sim! _ O deumiano respondera animado.

A senhora estendeu o braço, com a mão aberta, na direção de Paul, que não entendera o gesto de imediato. Mas ao compreender a animação sumiu. Ele revirara os bolsos, mas por sua feição pareceu não ter encontrado o que procurava. O rapaz se virou para Bris, com um sorriso bobo e um olhar pedinte. 
A garota irritada colocara a mão no bolso, encontrando uma moeda dourada e a entregara na mão de Paul, que repassou para a mão da senhora.

_ Nossa história não é muito conhecida, não com todos os detalhes de como tudo realmente aconteceu _ iniciou _  pois fora esquecida, como o nosso povo. Sempre fomos poucos, e diferentes de todos. Nosso coração era pacífico, mas nossa natureza extremamente selvagem. Só o som das ondas mantiam nossos corações em paz. As pestis tomaram nosso mar, e fomos obrigamos a nos afastar do que nos permitia ficar conscientes. Estávamos condenados ao nosso pior lado, e o mundo só conseguiu enxergar esse lado.

Os três ouviam com atenção, não entendiam direito do que ela estava falando, mas sabiam que logo iriam compreender. Ela continuou:

_ Mas eles precisavam de mais, um motivo entre as leis deles para justificar nossa exclusão. Foi então que nosso povo foi acusado pelo mais forte de defender os negados, e de protegê-los. E nos comparou a eles. Éramos inocentes, não sabíamos o que isso significava, não entendemos o porquê de não podermos defender um semelhante, até vermos ao leste, junto a Apoly que se punha, vários deles com ódio nos olhos avançarem em nossos amigos, familiares e lhes tirarem seu bem mais precioso: a vida. Era dado início a uma perseguição incansável contra os Atamis. Mas havia uma esperança! Uma jovem garota, escapou de todos os LAPs. Ela trazia consigo uma flor, ou o que um dia seria uma, e todo o peso de ter que salvar  um povo. Ela tinha que esperar aquela flor se abrir, pois quando isso acontecesse, tudo ficaria bem. Era angustiante esperar, pois a garota não sabia quando a flor se abriria. Não era fácil, para a jovem garota, suportar aquilo, sabendo que quanto mais o tempo passava mais sangue era derramado de seu povo. E aquela maldita flor fora regada pelas lágrimas da garotinha, todas as noites.

_ Coitadinha  _ comentou Beca com tristeza.

_ Em hipótese alguma poderia fracassar! _ Praticamente ignorou a menina. _ E então, chegou um dia em que havia vários inimigos por perto, logo iriam encontrá-la, ela se desesperou. Seu povo tinha confiado a esperança de dias melhores a ela. Foi então que encontrou esse caminho subterrâneo... Para sua infelicidade, seus inimigos também _ a mulher fez uma pausa.

_ O que aconteceu? _ Perguntou Beca aflita.

_ Viram a estátua lá fora? _ A senhora perguntou. 

_ Sim. _ Paul e Bris responderam.

_O núcleo fica abaixo. _ O cajado da senhora começara a se contorcer.

O barulho alto vindo do lado fizera os três olharem para mais além do caminho. Uma ponte de pedras se formava até outro lado, fracamente iluminado.

_ Se voltarem eu conto o final da história. E não esqueçam que mais a frente não se encontra só o núcleo. _ Erguera o braço na direção da passagem já formada _ Boa sorte!

Os três concordaram e foram em direção a ponte. Bris olhou uma última vez para trás, a senhora ainda estava lá, parada. A garota olhou para seus companheiros. E enquanto andava pensava na história contada, e sem querer tentava imaginar o quão triste fora a jornada daquela garota, e quem mais, além do reino do vento, poderia ser o mais forte.

Universo Obscuro - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora