Continuação.

Estou a quase dez minutos enxaguando esta camisa que é o mais difícil de limpar, pois, o pano caro foi bem afetado pelo líquido.

Ele fez de propósito, porque gente rica é assim? Qual o prazer de humilhar os outros?

— Lucien! — Ouço a voz da Violet se aproximando.

Desligo a torneira e caminho rumo à porta do banheiro.

— Lucien! — Chama novamente poucos segundos antes de eu aparecer na sua frente, já com a camisa colocada, mas um pouco desabotoada.

— Estou aqui. — Respondo diante dela.

— Eu te procurei por quase dez minutos. — Reclama impaciente.

— Se seu amigo não tivesse derramado bebida em mim, não precisaria me dar ao trabalho. — Mostro a parte afetada pela bebida e Violet bufa.

— Acidentes acontecem. — Diz despreocupada.

— Não foi acidente. — Rebato já sem um pingo de cordialidade com ela.

Saio do banheiro cruzando sua cadeira, até ouvir um resmungo alto.

— Bonitão, eu não consigo ir sozinha. — Dá ênfase na primeira palavra, a dicção perfeita.

Diante da raiva, até esqueci do detalhe.

Vou para trás da sua cadeira e apoio o paletó sobre o pulso, empurrando-a devagar até à beira da escada.

— Já vai, Violet? — Unai pergunta aparecendo do nada.

Deve ser bem íntimo para chamá-la pelo nome.

— Sim, estou exausta, nos vemos amanhã na empresa. — Sorri gentil e eles se despedem com um beijo no rosto.

Uma mensagem no seu celular caríssimo e Ramalho (chofer) sobe as escadas para levar a cadeira, enquanto eu levarei Violet.

Não parece incomodada com o fato das suas pernas estarem descobertas diante dos meus olhos. Não que eu esteja fixamente nisto, mas é notável que tem um corpo belo.

Seus olhos felinos parecem querer que eu tome uma atitude imprevisível.

A única coisa que me passa pela cabeça agora é o que me espera quando eu chegar no condomínio.

Violet é bem atraente, apesar da sua arrogância a deixar ofuscada.

Um espirro.

— Está com frio? — Pergunto vendo seus lábios se contraírem após o espirro.

— Não. — Mente, orgulhosa.

A deixo no banco e coloca meu paletó sobre seus ombros, não está tão molhado quanto a camisa.

— Disse que não estou. — Relembra enquanto eu prendo o cinto nela, sentindo o calor do seu corpo.

— Eu ouvi, você mente mal. — Ouso dizer e após prender o cinto, afasto devagar sentindo seu perfume delicioso invadir meu sistema.

— Senhorita, vai para a casa? — Ramalho pergunta ajeitando o uniforme sob a barriga de cachaça.

— É óbvio né. — Responde irritada e mantém os olhos nas mãos finas.

O chofer de luvas brancas apenas assente e gira o volante assim que coloco o cinto.

— Deixe o Lucien na casa dele depois. — Ordena, mesmo não parecendo querer citar meu nome.

O que fiz de tão errado?

— Está com raiva de mim? — Pergunto chamando sua atenção.

Violet sorri irônica e dirige as pérolas azuladas a mim.

— Você me deixou sozinha a reunião inteira! — Quase grita e o som ecoa pelo carro.

Suspiro indignado.

— Sabe que não foi intenção, queria que eu ficasse molhado enquanto seus amigos debochavam de mim? Deve ser legal para vocês né. — Disparo já não me contendo.

Os olhos dela se arregalaram.

— Eu te contratei para me acompanhar e você não cumpriu seu papel hoje, estou avisando premeditadamente... Da próxima vez.

Aproximo-me à medida que sinto sua respiração atingir meu rosto.

— Não terá próxima vez, senhora Maldonado. — Dito palavra por palavra, fervendo de ódio.

Que egoísta, cínica.

Cheia de ódio, Violet vira para janela novamente onde deixa seus pensamentos tomarem conta de si.

Meu paletó ficou grande em seu corpo pequeno.

Em casa.

No dia seguinte.

Salto da cama assustado — devido aos barulhos estrondosos vindos da sala.

Saio correndo e quando chego na própria, o síndico e uns quatro homens estão no apartamento e parecem bem irritados, querendo levar minhas coisas.

— Calma, calma! — Peço-lhes e a cabeça começa a doer pela rapidez com que sai da cama.

— Senhor Hernández, você sabe o porquê disto, não proteste! — Impeço ele de pôr as mãos no meu computador.

— Por favor! Só mais alguns dias e eu juro que terei o dinheiro! — Imploro sentindo tontura.

O homem careca e amarelado não hesita e me afasta para o lado, enquanto os outros homens desmontam meu computador.

— Eu já te dei mais de cinco meses, Lucien! Ninguém me deve a tanto tempo! Irei levar as coisas de valor que tem, até que pague o que me deve! — Dispara as palavras e rapidamente os armários ambulantes desvencilham os fios da CPU e levam tudo.

Passo a mão pelos cabelos, nervoso, vendo eles saírem.

Busco uma camisa pelo sofá único e acho a regata branca, visto e coloco os chinelos — preciso ir até um conhecido e perguntar se ele tem vagas.

Lutas clandestinas, sim, são erradas — mas estou passando por um sufoco grande e até conseguir o primeiro salário, será tarde demais e já estarei na rua.

E não creio que Violet vai oferecer sua casa para que mim habitar.

Não falo com minha avó faz três dias, mas ela deve saber que estou bem na medida do possível.

꧁ 𝙲𝚘𝚗𝚝𝚛𝚘𝚕 ꧂Onde histórias criam vida. Descubra agora