𝗩𝗶𝗼𝗹𝗲𝘁.

Antes de abrir os olhos, movimento o braço pelo macio da cama e não encontro Lucien.

Abro os olhos devagar e demoro a deixá-los totalmente abertos e enxergar tudo nítido. O iluminar dos raios solares fortíssimos incomoda minha visão.

Totalmente nua, apalpo o coberto acima do meu corpo. Corpo abalado pela noite anterior quando Lucien e eu quase derrubamos o quarto.

— Bom dia. — Solto um grito automático em reação, que susto.

Viro para a direção oposta e contemplo a criatura sorridente à minha frente.

— Raquel. — O que ela está fazendo aqui? Há quanto tempo está me vigiando dormir?

Minha garganta arde e a cabeça gira.

— Trouxe seu café da manhã, já que demorou para ir até nós, vim até você. — Raquel sorri carinhosa e ergue as sobrancelhas lembrando de algo.

— Bom dia. — Lembro de cumprimentar enquanto observo a generosa bandeja contendo alimentos e bebida.

Estou nua. E nem posso pôr a langerie porquê não sei onde Lucien as atirou ontem. Puts.

— Se alimente bem, preciso que tenha energia para hoje. — Profere empolgada, indicando que iremos fazer algo especial.

Do quê se trata?

Ergo o corpo e encosto o corpo na cabiceira da cama escura, me cobrindo com o edredom para pegar a bandeja estendida que Raquel segura.

— Sabe onde está Lucien? — Pergunto após pôr a bandeja sob as pernas.

Raquel dá risada espontânea.

— Foi tomar café, não quis te acordar... Depois da noite anterior, não tem como disfarçar o que aconteceu entre vocês. —  Minha irmã diz sem saber exatamente como tocar no assunto. Coçando a testa.

Engulo a seco envergonhada.

— Sem ser indelicada... Fizeram muito barulho e não consegui dormir boa parte da noite. — Não é uma reclamação, soou engraçado. Me encontro rindo com ela até ficar cansada.

— E você? — Pego um pedaço de torrada olhando a loira levemente parecida comigo.

Raquel move os lábios em dúvida.

— Eu? — Não imagina o que quero perguntar, ingênua.

Mastigo a torrada com prazer, estou faminta.

Raquel entrelaça os dedos e os move ansiosos abaixando a cabeça.

— Vi o jeito que você e Unai se olham, ele fica babando, por quê não dá uma chance à ele? — Sugiro sincera. Os dois combinam muito.

Será que a boba não percebeu? Não é possível que seja tão distraída assim.

Raquel emiti um grunhido desconfortável.

Ah... Por enquanto não irei colocar isto na minha lista de prioridades, e ele não repara em mim também... Impressão sua. — Renega tal fato estampado.

Bato as mãos retirando os grãos que ficaram.

— Não seja tão durona, precisa viver a vida, ter amantes... Não vai afetar seus planos... Unai é um homem bom e tenho certeza que respeitaria seu espaço. — Mordo mais um pedaço de torrada e bebo café em seguida.

Raquel se senta na beira da cama inexpressiva.

— Somos iguais, sabia? — Seus olhos se estreitam.

— No que? — Questiono realmente curiosa. Mal a conheço depois do abandono inesperado.

— Não conseguimos ser totalmente imparciais na questão do amor. — Sorri puramente, se igualando a mim. Algo nela me lembra minha própria pessoa.

Irmãs adotivas, mas conectadas tão profundamente quanto as de sangue.

Busco palavras para responder minha irmã tão calma e inocente.

— Estou disposta a me reaproximar... Basta você dizer se também quer, respeitarei seu tempo. — Muda o foco da conversa ficando mais séria e tensa.

Os ombros rígidos e o olhar firme.

Parece realmente querer se aproximar mais, sermos como antes. Termos a relação inocente e pura que ficou enterrada.

Devo dar uma chance a isto, à ela. É minha irmã, está sendo sincera. Eu também tive uma segunda chance Lucien me deu mesmo que eu não merecesse muito. Então será injusto não dar lhe a oportunidade.

Permitirei meu coração ser amolecido por esta relação. Por Raquel.

Ainda não sei o motivo mais concreto dela ter ido embora sem mais nem menos... Um dia saberei exatamente e tudo ficará melhor. Embora não tenha ninguém que me compreenda como Lucien.

O esforço dela é genuíno, já presenciei tal tentativa há anos atrás quando éramos crianças.

Minha irmã anseia por resposta.

— Eu te amo muito irmã. — Sua mão fina pega a minha calmamente. Os olhos brilhantes do carinho verdadeiro me encaram.

— Quero que confie em mim e voltemos a ser uma só, a dupla inocente que fomos um dia. — Seu pedido é tão comovente que não consigo cogitar adiar isto. Chegou o momento de colocar as cartas na mesa. Meu coração fica aquecido vendo sua pureza — por uma fração de eternidade vejo a criança interior toma seu ser.

— Eu aceito. — Respondo de todo coração, dando mais uma chance a reconstrução do nosso amor. Nossa relação.

O amor também é perdão. É renovar sentimentos. Ser sincero.

As palavras invadindo minha mente numa doçura inexplicável, ainda tenho dúvidas e receios é claro. Nada se torna água para o vinho da noite pro dia. Leva tempo... Vai levar.

Eu irei perdoá-la algum dia. Talvez não demore tanto quanto penso.

Nunca consegui odiá-la por completo, nunca.

꧁ 𝙲𝚘𝚗𝚝𝚛𝚘𝚕 ꧂Onde histórias criam vida. Descubra agora