𝗦𝗲𝘁𝗲𝗺𝗯𝗿𝗼.

𝗟𝘂𝗰𝗶𝗲𝗻.

A dor não sumiu ainda, mas está amenizada. Tenho que me conformar e seguir, por mais difícil que seja.

Kate esteve comigo estes dias, e Violet ofereceu sua própria casa para que minha avó habite. De início disse que iria pensar não posso aceitar... negar não está nos meus planos.

— Amor. — Kate chama manhosa, e vem se aproximando devagar.

Retiro a atenção do relatório que estou fazendo e volto a ela.

— Está trabalhando demais, precisa relaxar. — Aquele tom persuasivo e camuflado por segundas intenções.

Desvio do seu toque tentando não ser grosseiro.

Não quero, só não quero.

— Está fugindo de mim. — Diz frustrada e incomodada.

Sua expressão insatisfeita atinge meu rosto e rebate entre as paredes claras do apartamento.

— Kate, estamos nos precipitando...

— NÃO Lucien, quem está adiando isto é VOCÊ, faz mais de um mês que namoramos e ainda não me tocou... Tem aversão a mim ou o quê? — Quase faz os objetos estremecerem acima da mesa devido ao tom.

Kate está indignada com minha decisão, não a respeita.

Kate levanta da cama e passa a mão sob os cabelos, extremamente nervosa.

Me pressionando ainda mais com os olhos escuros que me encaram.

— Não é isso... — Tento não chatear e também não passar por cima da minha decisão.

Kate suspira à frente do meu rosto. Encurralado, sem resposta ao alcance.

Pareço estar num interrogatório.

— Só quero que PARE DE ME PRESSIONAR. — Explodo saindo de perto dela, já não aguentando mais.

As paredes se tornam um nevoeiro escuro que me espreme e sufoca.

— Te pressionar? Então eu te pressiono...— Seu olhar vaga abismado, perdido pelo chão e as paredes.

Tentando encontrar motivos ou argumentos.

— É ela. — Sua voz falha ao dizer tal substantivo.

Estremeço internamente. Quero sair correndo.

— Do que está falando, Violet não tem nada a ver...

— Não mente para mim! ESTÁ MAIS QUE ÓBVIO, MEU DEUS COMO EU NÃO PERCEBI ANTES? ESTAVA NA SUA CARA ESSE TEMPO TODO. — Se auto-condena por não ter percebido seja lá o que for seus pensamentos ou suposições.

Tento pegar sua mão para conversarmos, mas Kate se esquiva e dá um tapa em mim com a sua direita.

— Está supondo. O quê. — Travo nas palavras e me embaraço todo.

Uma onda negativa invade a sala e Kate suspira procurando algo indecifrável pelas paredes e teto.

O indicador contendo uma unha pintada em vermelho se ergue, querendo apontar feito uma espada para mim. Se detém a ficar à frente do busto.

Você me traiu. — Tirou esta convicção do fundo da mente. A mente paranoica.

Quase perco o chão ao ouvir tal afirmação sem a menor prova ou motivo.

— O quê? — As palavras saem quase em sussurro. Perco a visão perfeita e o chão abre uma cratera invisível que vai me engolir.

Sinto uma ardência forte atingir o rosto quando um tapa é disferido nele

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Sinto uma ardência forte atingir o rosto quando um tapa é disferido nele. Perco o equilíbrio e trombo na mesa atrás de mim.

Os olhos estáticos e a inexpressiva mulher na minha frente ficam fixos em mim.

Uma ânsia sobe na garganta e fogo engole minhas entranhas.

— Preferiu aquela tirana egocêntrica, teve a capacidade de me enganar e fingir amor por tanto tempo. — Kate pondera parecendo não se encontrar neste ambiente, buscando uma base mentalmente sólida lhe abrigar. Ser proporcional a sua situação. Enquanto todas as palavras batem na minha mente feito martelos pesados em câmera lenta.

Ofendida. Injusta.

Não disse uma sequer palavra e tomei um tapa, um tapa.

Graças a sua paranoia e ciúmes sem nexo algum.

— Nunca te trai, nunca. — Ajeito a postura e coloco a mão no local atingido pelo tapa.

Os olhos dela estão marejados e perdidos.

A culpa que ela põe sobre mim me fuzila com força. Culpa inexistente.

— Mentiroso. Não quer ter relações comigo, porquê têm com ela... Violet Maldonado, você é o cachorrinho manipulável da Violet Maldonado. — O absurdo é tamanho que mal consigo responder.

— Ela tem dinheiro, é bonita... O quê tem nela que não tem em mim? DIGA LUCIEN, SÓ DIGA. SEJA SINCERO UMA VEZ, SÓ UMA VEZ COMIGO. — O ódio presenta na sua voz me fere, desconfiando da minha honestidade. Do meu caráter.

Cortante.

Sempre fui sincero, respeitei seu espaço e a tratei bem.

Por quê Kate. Por quê.

Nunca medi a mulher na minha frente numa balança. Violet não é igual a ela, obviamente... Todavia, não é questão de dinheiro ou posição social... Nada disso.

Violet me escuta, respeita meu espaço. Nunca duvidou do meu caráter.

Kate agarra bolsa bruscamente no sofá.

Como esta situação chegou a este nível? Como não percebi seus comportamentos controladores e abusivos?

Todas as ligações a cada cinco minutos, todas as mensagens questionando onde eu estava, por quê estava e com quem estava.

Tudo isso.

Suportei por pensar que era proteção, medo de que acabasse me perdendo.

A insistência para termos relação sexual, que coisa mais...

— Nunca mais me procure. Vá para o inferno, Lucien. — Vocifera de maneira violenta se retirando do meu apartamento. Andando tão rápido que o vestido verde-escuro sem mangas balança nas barras.

Foi tudo não inesperado e rápido que só consigo me manter aqui, parado e me questionando sobre tantas coisas.

Eu mereci isto?

Não a amava é verdade, porém sentia carinho e respeito. Gratidão. Fazia de tudo para estar o mais alcançável possível do namorado perfeito.

A escutei, lhe recebi, fui sincero. E ganhei desrespeito, agressão e desconfiança.

Neste momento estou um emaranhado de dor, confusão, arrependimento e muitos outros incontáveis, sentimentos e emoções.

꧁ 𝙲𝚘𝚗𝚝𝚛𝚘𝚕 ꧂Onde histórias criam vida. Descubra agora