𑁍𝚅𝚒𝚘𝚕𝚎𝚝𑁍

Estar nesta cadeira me deixa tão irritada, tenho vontade de destruir uma muralha por conta disto.

Não posso fazer diversas coisas, entre elas ir atrás do Tadeu e sentar a mão na cara dele.

Nunca mais fui a mesma, nunca mais serei. A perda dos meus pais me abalou, mas saber que nunca mais eu vou andar... Tirou completamente meu chão e tudo que o rondava.

Ninguém entende o que eu passei e ainda passo... Minha frieza é um escudo contra as expectativas que criam sobre mim.

Rosário e Consuelo estão comigo desde a infância, são uns anjos que me ajudaram a suportar esta vida infeliz que eu levo. Fazem de tudo por mim e eu sou grata a elas.

Procuro não demonstrar meus sentimentos, os tranquei e joguei fora a chave onde nunca mais será achada.

Dinheiro não me traz preenchimento, tantas roupas, uma casa enorme... E nada além, felicidade é algo inexistente sob mim. Estou condenada a esta solidão engolidora.

São poucos os momentos que sorrio... Elas evitam conversar muito comigo, acreditam que lido bem o suficiente com meu próprio interior mental e sentimental para ficarem falando sobre.

Não as condeno.

— Consuelo, prepare minha roupa por favor. — Peço ainda olhando os arbustos do jardim à minha frente.

Tenho academia hoje e vou pedir para Lucien me acompanhar enquanto resolvemos coisas da empresa. Preciso distrair a cabeça.

Antes de ir, Rosário me ajuda a ir ao banheiro e tomar banho, já foi enfermeira por um tempo e cuida muito bem deste departamento.

Após trocar a roupa, penteio o cabelo e passo um gloss rosa-claro. Optei por uma regata rosa escura e uma calça legging preta com um tênis preto com detalhes em rosa.

Sinto um ar quente beijar as bochechas quando sai na frente da casa, onde meu carro adaptado espera por mim.

Gosto de dirigir, me ajuda a pensar.

— Não vai à fisioterapia hoje? — Questiona Rosário baixinho.

Com medo de que isto provoque reações não tão agradáveis.

— Não. — Respondo convicta.

Perda de tempo.

— Menina, isto vai ser bom para você... Pode...

— Eu já disse Rosário! Por favor, não insista nessa tolice. — Tento não falar alto com ela, mas estou irritada demais já.

— Está bem doce menina. — Balbucia baixinho, coloco a mão sob a sobrancelha para esconder o rosto do sol ardente que derrama as luzes sob mim.

— Cadê o Lucien, hein? Eu disse querer que ele estivesse aqui agora. — Digo mesmo que ela não esteja prestando atenção.

Logo vejo alguém vindo correndo em minha direção e cruzo os braços.

Rosário o cumprimenta e ele devolve educado.

— Onde você estava? — Questiono contendo a fervura que cresce na garganta.

— Estava muito trânsito e o ônibus acabou empacando. — Ele justifica, mas não se desculpa.

Faço gesto a Rosário me pôr no carro e Lucien em silêncio a segue para ajudar, já que tem força maior nos braços.

Minutos depois.

Lucien está tão calado no banco ao lado que parece que eu mordo... O que é mentira... Entre linhas.

꧁ 𝙲𝚘𝚗𝚝𝚛𝚘𝚕 ꧂Onde histórias criam vida. Descubra agora