⚠️Gatilho: Este capítulo contém gatinho de suicídio. ⚠️

***

𝗟𝘂𝗰𝗶𝗲𝗻.

Violet não consegue nem pensar em si própria depois da enxurrada que lhe acometeu nesta semana, o enterro, a confissão da víbora. Ninguém está imune à dor da confiança quebrada. Do coração enganado drasticamente.

Viemos até a empresa para buscar algumas das suas coisas que restaram. Muitas estão na sala de Unai.

Abro a porta sentindo cada fio do meu corpo angustiado.

Que sensação horrível. Um presságio.

Minha visão contempla Unai e Raquel, ela o abraça tão forte que sua bochecha se espreme sob o paletó dele. Um momento de conexão, parece bem mais profundo do que o juntar de corpos.

A cena paralisa eu e a loira do meu lado.

Os dois só percebem nossa presença agora, mas não se desvencilham.

— Viemos apenas pegar as caixas dela. — Sou bem passivo e educado. Não avanço nenhum passo, assim como Violet do meu lado apoiada na porta.

Raquel suspira frustrada e as pérolas esverdeadas cruéis se tornam vazia, inconsolaveis.

Ergue o rosto para encarar Unai, como se ele fosse uma constelação incrível, seu porto-seguro.

O homem não se mexe, apenas mantém a ternura presente.

— Irmã, eu queria muito dizer que: nunca quis te magoar e nem te ferir. — A voz não falha, é como uma confirmação daquele presságio que toma meu peito.

Unai franzi as sobrancelhas em estranheza.

— Unai, quero te contar uma coisa... — A loira dá um selinho carinhoso nele colocando sua palma sob a bochecha dele.

— Eu perdi um bebê com sete semanas... Seria nosso filho. — Sua expressão sonhadora logo se dissipa bruscamente.

O choque da notícia faz o homem ficar estático.

Uma lágrima solitária e vagarosa escorre por sua face —, indicando que o choro mais intenso virá logo.

— Não vou passar o resto da na cadeia, e não suporto a ideia de vocês me odiarem, talvez eu seja covarde em fugir, mas não vai parar... Esta sensação não vai sumir nunca. É o que eu sou. — Raquel profere cada palavra usando de uma pequena fração de arrependimento e lança um olhar à Unai e Violet quando se refere, "vocês". Compreensível já que não nos conhecemos muito bem.

Aquele sentimento aperta tão forte que quase sinto o efeito colateral nas extremidades do corpo.

Feito um borrão movimentado, a loira corre até a saca e se pendura no parapeito, jogando uma das pernas do outro lado do vidro num equilíbrio arriscado. Unai dispara até ela e é parado por um gesto das mãos trêmulas dela. Seu é agoniante.

Violet estremece ficando assustada com tal ato inesperado.

— Se afastem, não quero levar ninguém ainda mais pra baixo nesta poça que eu mesma criei. — Pede, quase não conseguindo falar num tom audível.

Unai está com tanto medo — angustiado e chocado diante da situação que mal reage.

A loira chora extremamente destruída, vulnerável.

Um movimento e seu corpo vai despencar da sacada, a queda será certa.

— Raquel por favor, estou pedindo que não faça isto. — Violet gesticula preocupada, o pânico se instala no azul.

Qualquer movimento é fatal. A sala parece ter ficado mais fria.

Perdão, perdão irmã. — Se desculpa com a voz embargada pelo choro descontrolado.

Unai tão pálido que se iguala as paredes do escritório, a possibilidade dela se jogar lhe atormenta fortemente.

— Se descer daí, podemos conversar, iremos resolver esta situação... Não irá passar o resto da vida na cadeia, é uma promessa... Estou implorando, não faça isto, é a única família que tenho... Eu te amo. — As palavras sinceras dela são interrompidas pelo choro desesperado.

Raquel sem nenhuma intenção de sair do parapeito a qual está em cima. Unai não arrisca se mover sabendo do quanto pode piorar tudo e acabar numa tragédia.

Violet avança alguns passos — ainda distante da janela.

— Eu te perdoo, do fundo do meu coração... O que eu disse foi da boca para fora, na emoção do momento... Você não é ruim, só precisa de ajuda e tenha absoluta certeza que irei dedicar toda minha vida de for preciso para te ajudar no que precisar. Não precisa fazer isto, podemos tentar de novo, recomeçar do zero. — Violet tenta manter a razão e convencer a irmã tão desestabilizada.

Cogito a ideia de correr até ela e lhe agarrar, fazendo com que saia da janela e caia no chão. Porém é arriscado demais e nós dois poderíamos cair. Violet perderia nós dois.

A tensão mortífera que nos ronda se finda quando o vidro se quebra numa explosão barulhenta antes que diga mais uma palavra —, antes que seu olhar demonstre aceitação pela ideia de sair do parapeito e se juntar a mão estendida da irmã ansiando por agarrar a sua e tudo sair bem —, sã e salva. Não dá tempo nem de pensarmos em segurá-la.

Raquel cai de uma altura maior que 7 metros e um estalo ecoa quando seu corpo magro e frágil atinge o asfalto.

Violet grita tão alto que seu corpo se remexe em reação. Unai chama o nome da sua protegida e logo sai correndo rumo à rua pra verificar. A mistura de vidro e sangue lá embaixo cobre o corpo dela.

Os olhos abertos e o pânico ainda presente em seu corpo estirado no chão de modo torto. Não sei se está morta —, espero do fundo do coração que não. Por Violet que mal consegue esboçar reação além do choro e a tremedeira cheia de pavor. Um cenário de horror traumatizante.

꧁ 𝙲𝚘𝚗𝚝𝚛𝚘𝚕 ꧂Onde histórias criam vida. Descubra agora