☁︎𝚅𝚒𝚘𝚕𝚎𝚝☁︎

A noite foi um tormento, aquele maldito pesadelo de novo, talvez seja paralisia no sono, pois eu não conseguia gritar, nem mover sequer um músculo. O pânico se instalando em cada fio do meu corpo e aquela sombra escura me engolindo feito um demônio/ monstro — não tinha forma ou qualquer fisionomia... Era só sombra, uma espécie de fumaça sem forma ou algum traço concreto. Acordei suando gelado e o coração tão agitado que saltou quase do peito.

Fiquei horas olhando pela janela do meu quarto, no escuro — a luz luar banhando os arbustos e o gramado bem cuidados.

Tive dificuldade para sentar sob a cadeira, quase cai... Mas consegui.

A dor ainda está presente e eu não sei como lidar — por mais que pareça digerir tudo e estar firme e forte na frente dos outros.

Rosário e Consuelo.

Sabem bem do que estou falando e não posso mentir para elas... Estão comigo desde que me entendo por gente... Até antes.

Ela me deixou. E isto é fato. Mesmo que não soubesse o que estava fazendo e o quanto as consequências me afetariam, ela fez.

Talvez eu tivesse uma dependência emocional enorme nela, por isso quase morri quando se foi... Era tudo para mim, significa luz, conforto, compreensão.

Um laço tão forte nela que a dor de perdê-la foi como ter um olho arrancado ou pior. Ainda não superei... Nem sei se poderei.

Podem me chamar exagerada e dramática... Mas a verdade é que ainda sou dependente dela, no sentido figurado.

Ainda passo dia e noite pensando e remoendo aquele dia... Aquele maldito dia. Não esqueço nunca.

A ferida não cicatrizou, a dúvida... A esperança tão imbecil de que ela um dia volte.

Meus pais nunca foram muito amoroso, mais superficiais do que amorosos.

Me davam de tudo, tudo mesmo que eu quisesse... Até mesmo um dragão se eu pedisse. Mas não era isto que eu queria, não que não gostasse de ser mimada e ver meus pais não precisarem mover céus e terras para me dar o que eu pedia ou queria... Todavia o mais importante não me davam... Atenção carinhosa, amor.

Deu pra contar nos dedos. Às vezes que mostrei algo que fiz e eles prestaram atenção por alguns minutos. Cresci tendo este tipo de atenção mais da Rosário... Não era a mesma coisa.

Se sou esta pessoa amargurada e fria hoje, também é culpa deles.

Estão mortos, mas ainda vivos em minha memória.

Por tanto tempo não sai da bolha em que vivia, o mundo lá fora não me importava em nada e muito menos imaginava o que as pessoas passavam... Tinha tudo do melhor, conforto, acomodada — por que iria me preocupar com fulano ou ciclano?

Depois vi que foi um erro grave, a desigualdade no Brasil é uma coisa que tem pouca repercussão nos grandes.

As pessoas passam fome, ainda passam e é só: "Foda-se? Olha meu novo relógio de 500 reais".

Os ricos e milionários estão pouco se importando com quem morre de fome ou pelas condições precárias.

Por isso passei a ajudar as pessoas mais necessitadas, não sei o amanhã e não gostaria que se estivesse delas, ninguém me estendesse a mão e até fingissem que sou inexistente. Fingir que não estou ali implorando por uma migalha miserável dos restos que caem dos bolsos dos poderosos.

Dinheiro pra jogar para o alto, mas a que custo? Por cima de quem? Eu não estou usufruindo disto, não estou feliz. Já tenho tudo que poderia querer: joias, roupas de griffe, casa boa, carros adaptados.

꧁ 𝙲𝚘𝚗𝚝𝚛𝚘𝚕 ꧂Onde histórias criam vida. Descubra agora