𝗟𝘂𝗰𝗶𝗲𝗻.

Nem sei como encarar Violet depois dos últimos dias, nos tornamos estranhas... Frios um com o outro.

Não vi Tadeu novamente e nem Arthur, talvez estejam fazendo trâmites juntos e com a parceira icônica da Raquel... Que vou ter que ver hoje.

Procuro meu crachá que caiu em algum lugar, foi uma das novas ideias de organização da empresa que Unai e Violet implantaram.

Talvez a sonsa tenha tido participação, não sei afirmar com total certeza.

Ergo a cabeça para ir olhar a movimentação do hall e vejo que eu menos imaginava ver aqui tão cedo.

Ou é muito imbecil, ou está querendo ser expulso na base do espancamento... Talvez se a loirinha achar um tijolo taque na cabeça dele.

Tadeu se dirige a sala dela e todos os funcionários andando pelo local ficam chocados ao vê-lo cometer tamanha audácia. Corajoso... Burro, mas corajoso.

Antes que o idiota cruze a porta da sala, um estrondo ecoa por toda a extensão do hall e os alguns funcionários se assustam.

— Ninguém se mexe. — Ordena a voz familiar e logo alcanço da dona dela...

Tadeu fica perplexo e até acho que considera muito abuso da parte da mulher interromper o que pretendia fazer.

Se sente o rei do mundo.

A mulher pálida acompanhada de dois homens fortes e de roupas escuras+óculos pretos —, caminha calma e elegante até o arrogante pretensioso.

— Tadeu Schmidt, vire e coloque as mãos para trás. — Manda firme e inexpressiva.

O sem noção não entende nada e franzi as sobrancelhas, incrédulo.

— Como é? — Pondera com ar de superioridade não movendo um só músculo do lugar.

Kate retira um documento do bolso e quase esfrega no rosto dele, a postura rígida e confiante.

Polícia Federal, agente Kate Zamurco, o senhor está sendo preso por falsificação ideológica, perseguição, lavagem de dinheiro e outros crimes às quais saberá quando chegar na delegacia — Kate pronuncia cada crime com uma perfeição elegante e potente.

Logo faz Tadeu se virar bruscamente e põe as mãos dele atrás do quadril algemando o par de olhos azuis.

Todos ficam boquiabertos vendo a cena. Agora notei uma arma presa ao suporte que tem no canto direito da cintura dela, debaixo do sobretudo preto que usa.

Uma espécie de espiã?

...Estava este tempo todo vigiando Tadeu. E eu nunca imaginaria que é uma agente federal.

Será que eu fiz parte do plano?

— Tire estas porcarias de mim sua vadia — Dispara Tadeu, extremamente furioso e inconformado, mexendo os pulsos desconfortáveis no objeto de ferro puro.

Kate lhe dá um puxão pelas próprias e o faz gemer alto de dor.

— Cale a boca, ou eu calo por você — Ordena ao pé do ouvido dele e sai levando-o preso feito um animal hostil e selvagem.

Lança um olhar rápido a mim sem nenhuma emoção e segue para fora, onde têm uma captiva preta em parte estampada  pelas marcas da policial federal já com a porta traseira aberta para colocá-lo nela e um homem sério de > quarenta anos usando óculos escuros como os outros e uma camisa preta com distintivo no peito —, não notei que estou aqui fora acompanhando a repercussão que isto causou.

Tadeu é um criminoso bem pior do que eu pudesse um dia chegar a pensar.

Uma multidão pura desordem se amontoa à frente da empresa, todos se empurrando e a maioria espremida, tão espremida que só se dá para erguer o braço com o microfone e tentar tirar algo proveitoso para uma matéria —, desde fotógrafos até repórteres, diversos profissionais da mídia estão aqui transmitindo o caso. Certamente ao vivo.

Uma vergonha para o tão "correto", e profissional que julgará Violet como incompetente e incapaz.

Kate e seus companheiros agem como se a multidão desesperadamente insuportável não estivesse aqui. Extremamente calmos e cumprindo seu dever.

Mal consigo pensar em falar diante disto.

— Já suspeitava que ele era um criminoso pelos rumores que correm pela empresa. — Ouço a voz de fumante dela ao meu lado, se mantém fria e de cabeça erguida.

— Talvez tenha te contado, vocês gostam de conversar nos corredores não é? — Jogo na roda sua atitude traidora.

Raquel dá um sorrisinho, perigosamente calma.

— Vou ver aonde Unai está, ele sim é relevante — Raquel se vira, mas não avança nenhum passo.

— Melhoras para o braço. — Olha de relance e se vai. Sei que foi uma pontada irônica.

Saio rumo a sala de Violet entrando de volta no hall e deixando a numerosa quantidade de profissionais aqui fora.

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Estou sentindo falta dela, me sentindo um idiota por ter escondido (e ainda esconder) coisas sérias.

Aqui nesta sala fria diante de muitas pessoas, a coisa mais gelada é nosso contato visual. Cheio de mágoa.

— Muito bem, reunião encerrada. — Finaliza a loira após ouvir a última sugestão de mudança para a empresa.

Mal disse duas palavras, não consigo concentrar em nada.

Todos saem e a sala fica vazia. Só resta nós dois e a grande distância no sentido sentimental que temos.

— Vai me ignorar por quanto tempo mais. — Questiono fixando os olhos nela.

Violet suspira e fecha as pálpebras.

— Não estou te ignorando, só não quero ter que escolher entre vocês dois... É muita coisa para minha cabeça. — Massageia as têmporas tensa.

— Não precisa escolher, eu quero o seu bem... E se sua irmã te faz, não irei contestar sua escolha. — As palavras arranham minha garganta como arame farpado.

Coloco a mão sob a sua e Violet não a afasta.

— O quê aconteceu com seu braço? — Percebe e fica preocupada tocando levemente o local com a tipoia azul.

— Nada demais, estava ajudando minha vó e acabei caindo... Logo fica melhor. — Respondo não querendo falar sobre isto agora, é irrelevante.

Violet sorri, gentilmente.

Preciso falar sobre Tadeu, antes que tudo fique pior e a confiança seja quebrada de uma forma que não se possa reparar.

— Não quero te perder... Tem uma coisa que não contei. — A loira respira hesitante.

— Diga tudo, tudo de uma vez só. — Pede muito séria e cansada de que eu oculte informações.

— Eu vi com meus próprios olhos a víbo... Sua irmã conversando com Tadeu na recepção. — Mesmo que a imensidão azul pareça não acreditar, sua expressão facial restante diz o contrário.

Abismada.

— Por quê Raquel faria isto? — Se auto questiona o olhar perdido na sala fria.

— Não faço ideia... Seria melhor que perguntasse à ela, talvez consigo uma resposta sincera pela relação das duas estar tão fluída. — Realmente não quero que fique mal, todavia foi necessário dizer.

Não colocarei a frente da minha própria situação, a da irmã sonsa dela.

Tirei o chão da loirinha, destruí qualquer vestígio da pouco instável confiança que tinha na irmã. É visível nos seus olhos.

꧁ 𝙲𝚘𝚗𝚝𝚛𝚘𝚕 ꧂Onde histórias criam vida. Descubra agora