𝑳𝒖𝒄𝒊𝒆𝒏.

Confesso que não sou tão atraente, nem muito menos sou cheio de modos excepcionais — todavia tenho educação e sou gentil sempre que posso.

Não costumo ficar irritado com facilidade, mantenho a calma... Agora situações como as de Tadeu e a da festa são bem difíceis de ser um anjinho amarrado na coleira.

Comporte-se e mantenha a postura.

Já ouvi meu pai dizer isto tantas vezes sobre eu estar diante de pessoas ricas e importantes. Não importa o que eu faça para me esforçar em ser refinado, devem me achar um selvagem.

— Lucien, onde está a Violet? — Ouço uma voz conhecida e uma mão robusta pousa no meu ombro sem pressão.

Unai.

— Está tomando café no refeitório. — Informo tirando o foco da planilha impressa nas minhas mãos.

— Vou viajar esta semana e pretendo ficar muito tempo por lá, preciso informá-la sobre algumas coisas. — Explica gentilmente e retira a mão do meu ombro.

Ele passa a mão sob os cabelos pretos e grossos, escorridos e sedosos.

— Vai viajar para onde? — Unai sorri parecendo gostar de responder à pergunta.

— Amazonas, vou para minha tribo. — Um sorriso justo toma sua face e os olhos se estreitam pouco, formando pés de galinha na lateral dos olhos.

Não deve ter mais que cinquenta anos.

— Pensei que morasse aqui... Tivesse nascido em São Paulo. — Unai nega num movimento sutil e ajeita o terno no peito largo e rústico.

É um homem bem revestido em massa muscular.

— Eu vim bem cedo para cá, mas não esqueci minha origem, nasci no Amazonas na mata, é meu lar lá. — A forma como menciona sua região é cheia de prazer e orgulho.

Não é para menos.

Se eu tivesse oportunidade, estaria num lugar tão bonito e em contato com os animais.

— Vou até ela, tchau Lucien. — Avisa agitado e vai se distanciando.

— Se cuida. — Respondo e ele acena sorrindo rápido, deixando o hall rumo ao elevador que dá até lá embaixo onde fica o refeitório.

O momento de ontem não sai da minha mente, sinto um borbulhamento só de sentir o toque dela — como se estivesse aqui e fazendo de novo.

Aqueles dedos macios, aquele perfume. Me deixam desnorteado só de pensar.

— Bom dia. — Levo um susto tão intenso que derrubo o papel das mãos.

É Kate.

Minha imaginação se misturou com a realidade. Melhor tomar cuidado.

Rapidamente pego os papéis e contemplo o sorriso fechado delicado dela.

— Bom dia. — Devolvo meio sem graça e dou um beijo na bochecha rosada dela.

Esta bem pouco movimentado aqui, menos do que antes às 9:00.

— Está muito ocupado? Queria conversar com você. — Sua mão alisa meu ombro descoberto, eu nego em resposta a sua pergunta.

— Pode ser em outro lugar? Violet pode não gostar de me ver sem fazer minha obrigação. — Kate parece desconfortável.

— Se importa com o que ela acha? — Sua incredulidade exige uma resposta óbvia.

꧁ 𝙲𝚘𝚗𝚝𝚛𝚘𝚕 ꧂Onde histórias criam vida. Descubra agora