Dias depois.

𝐿𝑢𝑐𝑖𝑒𝑛.

Aconteceu. O que eu mais temia aconteceu.

Ele se foi e eu tive a dor de estar junto a ele quando aconteceu.

Minha vó não se surpreendeu muito, já sabia. Os espíritos deles eram de algum modo conectados. A paz chegou para ele.

Ela entende, mas dói do mesmo modo como está doendo em mim.

— Vai em paz pai. — Solta da mão dele e são as únicas palavras que consigo falar em meio a choro incontrolável.

Nunca estarei preparado, nunca estive.

A morte. O sono do qual você nunca mais volta. Chega para todos, velho ou novo, rico ou pobre — branco ou negro.

Não há escapatória, não há como enganá-la.

Minha infância foi bem pobre, simples e dolorosa em alguns momentos. Não por não ter o que comer por uma ou duas semanas... Mas sim por ele, Santiago. Meu pai. Se esforçava tanto para me dar de comer, que doía quando não conseguia. Doía mais do que a fome.

Ver que não podia dar o melhor... O básico — que para mim já era suficiente só pela sua luta e esforço.

👩🏼‍🦼

Desolado, fiquei horas chorando no ombro da minha vó. Amparo que posso contar... Sei que logo não estará mais comigo também.

Sua saúde é delicada e o risco de ter um infarto é enorme. Qualquer coisa que a deixe nervosa acarretará nisto.

Sofro só de imaginar este dia chegando.

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Caminho rumo à sala da Violet e bato na porta, mal ligo para os olhares curiosos sob mim e meus olhos carregados de choro.

Quando não obtenho reposta, entro na sala e encontro Raquel sentada à mesa da irmã.

Parece bem calma e concentrada.

— Lucien? Precisa de ajuda? — Questiona prestando atenção em mim, coisa que menos me importa agora.

Estou desnorteado e minha mente não funciona tão bem depois do que houve hoje de manhã.

— Quero falar com a Violet, sabe onde ela está? — Não movimento os pés para adentrar mais a sala.

Raquel levanta da cadeira e caminha até mim devagar, parecendo receosa com cada passo que dá.

— Aconteceu alguma coisa. — Afirma analisando meu rosto de ponta a ponta.

— Meu pai, faleceu hoje de manhã e preciso entregar a certidão à Violet. — Informo tentando conter o choro. Lentamente o espaço entre a loira e eu não existe mais e suas mãos se envolvem nas minhas costas após um olhar por cima do meu ombro.

Um abraço de pêsames. Consolador.

Deixo-me levar para dentro dos seus braços confortáveis e seguro o máximo que posso as lágrimas insistentes e pesadas.

Abraço Raquel aceitando seu gesto gentil.

Queria que fosse outra pessoa a me consolar agora..., mas me conformo com a atitude empática de Raquel.

— Se acalme... Pode contar comigo, entendo como se sente. — Sinto o esfregar leve das suas mãos nas minhas costas e o abraço se torna quente. Desabo no seu ombro coberto pela camiseta preta.

Só quero desabar agora. Não pensar em mais nada.

Quero correr para os braços dela. E não sair de lá por um bom tempo.

Minutos depois.

Raquel foi resolver algumas questões e prometeu que iria procurar a Violet por mim... estou esperando sentado no escritório da minha chefe.

Entrando pela sala com uma calça legging preta, tênis nike de cor igual e camiseta preta básica mangas longas parecida com a de Raquel. Vejo a loira se aproximar.

Quero movimentar meu corpo, mas não consigo.

— Lucien... Eu... Sinto muito. — Consola esticando a mão e alcançando a minha sob a mesa.

Num gesto calmo, Violet me chama para mais perto e eu levanto devagar, paro em sua frente e logo ajoelho a sua altura.

— Conte comigo para o que precisar. Tire quantos dias quiser para se sentir melhor. — Seus braços finos me envolvem com força e eu só consigo chorar sem controle do próprio corpo.

Nenhum movimento meu.

— Só desabafe, fique tranquilo. — A voz sussurrante feito os ventos frios de uma montanha atinge meus ouvidos enquanto uma mão solitária acaricia meus cabelos loiros. Conforto, sinto conforto nos braços da Violet.

— Seu pai está orgulhoso de ti, esteja onde estiver. — Brada quase inaudível.

A sala parece sumir diante de nós e só existe ela e seu amparo.

Acabo sumindo em seus braços que têm o que nenhum outro tem.

꧁ 𝙲𝚘𝚗𝚝𝚛𝚘𝚕 ꧂Onde histórias criam vida. Descubra agora