𝐋𝐮𝐜𝐢𝐞𝐧.

Não vi Raquel por estes dias na empresa. E nem sei o porquê de vir aqui diariamente também.

Arthur é sinceramente a pessoa mais irritante e incomunicável que já tive o desprazer de conhecer.

Só sabe reclamar e pôr suas sugestões/ ideias e argumentos acima do qualquer ser humano que o conteste ou tente se expressar.

— Sua função aqui e organizar a agenda da Violet e da empresa LUCIEN, não está fazendo isto direito. — Berra comigo pela 6. ª consecutiva.

Jogo os papéis na mesa da minha sala e retiro o colete preto que estou vestindo por cima da camisa social branca.

— Acredito que você deveria abaixar o tom de voz primeiramente. — Faço gesto indicando diminuição.

Arthur fica perplexo, incrédulo.

— Não se esqueça que você aqui é vice- presidente. — Dou ênfase nas palavras.

Negaria uma discussão, mas estou farto já.

Mandão. Insuportável. Irracional.

— Violet sabe muito bem quem escolhe para administrar esta empresa, então não admito que me dê ordens ou questione minha capacidade. — Aponta o dedo para mim.

Poderia fazê-lo engolir esta porcaria de dedo e estou prestes. Juro.

— Ela tem minha confiança... Será que tem a sua. — Questiono sendo sincero.

Arthur abaixa o dedo e se aproxima indignado.

— Não sou só eu que dúvida da sua capacidade. Mal consegue escutar os outros, é um idiota egocêntrico e irracional. — Arthur ferve de ódio e continua silencioso.

— Seu atrevido, vai ver quem Violet é de verdade e será tarde demais... Só está aqui por quê agradou o gosto particular dela por homens. — Dispara letra por letra, afrontoso.

Diminuo a distância entre nós dois ficando cara a cara com ele.

— Experimenta ofendê-la na minha frente. Só experimente. — O afronto sem um pingo de medo.

Não concordamos em praticamente nada mesmo. Mas não vou permitir que use Violet como moeda em jogo.

Arthur solta um risinho debochado.

— Estava aqui antes de você imaginar pisar num Império como este, então tome cuidado Hernández, pois seria fácil demais te derrubar. — Ameaça na tentativa de me intimidar.

Precisa mais Arthur, bem mais.

Afasto-me um pouco e coloco os dedos a uma distância boa no peito dele.

Toma cuidado você, porquê falar da Violet mais uma vez, garanto que não vai ter capacidade para falar mais nada ao sair por esta porta. — Estou doidinho para vê-lo abrir a boca novamente e tirar o queixo empinado dele do lugar.

Arthur estremece e os ombros ficam rígidos.

— Como é? — Estreita as pálpebras incrédulo e eu junto cruzo os braços inclinando o tronco um pouco para frente.

— Eu gaguejei? Ou seu ouvido não está bem limpo? — Brado provocativo.

Enfiar a mão na cara deste imbecil fará meu dia inteiro.

Arthur suspira se contendo e sai da minha sala, sem dizer mais nada... Ah! Não, ele disse: "Vá se foder".

Pensou que poderia pintar e bordar comigo e eu aguentaria calado por muito mais tempo. Redondamente equivocado.

Preciso organizar meu escritório e meus pensamentos.

Penso que Arthur foi demitido e pelos murmúrios parece que Unai está voltando do Amazonas.

Um caos, tudo está um caos.

— Bom dia, Lucien. — Ouço uma voz doce e grave atingir meus ouvidos.

Raquel.

— Bom dia. — Respondo concentrado nas coisas que estou arrumando pelo escritório. Raquel fecha a porta atrás de mim.

— Podemos conversar? — Pergunta inexpressiva mantendo a postura ereta e elegante.

Encosto o quadril na mesa e cruzo os braços indicando que podemos com a mão direita.

— Estive pensando... Em como minha irmã administra a empresa. — Caminha casualmente e começa a contornar a mesa.

— Violet é muito... Digamos que ela não se importa com opiniões alheias. — Não sei onde Raquel quer chegar usando deste tom persuasivo.

— Já se perguntou como poderiam ser as coisas caso fosse outra pessoa que administrasse? Quantas melhorias poderiam ser feitas... Minha irmã nunca sequer perguntou como você se sente em relação à seu trabalho? — Murmuro negando.

— Vamos parar e analisar Lucien... As condições de trabalho estão começando a ficar precárias, um desleixo não acha. — Não consigo pensar na resposta agora.

Citando os pontos negativos da empresa — o quê Raquel pretende com isto?

— Horário de descanso, folgas premium e remuneração... Tudo isto poderia ser acrescentado se alguém  tivesse a oportunidade. — Raquel quer me convencer de algo.

Misteriosa, astuta.

— Sabe o que significa uma revolução? — Afirmo que sim. Raquel se aproxima e alisa meu ombro logo tirando grãos de poeira invisíveis. Sinto seu respirar e o calor do seu corpo próximo demais.

— Direitos Lucien, vocês trabalhadores têm direitos e precisam reivindica-los. — Um tom muito específico, ardiloso.

As íris verdes parecem querer me seduzir a algo maior.

— Violet nos trata bem na medida do possível... Não merece um protesto ou motim. — Busco palavras no emaranhado da mente.

Raquel sorri e inclina um pouco o rosto para o lado.

— Se me permite dizer, julgo que é ingênuo. Conheço a loira a mais tempo que você e é nítido que não importa os seus interesses e necessidades. Violet sempre estará um passo a frente e cegará seus olhos antes que pise na fronteira. — Raquel lança o aviso e retira as mãos finas de meus ombros se afastando.

— Pense nisto Hernández, pode ser benéfico para todos e inclusive para ti. — Raquel anda devagar mexendo os quadris numa sensualidade leve até a porta.

Magnífica.

— Deixe só entre nós. — Fala por fim utilizando a estranha persuasão e sai olhando por cima do ombro.

Intensa como a escuridão sombria da noite.

E doce feito o sol beijando o mar nas tardes alaranjadas do horizonte.

Por quê justo comigo? Não agir na própria cautela e esconder tais pensamentos "revolucionários", para si própria? Revelar a um estranho. Mal me conhece e tem tal confiança em mim? Ou isto é bem mais embaixo do que imagino.

Mistério.

꧁ 𝙲𝚘𝚗𝚝𝚛𝚘𝚕 ꧂Onde histórias criam vida. Descubra agora