Something?

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Chegamos a pequena casa cor de creme que chamava de lar um mês atrás.

E lá estava ela, a heroína da minha vida aqui, com seu sorriso amável e braços abertos para nos receber, aquela que ousei até a chamar de vó e me respondeu com o olhar mais sincero do mundo: Rose.

-Meus pequenos vieram!- disse chegando mais perto e nos abraçando fortemente.- Que saudade de vocês!

-Eu também vó...- Dissemos ao mesmo tempo.

-Entrem amores! Tenho certeza que tem várias novidades de Londres!- Falou se sentando em sua poltrona.

Como de costume, nos sentamos no tapete fofinho e começamos a falar, como um rádio no volume máximo.

-Recaptulando, Lisa é modelo e eu mato as pontas dos meus dedos em cordas de aço- Essa é a melhor das definições que já ouvi.

-Só isso?- Perguntou desconfiada

-Ja falamos de quando fiquei "doente"?- Doente entre muitas aspas

-Três vezes... E você estava doente!- Ele ainda insiste

-Mais alguma coisa?- Que essa mulher quer saber a mais?

-Não...- dissemos juntos mais uma vez, ou tinha?

-O amigo bocudo de vocês já me contou, só quero ouvir das boquinhas de vocês- disse apertando nossas bochechas.

-Estamos juntos...- Falamos corando de vergonha

-Querem que eu finja que não sabia?- Eu ainda mato Peter pela fofoca- Agora subam e descansem. Vão precisar de energia pra arrumar as decorações de natal- Pediu beijando nossas bochechas.

E assim fizemos

-Que saudade dessa cama!- Falei me jogando na colcha macia. O quarto estava exatamente como deixamos a um mês atrás.

-Tem certeza? Sente saudade disso?- Falou se jogando sobre mim enquanto tentava não cair.

-Talvez o tamanho não seja um dos melhores- murmurei com a cara enfiada no travesseiro

-É uma boa desculpa pra fazer isso- Alguém tem um vício em beijos no pescoço...

-É uma ótima desculpa...- respondi entrelaçando minhas pernas em sua cintura.

E beijos iam e vinham, arrepios iam e viam, eu diria que até tapas e mordidas foram trocadas.

E então quando um passo restava, batidas na porta.

-Agora sinto falta de casa...- falei me deitando na cama.

-Ainda não foram pro banho? Vou ter que contar até 3?- Rose do outro lado da porta dizia.

-Pode ir primeiro Lisa...

-Pode ir você...- eu estava tão confortável ali...

-Já disse que não me importo de esperar- o mais velho falava se sentando na cama.

-Vão se decidir logo ou vou mesmo contar até 3?- gritava ainda do lado de fora- Parece que não fazem isso todos os dias! Já deviam ter uma regra de quem vai primeiro!

-Nunca decidimos vó...- Falou o mais alto abrindo a porta- Normalmente vamos ao mesmo tempo- sussurrou para Rose

-Sem esses absurdos no meu banheiro!- Repreendeu batendo em seu braço

-Mas quem disse que são absurdos? Que mente é essa dona Rose?- Falei com as mãos na cintura e segurando a risada

-Exatamente! Não tem indecência nenhuma se a senhora quer saber, é só que desaprendemos a fazer isso sem ajuda...

-Se eu descobrir desse tipo de ato dentro do meu banheiro vocês estão lascados...- Falou já se rendendo ao riso

-Quem a senhora acha que somos? Pervertidos loucos como coelhos? Esses jovens só pensam nisso...- O mais velho dizia rindo depositando um beijo na bochecha da avó.

E conseguimos a banheira para nós! Aquela água quente quase me fez dormir.

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Em algum momento de ontem dormimos, quando? Não tenho idéia, mas sei que acordamos.

-Ovos, leite, açúcar, canela, maçãs, passas, ovos...- Eric dizia como uma metralhadora no meu ouvido.

-Ovos? Denovo?

-É Natal, sabe quanto se usa de ovo?- Perguntou pegando a terceira cartela do dia

-Precisamos mesmo das uvas passas?- eu odeio elas, sempre estão em todos os lugares da mesa.

-Infelizmente sim...- gostava tanto quanto eu, nem um pouco.- Se prepara, arroz com passas, salada com passas, frango com passas, passas com passas- reclamava pesando a sacola com as benditas frutinhas

-Podemos decorar biscoitos?- falei enquanto pegava um dos kits infantis das prateleiras

-Sabe que isso é para crianças não é?- Adulto chato...

-Sei. Mas por favor...- Falei fazendo biquinho

-Por que não uma garrafa de uísque?- disse pegando uma das garrafas

-Uísque é coisa de pessoas velhas e chatas tipo você. Biscoitos são para crianças felizes que tem o espírito natalino vivo- falei chegando mais perto do carrinho.

-Eu sou um velho chato então?- concordei com a cabeça, podia ter dezoito anos, agia como um idoso rabugento às vezes...- Como os jovenzinhos devem respeito aos mais velhos, eu que decido- Completou com seu indicador na ponta do meu nariz.

Passamos quase 20 minutos nessa briga boba ente biscoitos e uísque, e foi declarado empate, consegui meu kit de crianças e ele conseguiu sua garrafa amarga.

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-Trouxeram o rum para o bolo?

-Sim vó...

-E o vinho para a carne?

-Aqui...- falei tirando a garrafa da sacola.

Nem sei como carregamos aquilo até em casa, tinha 3 vezes o meu peso.

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-Lisa não pode parar de mexer a calda senão queima..- Rose ja disse isso tantas vezes que deve estar cansada de repetir.

Eu não conseguia concentrar no que fazia quando a visão da janela era simplesmente o amor da minha vida.

Eu não sei como dava tão pouca importância quando estava no futuro, e se isso não estivesse acontecendo provavelmente nunca daria.

Os cabelos lisos refletiam a luz do sol como ouro, olhos brilhavam como bolinhas de gude, eram simplesmente encantadores, e seu sorriso simplesmente me desarmava completamente, não tinha nenhum problema que ele não conseguisse resolver, tinha o rosto tão perfeitamente desenhado que poderia ser uma pintura.

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Terminamos com os doces e pude descansar, eu estava morta de cansaço e cheirava a todo tipo de receita que pode imaginar.

Pra quem não costuma cozinhar eu fui até que muito bem.

E hoje descobri que modelar é muito mais a minha cara do que confeitar, era tão complicado não deixar os cantos queimarem, ou não deixar as coisas congelarem, e se deixar algo no forno mais tempo que o necessário já era...

Eu estava tão esgotada que nem lembrei dos meus biscoitinhos de gengibre...






It's going wrongOnde histórias criam vida. Descubra agora