Record

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Fiquei travada no tempo por alguns minutos, nesse curto período não consegui nem prestar atenção nos barulhos a minha volta, eu estava só imaginando como seria a minha vida se aquela sugestão se tornasse real, eu não tenho a mínima capacidade de cuidar de plantas, vou conseguir cuidar de uma vida? Fora o fato de que realmente não temos tempo para isso, nunca paramos quietos em casa por mais de um mês, esse foi o nosso tempo recorde, eu não ia ter tempo hábil de cuidar do meu próprio filho, tem também o fato de que nem casados somos! E se de repente tudo isso for por água abaixo? O que eu realmente me assusta e eu nem consiga imaginar acontecendo, é possível, não provável. E nossas carreiras? Não acho que seriam destruídas, mas seria complicado, não sabem que estamos juntos, eu não queria ter que anunciar isso junto com uma gravidez de repente.

Era coisa demais correndo nos miolos do meu cérebro, a tontura só aumentava com isso, um medo gigante se instalou em meu peito, eu não posso estar gerando um ser, não tem nada crescendo no meu útero nesse momento, nem sei porquê estou considerando essa suposição, não foi do nada, tem outras justificativas para meu enjoo matinal, e as chances de ter sido aquele vinagre maldito são muito mais altas do que de ser uma gravidez, a não ser que eu faça parte do 1% da população em que preservativos falham.

Encarei aqueles olhos castanhos tão desesperados quanto os meus, por mais que eu conseguisse notar um pingo de esperança naquele olhar, era uma vontade e eu sei que era, mas esse é um dos momentos que precisamos  nos esforçar ao máximo para sermos racionais, sem coração agora, a razão precisa tomar controle.

-As chances são quase zero Lizzie- Tentou me acalmar negando com a cabeça.

-Como sabe? E se em um dia esquecemos? Um único dia em que não lembramos?- Eu dizia desesperada ainda e com o coração a milhão dentro do meu peito.

-Elisabeth, precisa manter a calma!- Segurava meu rosto enquanto algumas lágrimas queriam fugir dos meus olhos.

-Não dá pra manter a calma agora! E se for? Pode ter alguma coisa crescendo dentro do meu corpo nesse exato momento e- 

-Condoms Elisabeth!- Fui cortada do meu surto, eu estava paranoica, é claro que funcionam, não tem porquê não funcionarem comigo- Não esquecemos Lizzie, sabe que não, era uma brincadeira, não precisa de todo esse desespero só porquê comeu uma salada de origem duvidosa em um avião.

-Com você não...- Um murmúrio vindo do baterista me fez tremer por dentro.

-Don't be stupid!- Respondi engolindo em seco a brincadeira fora de momento- Já perdemos um bom tempo aqui com essa teoria tosca e improvável, sinto que alguém aqui tem compromissos às nove- Completei me recompondo e apontando para os dois. 

-Exato! Foi uma ótima visita Peter, mas se nos dá licença...- O outro dizia enquanto empurrava o mais alto quarto afora batendo a porta logo em seguida- Não está levando isso a sério não é? Era uma piada, as chances são minusculas

-São minusculas, mas não são zero- Murmurei com o rosto em seu pescoço, por mais que eu tentasse afastar os pensamentos, era inevitável que eles voltassem a tona poucos minutos depois- Devíamos parar de pensar nisso e começar a pensar em que roupa vestir- Mudei de assunto me virando e procurando pela mala em um dos cantos.

Isso dura muito mais tempo que parece, eu fico em dúvida sobre quem é mais insuportável com relação a roupas, levamos tanto tempo escolhendo isso para no fim das contas usarmos a mesma que planejamos. 

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Tem pouco tempo que chegamos aqui, e esse estúdio é nada menos que enorme, com o pé direito alto e escadas longas de madeira, janelas grandes e uma decoração que eu queria enfiar em uma bolsa e levar pra casa.

Encontrei um sofá de couro ali e me acomodei por lá, esse vai ser meu melhor amigo nos próximos dias, vai ser entediante passar tanto tempo aqui, mas vê-los tocar é tão encantador que não me incomodaria em passar horas e mais horas ouvindo e apreciando.

Óbvio que tudo seria mais simples se as discussões não fossem insuportáveis, era realmente divertido estar lá, nada comparado com o único dia em que passei com os meninos na Inglaterra em 64, mas essas brigas longas e frequentes me fizeram deixar a sala diversas vezes, eu nunca esperei tanto que o horário de almoço chegasse, chegava a ser triste presenciar aquele inferninho que se formava de tempos em tempos, a música que faziam era incrível demais pra ser deixada em segundo plano por esses conflitos idiotas.

-Ice cream?- O ouvi sussurrando em meu ouvido enquanto seu braço se enrolava em minha cintura, concordei imediatamente sorrindo, eu só queria sair de lá um pouco e respirar um pouco de ar puro.

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-Já se arrependeu de ter vindo?- Perguntou sentando ao meu lado enquanto mais uma colherada do sorvete de morango entrava em sua boca.

-Não, eles dois são como crianças que se passarem dois minutos sem supervisão se matam, mas não é o suficiente pra que eu me arrependa- Respondi rindo e procurando por algum guardanapo na mesa.

-É bom que acostume, vai ter que passar por isso de novo daqui a um mês...- Avisou levantando o rosto para que eu pudesse tirar o excesso do creme rosado que estava espalhado por todo seu rosto.

-Vou ter que passar por isso se eu aceitar...- Murmurei mesmo sabendo que eu aceitaria, não importava pra onde.

-Vai aceitar, ninguém nega ir pra Paris- Disse selando meus lábios, uma explosão de alegria misturada com ansiedade apareceu em meu peito, Nova York era linda, mas com certeza não se comparava com a cidade luz!

Não consegui ao menos falar, puxei seu corpo para perto tão rápido que não sei como sua cabeça não pulou do lugar, tantos beijos estalados em seu rosto que perdi as contas.

-Não achei que fosse ficar tão feliz assim- Riu retribuindo o abraço, o que ele pensou que ia acontecer? É uma reação esperada de alguém que nunca pisou na França. 

-Ele é insuportável!- A voz do ruivo se fez presente na pequena sorveteria que estávamos, quebrando nosso momento de comemoração sobre a viagem, Deus sabe como nos encontrou aqui, o que importa é que encontrou, e agora vamos ter de ouvir todas as suas lamentações sobre as brigas que teve durante a tarde...  

It's going wrongOnde histórias criam vida. Descubra agora