18 de novembro de 1963, eu estava arrumando as últimas peças de roupa dentro de malas, em pensar que pouco mais de um mês atrás só tinha 3 vestidos...
Ainda não conseguia acreditar que estava realmente me mudando para Londres, pode parecer uma decisão simples mas era muito arriscado, eu não tinha um emprego garantido lá, e um só pagando todas as nossas novas despesas não ia ser possível. Por mais que nossa liberdade em Ripley seja quase zero, temos certeza que todos os dias teremos refeições perfeitas, água quente e luz funcionando, não pagavamos por nada disso, agora seria diferente...
Fora as contas que sabíamos que iam chegar todos os meses sem falta, ainda não tínhamos móveis, eletrodomésticos, e nem passava perto da nossa realidade ter um carro.
-Agora não tem mais volta Elisabeth..- repetia para mim mesma tentando me consolar.
Pela última vez fui até a livraria, tinha que pegar meu salário do mês, afinal precisava comprar coisas chegando em Londres. Eu ia sentir tanta falta desse lugar...
Peter e Stuart passaram o dia comigo, sabiam como era complicado o que eu tinha que enfrentar agora.
Infelizmente era hora de ir, deve imaginar as milhares de recomendações que recebemos esperando o trem...
-O detergente de maçã é o pior, se puderem evitem ele, o neutro é a melhor opção sempre. Não esqueçam de olhar as datas de vencimento e quando chegarem lá façam uma caixinha de primeiros socorros. Já disse que tem que deixar o trigo aberto na geladeira?- Rose repetia pela centésima vez essa manhã
-Nem temos uma geladeira vó...- Eric dizia olhando seu relógio
-Algum dia vão ter, e precisam saber onde guardar o trigo aberto!
Eu esperava que estivesse certa.
Hora de oficialmente dar tchau...
-Sabem que amo vocês não é? vou ligar sempre que possível e tentar escrever sempre!- Dizia enquanto abraçava Peter e Stuart- Ah vamos tentar voltar para o natal, e ano novo também! E não esqueçam de mim!
-Acha que é possível esquecer de você?- Peter falou rindo
-E vai ser ótimo se vier no natal! Eu vou sentir falta dos problemas que eu te ajudei a resolver...- Stuart disse secando lágrimas.
Eu ia sentir tanta saudade desses dois...
-Sabem que a porta sempre vai estar aberta não é?- Rose falava com as mãos em nossas bochechas- Não esqueçam de me ligar quando chegarem, e sempre que possível! E cuidem um do outro meus amores...- Completou nos abraçando
Entramos no trem e encontramos nossos lugares. Não ia ser uma viagem muito longa, mas com certeza seria entediante, afinal não tinha nada que pudesse me entreter ali a não ser jujubas e uma revista velha.
-Que tal tentar dormir? Deve ajudar a passar o tempo..- O mais velho perguntou enquanto deixava a fumaça escapar por meio de seus lábios
-Não consigo...- Respondi apoiando minha cabeça em seu ombro- Eu não consigo relaxar, e se der tudo errado?
-Não vai dar errado Liss...- Tomara- Quer um?- perguntou me oferecendo um de seus cigarros
-Não vou gostar disso... eu tenho certeza- e tinha certeza
-Tenta vai...- Disse enquanto o posicionava em meus lábios.
E experimentei, nada de incrivel, mas nada de terrível. Pelo menos nos entreteu pelo resto da viagem.
Pouco depois chegamos, exaustos, mas chegamos.
Pegamos o primeiro táxi que vimos pela frente e fomos em direção a nossa nova casa.
Muito diferente de Ripley, levamos quase meia hora no carro, que falta as ruas vazias fazem...
Chegamos em um apartamento de tijolos com janelas brancas, não parecia muito grande e luxuoso, mas era alguma coisa.
Subimos enfim abrimos a porta e pudemos ver o que era nossa vida agora.
Uma sala espaçosa com janelas grandes que iluminavam todo o ambiente, a direita uma porta nos levava a pequena cozinha de piso quadriculado, seguindo em frente uma porta ao fundo apresentava um pequeno quarto, apenas uma cama de casal e uma cômoda velha de madeira, ao lado da porta do quarto um pequeno banheiro com azulejos brancos e azuis.
-E então? gostou?- Ouvi perguntar colocando as mãos em minha cintura- Ainda está meio sujo e vazio, mas é nosso agora.
-Eu amei! É o lugar perfeito!- Disse pulando em seu colo
-Graças a Deus!- Falou rindo- Agora temos que correr, precisamos ir no mercado e ligar pra Rose... ela vai ficar louca se não receber esse telefonema hoje...
E assim fizemos, conseguimos um telefone com um de nossos vizinhos e logo depois fomos ao mercado, tem um perto do nosso novo apartamento (nem acredito que eu realmente estou dizendo isso) o que deixa tudo mais rápido.
Amanhã temos que começar a cuidar da mobília, temos muito trabalho pela frente...

VOCÊ ESTÁ LENDO
It's going wrong
RandomElisabeth é nada além de uma adolescente clássica, loucamente apaixonada pelos Beatles, com seus dezessete anos recém completos, enfrentando uma pandemia, Elisabeth se encontra com a oportunidade dos seus sonhos ao seu alcance, uma volta ao tempo lh...