It's going wrong

Back home

Foram quatro dias até que divertidos se ignorarmos as brigas insuportáveis e o volume mais que absurdo daqueles amplificadores, foram gravações incríveis que certamente resultarão em um álbum encantador, minha ansiedade mal me deixa dormir imaginando como o resultado e aguardando avidamente pelo momento em que teria aquele disco na prateleira. 

Outro fato que tem atrapalhado meu sono é a saudade de Maxine, aquela bolinha peluda roubou um lugar no meu coração tão rápida e abruptamente que nem imaginava que fosse possível, mas confio o suficiente em Jim para que cuide dela o tempo que for necessário, nunca vi ninguém gostar tanto de animais como ele, e quando digo animais quero dizer qualquer um, roedores, aves, peixes, todos eles, e por conta disso tenho absoluta certeza de que Max está segura e sendo muito bem tratada enquanto estamos aqui. 

Hoje é o último dia que passamos aqui, malas já estão prontas e posicionadas estrategicamente ao lado da porta de entrada, não há mais nada para fazer, a não ser dormir e se preparar para as horas no avião de volta para casa.

Meus enjoos não voltaram a aparecer, o que reforça a minha teoria de que foi por conta da salada que comi na vinda, e que obviamente enfraquece a teoria de Ginger sobre a gravidez, por mais que não desista dela nunca, afirmando que existem sintomas diferentes de pessoa para pessoa e que é melhor não descartar a ideia para que caso seja não ter maiores problemas, mesmo eu tendo certeza de que não é, perto dele é melhor não abusar de álcool, cigarros ou qualquer outra coisa que possa ser prejudicial ao meu bebê imaginário, a não ser que queira ouvir horas de sermões.

Fui cortada dos meus pensamentos quando senti braços passando ao redor do meu corpo, não pensei duas vezes antes de me aninhar ali, era confortável e o calor de um corpo que acabou de sair da água quase fervente me fez esquecer de todo o resto que passava na minha mente naquele momento. 

-Ansiosa?- Falou baixo enquanto beijos estalavam por minha bochecha.

-Para?-Perguntei caçando por sua mão no meio dos cobertores.

-Voltar para casa, achei que estivesse com saudade de Max, ou do conforto de não terem gritos nos seus ouvidos a cada quinze minutos- Riu bocejando logo em seguida.

-Tirando Max e esses surtos de berros inesperados, não muito, na verdade, quem sabe Nova York não é meu lugar?- Contei com os olhos já pesando pelo sono.

-Se for seu lugar temos problemas, tenho certeza que não é o meu, essa vida agitada de várias pessoas na rua, prédios altos e táxis buzinando sem parar não é exatamente o estilo de vida que eu imagino pra mim- Explicou de forma simples- Acho que alguma coisa mais tranquila e reservada, o interior de Surrey é bom o suficiente pra mim. 

E nesse momento que eu parei pra pensar, como pessoas com planos de vida tão diferentes estão montando uma história juntos? Temos ideias totalmente contrarias umas as outras quando o assunto é futuro, eu adoraria viver dessa maneira, com muitas ''pessoas nas ruas e prédios altos'', enquanto isso, prefere coisas calmas e sem muito aborrecimento, eu nunca me imaginei carregando o título de 'mãe', e parece que esse é um dos desejos mais puros da sua alma, e outras várias coisas em que divergimos ao longo do curso da vida, mas como não tem atrapalhado em nada, é melhor só ignorarmos esses pontos.

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Não precisamos acordar no meio da madrugada dessa vez, depois do cansaço que ficamos viajando de manhã, todos nós acabamos cedendo a ideia de viajarmos pela tarde, o que quer dizer que não precisamos sair sem comer, nem correr contra o tempo ou lutar contra as próprias pupilas já quase fechando, quer dizer também que tivemos como comprar mais vários sacos de marshmallows em forma de coelhinhos, e por muito pouco não esqueci de comprar a bendita estátua da liberdade que Jim me pediu, eu não podia voltar de mãos abanando de qualquer modo, e talvez isso faça parte da estratégia para que aceite cuidar de Max no mês que vem quando formos viajar, o próximo destino vai levar menos tempo que esse, mas mesmo assim não vou confiar a vida da minha gata nas mãos de Margareth.

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Chegamos menos cansados, ainda eram seis da tarde, o que é um tanto confuso, passar seis horas em um avião, chegar aqui e sentir que só passaram três horas é como voltar no tempo, pela terceira vez na vida.

Tínhamos tempo mais que suficiente para buscar Max na casa de Jim, eu só queria agarrar aquele amontoado de pelos cinzas que formavam a criatura mais adorável de toda a terra.

Ainda no aeroporto, o mesmo homem que pegou nossas chaves na ida, nos devolveu, não pensamos em mais nada a não ser em sair em disparada até a casa de Jim para resgatar nossa filhota e levá-la de volta ao lar que pertence, digo resgatar porquê não duvido que Jim queira emendar nossa volta de Nova York com a ida para Paris no mês que vem, e nesse meio tempo nosso bebê ficaria de refém em sua casa.

Buzinamos tantas vezes por segundo que não sei como aquela buzina não explodiu, Jim apareceu no portão pouco depois, o que foi pura sorte já que não avisamos que estávamos chegando e o encontrar em casa no meio da tarde é quase impossível. 

Saí correndo ao seu encontro o abraçando fortemente, senti saudade dele também, óbvio, mas queria que esse ato de cumprimentar fosse o mais rápido possível.

Pouco depois eu estava sentada em seu sofá com meu pequeno bolinho cinza no colo, eu senti saudade se seus miados e do seu calor todos os dias sem exceção.

-Novidades?- O baterista pergunta voltando da cozinha com xícaras de café quente em mãos.

-Suspeitamos uma gravidez, descobri que posso passar mal com vinagre, que não vamos morar em Nova York e que meus ouvidos aguentam muito mais volume do que eu imaginava- Expliquei rápido e sua expressão mudou bruscamente.

-Achou que estava grávida?- Seria bem chato de explicar isso...