Puzzle

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-Eu acho que perdemos alguma peça...- Eu falava enquanto olhava por baixo da mesa.

-Se perdemos uma peça todo o trabalho foi em vão...- O outro dizia enquanto encaixava as pecinhas.

Nós ganhamos um quebra cabeça enorme de Peter, tinha 1000 peças e devia formar o mapa-múndi se não tivessemos perdido algumas peças da América do Sul.

-Achei a Argentina!- o mais velho gritava com umas três peças.

-E o Brasil? Perdemos a Oceania também...

-Peter achou que ia ser uma boa idéia nos dar isso? Não temos o mínimo de responsabilidade pra cuidar dessas coisas complicadas

Era verdade. Não somos nem um pouco responsáveis em relação a isso.

Eu já tinha me irritado com aquele mapa maldito, levamos dois meses pra começar a montar por falta de tempo, começamos porque alguém falou que era ótimo para "esvaziar a cabeça", mentira, isso é a coisa mais estressante que eu já fiz, as peças eram minúsculas e entravam debaixo dos móveis o tempo todo, fora o fato de que perdemos a nossa mesa pra apoiar esse negócio gigantesco já que não tinha como tirar de lá.

-A oceania! Encontrei a Oceania!- O outro gritava caído no chão com a peça que faltava.

E então batidas na porta, isso sempre acontece, estamos em qualquer situação e alguém chega, esse apartamento tem visita o tempo todo, seja pra jantar, almoçar, dormir aqui, ficar horas sem fazer nada, passar a madrugada rindo de coisas bestas...

-Entra!- Gritei do sofá, logo depois a porta abre- Jim!- berrei enquanto corria pra porta

-Ótima notícia Lisa! Ótima!- Ele parecia bem feliz com alguma coisa.- Consegui um carro!

Isso era muito bom, quer dizer que temos dois carros agora e não precisamos nos espremer junto com os instrumentos no carro de Paul, 6 pessoas, duas guitarras, um baixo e algumas partes de uma bateria, sem esquecer dos amplificadores e outros cabos dentro de um carro pequeno era bem complicado e desconfortável.

-Quer dizer que não precisamos mais quebrar as leis da física sobre "dois corpos não ocupam o mesmo espaço"?- o outro perguntou se levantando e vindo em nossa direção.

-Exato!- Jim exclamou nos puxando pra um abraço.

E daí vieram todas as informações sobre um carro que eu não sei o que significam, motor não sei o que com sabe se lá quantos cavalos, vidros de tal jeito, banco de couro irlandês e mais algumas outras coisas idiotas.

-Agora que tem companhia pra terminar aquele mapa demoníaco ali eu posso ir- O mais alto dizia indo até a porta.- Keith pediu ajuda com alguma música que ele quer, segundo ele é "muito mais simples de ensaiar com o violão"

-E por que ele não chama Chris?- Jim se meteu

-Porque ele sabe que eu sou muito melhor que ele- Respondeu rindo e indo embora.

-Como aguenta o ego dele?- Boa pergunta, eu não sei- E qual é a do mapa demoníaco?

-Esse quebra cabeça imenso que ganhamos de natal. Não falta muito mas perdemos o Brasil...- Respondi me sentando no chão ao lado da mesa de centro.

-Esse aqui?- o mais alto perguntou com a maldita peça em mãos.

-Como encontrou isso? Tem horas que estamos procurando por essa endiabrada!

-Mas estava no sofá o tempo inteiro...- Respondeu rindo e colocando a peça no lugar.- Agora tem que terminar com a Oceania

Só três peças a mais e tinhamos terminado com o mapa, o que eu ia fazer com ele agora? Não tinha idéia...

-Podem fazer um quadro, ia ficar bom encima da cama...

-Já temos um quadro pra colocar ali... Talvez naquela parede ali, a da vitrola...- Falei desanimada apoiando minha cabeça em seu ombro- Que fome... Vem comigo- Concluí me levantando e o puxando pela mão até a cozinha.

Tínhamos algumas tortinhas de chantilly na geladeira, comprei ontem e esqueci pra lá, como eu não ia cozinhar alguma coisa agora, apelei pra elas mesmo.

-Lisa, seu nariz...- Falou enquanto levantava meu rosto limpando o creme branco dali- Por deus parece uma criança...

-Jim! O seu nariz!- Falei pegando um pouco e passando em seu rosto.

-Ah Elisabeth!- Reclamou enquanto revidava com mais chantilly

-Calma! Vai sujar seu cabelo...- Falei subindo em seu colo e afastando os fios macios

-Quer ajuda com isso?- Perguntou levantando meus cabelos, eu nem sei o motivo, mas uma onda de arrepios me invadiu de repente.

E assim seguimos na nossa briguinha boba de creme aqui e ali. Óbvio que com alterações, já nos sujavamos de propósito, já sabíamos onde era sensível um no outro, e os dedos da limpeza foram logo substituídos por bocas...

-Pescoço sujo Liss...- Foi proposital? Foi. Mas não deixava de ser ótimo.

E então tudo começou a sair dos trilhos, botões pulavam pra fora das casas, suas mãos apertavam minha cintura e as minhas emaranhadas em seus cabelos, era como ar, não só queríamos aquilo, precisávamos daquilo de forma desesperada.

-Esquece esses doces idiotas, não precisamos mais dessa desculpa- Falou apoiando um deles sobre a mesa

-Acho mais seguro trancar a porta...

-Sem dúvidas- e fomos até lá cambaleando e tropeçando em todos os móveis possíveis, eu não estava disposta a me afastar daqueles lábios macios nem tão cedo.

Eu já não tinha quase que nenhuma peça em meu corpo que pudesse atrapalhar o que precisávamos agora, estávamos completamente entregues.

-Ainda tem certeza?- me perguntou já ofegante, eu não tinha mais capacidade de falar, só balançar minha cabeça já foi mais que o suficiente.

E lá íamos nós, arrepiando, chamando um pelo outro, tremendo, respirando pesadamente, não queríamos nos soltar de forma alguma, era o momento perfeito.

E a bomba explodiu, como sempre, as batidas do coração se reorganizam, a respiração se acalma, os cabelos estão livres dos puxões anteriores, nossas cordas vocais descansavam e nós ainda tentávamos compreender o que tinha acontecido, foi tão loucamente intenso e sicronizado, estavamos em perfeita sintonia...

E agora? Agora era esperar que eu compreendesse o que acabei de fazer, e obviamente sentisse a culpa sobre meus ombros, mas eu não pensava em nada disso agora, minha mente estava ocupada com outras coisas...

It's going wrongOnde histórias criam vida. Descubra agora