19- VECCHI AMORI (Amores antigos)

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Já pela manhã, ele não estava mais lá. A casa continuava silenciosa, um silêncio quase ensurdecedor. Precisava me levantar e buscar notícias da minha irmã mesmo que me assombrasse a hipótese de perdê-la. Não demorou e eu já estava asseada e vestida. De hoje não passa! Estava prestes a descer as escadas e um homem alto, parecia familiar, cabelos longos e lisos, olhos tão azuis quanto os de Piero, acho que daí vem a familiaridade, entrou porta a dentro.

- Quem é você?

- Guero Fontana.

- E o que faz no meu quarto, Guero?

- Piero pediu, na verdade ele berrou, para que eu ficasse de olho em você.

- Eu não preciso de uma babá. - Cerrei os dentes, em protesto.

- E nem eu quero ser babá de uma mulher feita... Mas... Piero é obcecado por segurança e essas coisas, ou seja, enquanto ele não confiar em você, nós dois vamos nos ver muito.

- Não mesmo!

- Você não entendeu ainda, não é? Não é uma opção. Piero manda e quem tiver juízo, obedece.

- E você tem medo dele? - Caçoei.

- O que? - Riu. - Claro que não! Piero é um irmão para mim. Minha única família, por isso me sujeitei a isso.

- Por que você e não qualquer outro capanga?

- Ah, Lucrézia! Você é importante para ele. Não é qualquer uma, é a esposa dele. E eu sou de confiança. -

- Que bom que me lembrou, já estava achando que eu era um bichinho de estimação. Aliás, é o que parece. - Revirei os olhos.

- A fama de arisca que te persegue é verdadeira.

- Por um caso, está insinuando que sou uma pessoa difícil de se conviver?

- Não, estou afirmando mesmo.

- Hum, parece que não sou a única sem filtro por aqui.

- Tem toda razão. Não sou de medir minhas palavras.

- E vai me espionar, para depois contar tudo para o seu primo?

- Exatamente. Que bom que estamos nos entendendo. - Ele abriu um sorriso largo.

- Stronzo! - Mantive a serenidade, apesar de querer esfolar esse tal Guero.

- Giusto, giusto! Onde pretendia ir? - Apontou para minha bolsa na cadeira.

- Atrás da minha irmã. - Tomei a bolsa nas mãos e fui para a saída.

- Vou com você, posso até te dar uma carona. - Conseguia ouvi-lo mesmo estando em movimento pelos corredores da casa.

[...]

- É aqui! - Guero apontava para mansão através dos vidros do carro.

- Já volto. - Sai rapidamente do automóvel.

Na frente do imóvel, bati na grande porta de entrada, feita de madeira e com alguns detalhes folheados a ouro. Calma! Não era nada espalhafatoso, era um trabalho delicado, sutil mas de fato imponente, assim como os Caccinis. A fachada me lembrava a mansão do Nonno Francesco. Era estranho, que ali fosse uma das casas da minha família e eu nunca ter nem pisei o pé lá, até hoje. E Lucera atendeu.

- Onde está Graziela?

- Eu juro para você que tentei de tudo. - Uma pitada de remorso tomou conta do semblante da minha prima.

- O que aconteceu, Lucera? - A preocupação denota a minha voz.

No fundo eu sabia, mas tinha esperanças de que estivesse errada.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia) - 01 [Danatto Sangue]Onde histórias criam vida. Descubra agora