Já pela manhã, ele não estava mais lá. A casa continuava silenciosa, um silêncio quase ensurdecedor. Precisava me levantar e buscar notícias da minha irmã mesmo que me assombrasse a hipótese de perdê-la. Não demorou e eu já estava asseada e vestida. De hoje não passa! Estava prestes a descer as escadas e um homem alto, parecia familiar, cabelos longos e lisos, olhos tão azuis quanto os de Piero, acho que daí vem a familiaridade, entrou porta a dentro.
- Quem é você?
- Guero Fontana.
- E o que faz no meu quarto, Guero?
- Piero pediu, na verdade ele berrou, para que eu ficasse de olho em você.
- Eu não preciso de uma babá. - Cerrei os dentes, em protesto.
- E nem eu quero ser babá de uma mulher feita... Mas... Piero é obcecado por segurança e essas coisas, ou seja, enquanto ele não confiar em você, nós dois vamos nos ver muito.
- Não mesmo!
- Você não entendeu ainda, não é? Não é uma opção. Piero manda e quem tiver juízo, obedece.
- E você tem medo dele? - Caçoei.
- O que? - Riu. - Claro que não! Piero é um irmão para mim. Minha única família, por isso me sujeitei a isso.
- Por que você e não qualquer outro capanga?
- Ah, Lucrézia! Você é importante para ele. Não é qualquer uma, é a esposa dele. E eu sou de confiança. -
- Que bom que me lembrou, já estava achando que eu era um bichinho de estimação. Aliás, é o que parece. - Revirei os olhos.
- A fama de arisca que te persegue é verdadeira.
- Por um caso, está insinuando que sou uma pessoa difícil de se conviver?
- Não, estou afirmando mesmo.
- Hum, parece que não sou a única sem filtro por aqui.
- Tem toda razão. Não sou de medir minhas palavras.
- E vai me espionar, para depois contar tudo para o seu primo?
- Exatamente. Que bom que estamos nos entendendo. - Ele abriu um sorriso largo.
- Stronzo! - Mantive a serenidade, apesar de querer esfolar esse tal Guero.
- Giusto, giusto! Onde pretendia ir? - Apontou para minha bolsa na cadeira.
- Atrás da minha irmã. - Tomei a bolsa nas mãos e fui para a saída.
- Vou com você, posso até te dar uma carona. - Conseguia ouvi-lo mesmo estando em movimento pelos corredores da casa.
[...]
- É aqui! - Guero apontava para mansão através dos vidros do carro.
- Já volto. - Sai rapidamente do automóvel.
Na frente do imóvel, bati na grande porta de entrada, feita de madeira e com alguns detalhes folheados a ouro. Calma! Não era nada espalhafatoso, era um trabalho delicado, sutil mas de fato imponente, assim como os Caccinis. A fachada me lembrava a mansão do Nonno Francesco. Era estranho, que ali fosse uma das casas da minha família e eu nunca ter nem pisei o pé lá, até hoje. E Lucera atendeu.
- Onde está Graziela?
- Eu juro para você que tentei de tudo. - Uma pitada de remorso tomou conta do semblante da minha prima.
- O que aconteceu, Lucera? - A preocupação denota a minha voz.
No fundo eu sabia, mas tinha esperanças de que estivesse errada.
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Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia) - 01 [Danatto Sangue]
Romance"Na vingança e no amor a mulher é mais bárbara do que o homem." - Nietzsche. Lucrézia Caccini é uma jovem geniosa e cheia de opiniões, de vinte anos, que já sofreu muito na vida. Nem sempre ela foi distante e arredia, mas os assassinatos, sequestros...