58 - SCINTILLA (Fagulha)

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O simples resvalar dos dedos dele contra minha pele foi o suficiente para me fazer esquecer como respirar, perder o compasso das batidas do coração e recuar dois passos pra trás

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O simples resvalar dos dedos dele contra minha pele foi o suficiente para me fazer esquecer como respirar, perder o compasso das batidas do coração e recuar dois passos pra trás. Ele estava lá, na minha frente, mais magro, recluso, olhos opacos e cabelo entupido de gel.

— Desculpe. — A voz parecia fraca, igual seus músculos fadigados e cerceados por uma pressão externa sobre ele.

— Eu...é... — Ah! Também tinha esquecido a forma de se falar. Maravilha!

— Precisamos conversar. — Os olhos mantiveram-se fixos no meu e logo recuei.

— Não temos nada o que conversar.

Foi isso que repeti todas as vezes subsequentes nas quais Piero tentou entrar em contato comigo, da mesma maneira cuja meu corpo ficava em alerta, uma enxurrada de hormônios a flor da pele, até acostumar com a presença dele no mesmo local, sem trocarmos palavras, olhares diretos ou permitir expor o sentimentos verdadeiros. Virou um jogo de gato e rato, nos escondíamos enquanto não fosse tolerável admitir que chegamos ao fundo do poço.

Porém, diferente da minha vida pessoal, os negócios continuavam indo de vento em polpa. Com a aprovação do Conselho, Afonso e eu conseguimos colocar o quíntuplo de produto nas ruas e pretendíamos aumentar conforme as semanas avançassem. É claro, para nós era excelente, ao contrário dos Romenos que estavam putos da vida com o novo fornecimento e negociações. O produto do Cartel Florez era melhor que o deles, o mercado se abriu para nós sem dificuldade e em menos de 1 mês já poderíamos começar a exportação para o resto da Europa.

Dragos Popovic, o dragão da Romênia, sentiu o impacto do nosso avanço no bolso e iniciou um árduo trabalho de suborno e fechamento dos postos de exortação a fim de manter seu precioso império sustentado pela cocaína intacto. Esse era certamente o meu maior problema atual, tirando o grande elefante branco na sala (Piero), e Benito me mandando novas ameaças de morte a cada dia, dia sim membros decepados, dias também animais eviscerados e dias talvez recadinhos hostis.

O cassino principal permanecia sob meu domínio, tinha homens avessos ao comando do louco do meu tio, aqueles ainda leais a bastardia de Salvatore do meu lado. Passamos a viver uma guerra silenciosa, já que não podíamos nos atacar diretamente sem destruir tudo ao redor. Cobrei favores, roubei suas cargas durante as transferências, ataquei as contas falsas em paraísos fiscais, Edoardo no fim era um gênio da tecnologia, preso em um corpo musculoso e nenhum senso de responsabilidade; Della Rovere, "com certeza", ficou muito feliz em ajudar a impugnar os alvarás de funcionamento das 3 filiais de Milão. A cartada final de uma semana exaustiva, em que andei escoltadas pelas ruas, de casa a joalheria, da joalheria ao cassino. E, ainda assim, me sentia vulnerável.

— Por que mudou o caminho, Renzo? — Perguntei ao motorista que estava vidrado no retrovisor, depois de notar a virada brusca em uma esquina não habitual.

— Só um pressentimento, senhora. Está tudo bem. — Seus olhos não concordaram com as suas palavras.

— Estão nos seguindo, Renzo?!

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia) - 01 [Danatto Sangue]Onde histórias criam vida. Descubra agora