50- ACCORDO TRA AMICI (Acordo entre amigos)

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Estava feito. Saveiro foi libertado e só tive que ameaçar alguns guardas, mas mal sabiam eles que era a última missão de suas vidas. E não, não me sentia pior por colocar a vida deles em risco, não eram inocentes, escolheram ser criminosos. Uma pena que tiveram que cruzar o meu caminho, os seguranças não poderiam viver para contar a Piero que eu mandei soltar Saveiro e muito menos caírem nas mãos erradas dos D'Angelos.

A morte era a solução; e usar os favores antigos que Giuseppe me devia foi crucial para isso.

Viver como se não tivesse acabado de tomar a decisão mais ilógica, no entanto, eu não conseguiria. Entrei e saí da faculdade sem assistir uma aula sequer porque não podia seccionar e compartimentar meus pensamentos. A ansiedade corria pela minha corrente sanguínea, fragilizava meu corpo e derretia meu autocontrole.

Me nervos borbulhavam contra a pele e quando cheguei em casa, ao invés de achar conforto, encontrei um novo problema: Piero tinha sido preso.

— Como assim Piero foi detido, Matteo?

— O juiz Della Rovere. Ele queria aumentar a porcentagem dele dos carregamentos e Piero se recusou. Daí mandou a polícia aqui com um mandado de prisão.

— E você deixou?

— O que poderia fazer? Atirado em 3 policiais armados? — Moveu os ombros, informando o óbvio. — Ficou maluca, Lucrézia?

— Ele não pode ser preso agora. Não é a hora para isso! — Esfreguei o rosto, desgostosa.

Piero não podia cair enquanto eu não permitisse pois se ele estava frágil, minhas aspirações de poder também estavam. Derrubar um só problema é mais fácil do que derrubar 4 famílias em guerra pelo poder.

Merda!

— Calmomilatti. Vou levar o advogado à delegacia e vai ficar tudo bem.

— Vou resolver essa bagunça antes de piorar. — Informei ao me arrumar para sair.

— Piero deixo bem claro que não queria você na delegacia sob hipótese alguma. — Matteo tocou meu braço, em advertência.

— Não se preocupe. Vou resolver do meu jeito. — Dei de ombros, mas não sem antes ouvir o murmúrio de Matteo.

— É disso que tenho medo.

[...]

No amplo escritório com vista para o centro da cidade, encarei as fotografias da criança que deveria ser apenas alguns meses mais velha que Graziela, ela sorria ao ser jogada para alto pelo homem de cabelos grisalhos e barba densa. Juiz Della Rovere era pai e esposo, além de um judiciário sujo.

— Senhor Della Rovere, — saudei, sentada na sua cadeira presidencial, no seu escritório, no seu território, com um sorriso cínico nos lábios — estava mesmo lhe esperando.

— O que quer aqui? — A voz grave estreitou-se pela garganta que acabara de engolir a seco.

— Você tem uma linda filha.

Acariciei o porta-retrato prata com a ponta da pistola e vi de esguelha os ombros do homem retesarem. Ele se aproximou de modo instintivo, porém logo estancou quando apontei a arma na sua direção.

— Seria uma pena se algo acontecesse com ela, não é? — Ri, ao indicar com a mira para que ele se sentasse.

Sua boca não disse uma palavra ao passo que os olhos me fuzilaram. Deveria me sentir mal por ameaçar uma criança e equiparar-me ao velho Martinelli, porém, nada veio a não ser a sensação de poder efervescente que brotava das minhas entranhas e os anos na posição de vítima da violência gritando por liberdade a qualquer custo.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia) - 01 [Danatto Sangue]Onde histórias criam vida. Descubra agora