52- NO, MAMMA! NO! (Não, mamãe! Não!)

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 — Você mentiu para mim. — Ele esmurrou o volante.

— Eu não menti. Omiti. É diferente. — Fingi não me importar com o velocímetro aumentando gradativamente e olhei pela janela.

— É a mesma coisa, Lucrézia! Me enganou bem debaixo do meu nariz.

— Vai bater o carro assim. — Gritei quando chegou a 280 km por hora na rodovia lotada.

— Cazzo! Responda. — Esgueirou-se entre dois caminhões e meu coração saltou pela boca.

— Eu e Matteo — comecei e só então Piero desacelerou um pouco — , foi uma única vez, está bem?! Só uma vez. — Puxei o ar do fundo dos pulmões. — Erámos jovens e solitários e é só isso que precisa saber.

Talvez porque não desejava alimentar o ódio de Piero antes da hora certa ou ainda não quisesse admitir para mim mesma um dos maiores erros da minha vida. Pois jamais iria esquecer daquela que tinha sido a primeira vez em que nos beijamos, no auge dos meus 13 anos, apesar de não ter sido a última. Sempre que precisávamos um do outro, estávamos lá, em todos os sentidos da palavra precisar. Era acalentador quando necessitava ser. Estar nos braços do Matteo foi o meu único conforto durante anos, e, sim, eu sabia o quanto era errado. No entanto, não foi isso que me parou, simplesmente fui quebrada demais, em algum momento, para deixar-me ser tocada por ele, ou qualquer outro homem, além de Piero.

Não era culpa do Matteo. Também não foi minha culpa, mas só hoje pude enxergar com clareza. Não direi que era uma menina inocente, afinal, nunca fui, porém, ainda era uma menina e ele, maldito seja ele, me arruinou para sempre.

Arrigo foi meu amor juvenil, Matteo e eu, crescemos demais antes de hora, da forma que podíamos nos adaptar a vida. E Piero, bem, meio para um fim e continuará sendo isso, não importa como meu corpo implorasse por ele.

— E o baby chapo da Joalheria?

— O quê? — Arqueei a sobrancelhas em uma expressão de confusão forjada para me ausentar da resposta.

— Seu velho amigo. — Soltou o volante com intuito de enfatizar as aspas com os dedos livres, como se tom ácido já não tivesse feito.

— Não te devo explicações.

— É minha esposa...

— Sim, sou sua esposa e nem por isso pergunto sobre todos os seus casos antes do nosso casamento. Casamento de mentira, deixa eu te lembrar. — Cuspi as palavras.

— Você me pediu confiança e estou tentando todos os dias te dar um voto de boa fè, mas nenhuma vez fez por onde. — O ronco do motor denunciou a pisada forte de Piero sobre os pedais. — Sempre que pode, mente, manipula e distorce as circunstâncias ao seu favor. E, sinceramente, eu cansei disso. Quer ser tratada como uma esposa de conveniência? Tudo bem, é assim que vai ser a partir de agora. — Seus olhos encontraram os meus.

O azul mais escuro das bordas tomou o brilho central, seus olhos ficaram truculentos feito uma tempestade que se apoderava de um céu límpido no verão. Cada linha do rosto se empenhou em expressar a raiva que vinha acumulando nos últimos dias, dos meus tropeços que haviam sidos atenuados pelas ações de Saveiro. Eles foram expostos até a última gota e diferente daquilo o qual imaginei vir a seguir: gritos, móveis quebrados, palavras duras e frias comandadas pelo calor do momento e nossos corpos unidos do jeito mais nocivo possível; nada aconteceu depois da ameaça velada de Piero.

Ele dormiu sozinho naquela noite e eu não dormi remoendo os erros idiotas que me permiti cometer.

Era estranho sentir a pontada de culpa perfurar meu peito sem aviso prévio. Piero não explodiu e isso sim me preocupava, pois nos entreolhamos, sobretudo, com raiva. A dele, sem dúvidas, mais acentuada que a minha, como se ele tivesse aprendido comigo a guardar a mágoa para usar depois.

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia) - 01 [Danatto Sangue]Onde histórias criam vida. Descubra agora