42- UCCIDIMI, TI PREGO! (Me mate, por favor!)

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—  Agora sim! Está bem melhor

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— Agora sim! Está bem melhor. — Disse, satisfeito, enquanto apertava mais os nós nos meus pulsos, já sentada no sofá, a contragosto. E ele continuava mirando a 9mm na minha cara.

— Vaffanculo, porco maledetto!

— Vou cortar sua língua e te fazer engoli-la até sufocar no seu próprio veneno se não calar essa maldita boca. — A arma de fogo foi arrastada pelo meu rosto, bem devagar, acompanhada pelo sorriso tétrico ilustrado na face de Saveiro. — Hai capito, Lucrézia?

Como se correntes de aço e grades altas me deixassem completamente inerte e impotente, acorrentada, era assim que me sentia nesse momento. A sensação do metal gelado roçando no meu rosto se equiparava à morte, que eu imaginava ser tão gelada quanto o cano da arma dourada dos D' Ângelos.

A minha morte, voltar com Saveiro significava a minha morte. E, de fato, preferiria a morte do que me sujeitar aos caprichos de um lunático, alcoólatra e patologicamente carente de novo.

Cheguei a abrir a boca para soltar um comentário maldoso e sem nenhum filtro.

— Não, não, não! — Saveiro não me permitiu continuar. — Eu vou falar e você vai ficar quieta. Nós já vamos para casa, bambola, e terá a oportunidade de me contar para onde mandou sua irmã.

— Patético! — Ri. — Nunca mais vai ver a Graziela. Nunca, seu doente do caralho!

O som dos tiros zuniram nos meus ouvidos, tão alto e tão assustadoramente límpidos que mal pude distinguir a dor lancinante no meu ventre e o barulho do revólver sendo engatilhado novamente. Meus pulmões se esvaziaram e me engasgava ao buscar por ar, este, por sua vez, aparentava ficar a cada instante mais rarefeito.

No entanto, esperava que o meu sangue jorrasse no carpete e tingisse todo o móvel de vermelho, ou ao menos minhas roupas, e surpreendi-me quando percebi que nenhum dos três tiros efetuados encostou em mim, apenas a coronhada violenta no abdome que me tirou o fôlego e fez meus membros tremerem.

Ainda me contorcia, completamente dolorida e imaginava a formação dos novos hematomas — o brinde ilustre da visita de Saveiro —, e ele se aproximou, despejou a arma engatilhada em cima da mesinha de centro e a usou como roleta, prestes a disparar a qualquer momento, com um singela fumaça saindo pelo cano devido a combustão recente. Cada giro era um passeio pelas lembranças de infância, desde que deixei de espiar atrás da porta para ser obrigada a ver homens chorando de dor, com os corpos desmembrados, sendo torturados nos porões dos cassinos D' Ângelo.

— Onde diabos você enfiou minha filha? — A mão direita dele repousou sobre a pistola, demonstrando que ele possuía o poder ali, ou achava isso.

— Vai pro inferno! — rangi os dentes.

— O próximo vai ser no seu joelho — olhou para o revólver —, e depois vou te fazer chorar que nem uma garotinha. É isso que é, uma garotinha petulante e malcriada.

— Você me criou ou já esqueceu?

— Criei muito mal. Devia ter te castigado mais quando tive chance. Andiamo, Lucrézia! Facilite as coisas pra nós dois: Me diga onde Graziela está, nós vamos para casa e você vai ter o que merece.

— Só volto para aquela casa morta!

— Que assim seja então.

Mal pude engolir a saliva travada na minha garganta e respingos grossos do líquido viscoso com cheiro marcante banharam meu rosto, minhas roupas, tudo. Tudo estava coberto de sangue. Os gritos que tanto prendi, saíram estridentes e sem nenhuma resistência minha. Já não aguentava mais ser forte e permiti que toda a dor guardada fugisse, desesperada, apavorada e imóvel.

A mão direita de Saveiro ainda estava sobre a pistola, mas já não era controlada por ele. O punho ao qual ela deveria fazer parte, jorrava sangue, os ossos, à mostra junto com a carne, a pele repuxada e lacerada. Afinal, por dentro, os D' Ângelos são humanos e fracos como qualquer outra pessoa.

No chão, Saveiro urrava de dor e segurava o braço decepado com a mão que lhe restava, tentando conter o sangramento enquanto a lâmina longa e afiada era arrastada sobre o vidro ensanguentado da mesinha de centro por Piero. A maldita katana em contato com o vidro produzia o som nefasto, como quando Vicenzo a usou para cortar a cabeça do meu avô, que estremecia todos os meus sentidos, os arranhões batucavam na minha cabeça muito piores que as pancadas de Saveiro, o suco gástrico ameaçava subir pela porta do estômago e despejar o pouco que comi hoje para fora.

Meus gritos envoltos em lágrimas ácidas e tempestuosas não foram o suficiente para refrear a ira de Piero, mais uma vez o vi se transformar em alguém controlado pela raiva, indiferente à dor alheia. Piero batia em Saveiro sem pausas, furioso, os punhos logo ficaram tão vermelhos quanto a grande mancha no carpete. E eu não conseguia me mover, não podia tapar os ouvidos e nem fechar os olhos, nem o pior dos pesadelos era tão terrível como essa tarde demonstrou ser.

Em algum instante, entre os gritos de fúria de Piero, os gritos de dor de Saveiro e meus gritos de desespero, me encontrava recolhida num canto mais escuro da sala com os joelhos dobrados, as vestes ensanguentadas, assim como a maior parte do meu corpo ferido, a cordas vocais não emitiram mais sons, além de grunhidos abafados do meu padecimento. As cordas nos pulsos estavam quentes e retorcidas, tal qual meu coração, e minha visão seguia embaçada, não havia certeza absoluta que Saveiro ainda respirava, mas Piero continuava debruçado sobre ele, deferindo golpes e mais golpes, um mais violento que outro.

Um turbilhão de imagens voltava a minha mente, amontoando-se com as futuras lembranças de hoje que ficarão guardadas para sempre na memória. Meu corpo não possuía mais forças, minha respiração acelerada não dava conta de acalmar meu coração desolado. Eu estava me afogando em terra firme, nos mesmos mares truculentos que me lancei procurando fugir da ilha verde que foi minha prisão por toda a juventude.

Com as mãos atadas, literalmente, o desespero exigiu ações que não poderia dar, foi quando, já exausta, comecei a espernear enquanto lançava a cabeça contra a parede atrás de mim. Cada colisão se tornava mais violenta que a anterior, e, desse modo, na dor excruciante e autodestrutiva, encontrei um resquício de conforto.

Antes de perder a consciência, pude jurar encarar Saveiro e visualizar seu sorriso largo escancarado em meio a todo os hematomas que o recobriam.

— Ela vai se matar de tanta porrada — riu, engasgando-se com o próprio sangue.

Depois dessa frase, a clareza dos detalhes não se faz presente. Recordo vagamente de escutar os guardas de Piero entrando, ele gritando, Matteo correndo, um corpo sendo arrastado pela sala, fora o meu, quase sem vida, as mãos sangrentas de Piero tocarem meu rosto e meus olhos encontrando os deles. Ausente de esperanças.

— Me mate, por favor! — Pedi, por fim. 

Continua

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Continua...

Vendetta di Lucrézia (Vingança de Lucrézia) - 01 [Danatto Sangue]Onde histórias criam vida. Descubra agora