04- Jantar à luz de lâminas

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"É fazendo que se aprende a fazer aquilo que se deve aprender a fazer" - Aristóteles

Eliza Armstrong:

A escuridão me abraçava como uma jibóia abraçando sua presa antes de matá-la, apenas alguns flashes de luz guiavam meu olhar dentro daquela sala. Eu segurava a arma o mais firme que podia, mas ainda assim ela tremia em minhas mãos, enquanto eu buscava coragem para puxar o gatilho e acertar os alvos.

A tensão corria por meus músculos, e quando finalmente encontrei forças, puxei o gatilho, assistindo a cápsula metalizada percorrer uma trajetória quase retilínea até chegar ao seu destino final, que mesmo com toda a minha dedicação, passou longe de ser o alvo imposto por meu pai.

— Desleixada! — disse ele em árabe, a voz grossa às minhas costas

— Perdoe-me, pai, não vou falhar novamente! — respondi, no mesmo idioma. Os lábios tremiam graças às lágrimas segurava.

Meu pai odiava aqueles que choravam diante dele, principalmente quando ele queria justamente o contrário.

— Não, não irá! — disse ele, saindo das sombras que se escondia e parando no círculo de luz em volta de nós — Precisa de motivação!

Com um gesto, dois homens afastaram-se dele, sumindo de meu campo de visão, porém, não demorou para que voltassem novamente, mas desta vez, eles traziam consigo algo.

Ao retornarem, ambos traziam um homem com as mãos amarradas às costas, o rosto coberto por um saco, enquanto era arrastado no chão pelos dois brutamontes que o traziam.

Em seguida, os dois largaram o homem ajoelhado alguns metros de distância de mim, para somente neste momento retirarem o saco de seu rosto. Ele era velho — pelo menos, na perspectiva de uma menina de quatorze anos, ele era — possuía uma barba que contornava todo o seu rosto, esta que era muito semelhante à que meu pai tinha.

— Mate-o, Nyssa! — sussurrou a voz de meu pai, próximo de mim — Olhe nos olhos dele e o mate. Faça isso, e você será a verdadeira Al- Muharib

Eu não queria fazer aquilo, só queria largar aquela arma e fugir para longe dali, mas isso era algo incansável. Então, eu ergui novamente a arma, mirando no rosto do homem, e então puxei o gatilho.

...

Acordei em meio ao susto do sonho — ou melhor, da lembrança que tive — era sempre assim quando acordava destes sonhos. A última vez que tive um sonho com a minha vida antes de vir para os EUA foi no ano exato em que resolvi deixá-la, em específico, em 2011.

Eu não sei o porquê destas memórias estarem voltando para me atormentar, mas na realidade eu não ligo, eu só quero que elas parem, só quero que voltem para o descanso em que estavam.

Ao olhar para o relógio ao lado da cama, percebo que são exatas oito horas da manhã, o que significa que eu tenho exatos trinta minutos para me preparar para de fato começar a missão. Em específico, para entrar na empresa dos Lombardi.

Então, de imediato corri para o banheiro, onde coloquei-me a me aprontar. Durante o banho de água quente, tentei desviar minha mente das lembranças antigas, mas tudo que me vinha à cabeça, era o rosto da jovem Eliza de quatorze anos após matar pela primeira vez.

Não, aquela ainda não era Eliza Armstrong. Aquela era Nyssa Al-Makki, filha de Hamurabi Al- Makki, um homem, cujo único objetivo de vida era transformar a própria filha em uma máquina de matar sem se importar em como aquilo iria afetá-la.

Às vezes, eu penso em como minha vida teria sido, se minha mãe — Ashley Bittencourt, uma grande cientista americana — não tivesse se casado com ele, se não tivesse traído o país. Eu não sei como teria sido a minha vida, mas provavelmente teria sido bem diferente do que agora.

A Justiceira {CONCLUÍDA}Onde histórias criam vida. Descubra agora