A Justiceira {CONCLUÍDA}

Epílogo

"As duas cartas mais difíceis de serem escritas são a primeira e a última" - Francesco Petrarca 

Eliza Armstrong:

Eu mal pude acreditar quando olhei no calendário aquela manhã, já era dezembro de 2019, em específico, dia 25 de Dezembro. Os meses após todos aqueles acontecimentos em Nova York passaram tão rápido que eu mal notei quando completou um ano desde que deixei tudo para trás.

Estava nevando em Londres, as músicas natalinas tocavam em todo local da bela cidade inglesa. O cheiro da típica comida natalina exalava em toda a parte; famílias se reuniam em casa para aproveitar a ceia na companhia um do outro. Mesmo com a experiência do natal passado, aquilo tudo ainda assim era novo para mim.

Na realidade, o meu natal em Veneza não foi tão agradável assim, já que passei a maior parte de minha estadia temendo que antigos agentes da HARPIA estivessem atrás de mim — ou até mesmo alguns soldados da Arábia Saudita buscando vingança — de qualquer maneira, para a minha sorte, nada disso aconteceu.

Logo após isso, continuei minhas viagens pelo o mundo — acabei descobrindo que tenho um certo gosto por culturas diferentes — inclusive, recentemente desembarquei novamente em Londres após uma longa estadia na Grécia — em específico, na cidade de Atenas.

Esta noite decidi que não queria ficar mofando diante da lareira — algo que havia se tornado um hábito nos últimos meses — enquanto o mundo comemorava lá fora, por isso, vesti um longo sobretudo vermelho de tecido grosso por cima da calça e da blusa de gola alta preta, calcei minhas luvas escuras e uma bota de cano curto da mesma cor. Logo em seguida fui de carro até um restaurante fino do outro lado da cidade.

Mesmo com dificuldade, consegui percorrer lentamente as ruas cobertas de neve, parando em frente ao estabelecimento. Pela vidraça, era possível ver algumas famílias reunidas em torno de uma mesa, elas riam em conjunto enquanto um provável tio contava uma piada que, mesmo sem graça acabava fazendo todos rirem por ser ridícula. A cena parecia até mesmo ter saído de um comercial.

Em outra mesa mais atrás, um grupo de amigos estava reunido rindo enquanto alguns jogavam algumas ervilhas uns nos outros em uma brincadeira típica de adolescente. Era infantil, é verdade, mas ainda assim eu a achava linda.

Então, eu olhei para mim mesma através do retrovisor do carro. Desde o ano passado, eu havia perdido o jeito de conversar e conviver com outras pessoas, o que era engraçado se você parasse para pensar que eu costumava enganar e socializar tão bem os demais.

A Eliza que era refletida pelo retrovisor do carro não era a mesma que desembarcou em Nova York no ano passado. Não, ela era um novo alguém, que mesmo tentando insistentemente mudar e tentar ser uma pessoa melhor, ainda assim estava sozinha no mundo.

Era impossível olhar para aquele grupo de amigos que riam e não associar a todos os que deixei para trás. Era muito fácil recordar de Anthony — que quase morreu para me salvar — De Damon e Dylan — que apostaram suas próprias cabeças para me ajudar — Até mesmo Hilary — que durante cinco anos esteve comigo dentro da HARPIA. Todos eles fizeram parte de um curto período da minha vida, mas que mesmo assim, marcaram toda a minha história de uma maneira irreversível. E o pior de tudo, eu sentia falta deles, sentia falta de cada um deles.

Com isso, não consegui descer do carro — que inclusive, fazia cerca de dez minutos que eu apenas os observava — então dei partida no motor novamente e retornei para minha casa no Drayton Gardens.

Diante disso, acabei fazendo o que sempre fazia em todos os finais de semana e feriados. Fiquei sentada sobre o tapete próximo à lareira, com um tablet em mãos vendo as notícias acompanhado de uma taça de vinho tinto.