03- Nova York

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"Ser grande é abraçar uma grande causa" - Shakespeare

Eliza Armstrong:

O frio típico da movimentada Nova York entrava se arrastando pela janela do carro em que me encontrava, enquanto eu observava atentamente o movimento do lado de fora do veículo.

Antes mesmo de entrar no avião eu recebi os endereços e informações necessárias. Recebi a chave de um apartamento em Manhattan, que por sinal ficava no coração da ilha, me deixando acessível a todos os demais pontos da cidade.

Quando o carro finalmente parou diante do apartamento, abri apressadamente a porta para sair, esperando o motorista pegar as bagagens que estavam na mala do carro. Assim que o motorista que também trabalha para a HARPIA me entregou as bagagens, abri um sorriso de gentileza para ele e logo dei as costas, caminhando em direção ao lance de escadas para subir em direção ao local que, por um período de tempo, seria minha casa.

Durante a viagem até aqui, procurei ocupar minha mente qualquer porcaria que fosse, já que toda vez que me via imersa em pensamento sem uma coerência definida, acabava me deixando guiar por memórias de alguns anos atrás. Em específico, memórias da Arábia Saudita.

Era algo frequente que acontecia, em específico, sempre que eu embarcava em uma nova missão, as poucas memórias que eu possuía com a minha "família" resolvia aparecer quando na verdade meu desejo era que ficassem trancafiadas para sempre.

Quando abri definitivamente a porta do apartamento, a primeira coisa que vi foi uma grande sala, coberta por móveis em cores claras. Havia um tapete de aspecto fofo de cor branca, seguida por um sofá em formato de "L" em tom de um prata opaco, sem contar com uma grande janela de vista panorâmica que dava para ver facilmente toda a Nova York de um único lugar.

Na cozinha, uma grande ilha luxuosa era o centro das atenções, esta que separava a cozinha da sala em uma estética tradicionalmente americana. Eu estava prestes a averiguar os demais cômodos da casa, quando uma notificação chegou em meu celular, uma que se destacava das demais.

Havia um convite digital enviado pelo e-mail, este que era assinado em nome das Indústrias Lombardi, afirmando que esperava ansiosamente minha presença no local.

Bem, eu estaria presente.

{...}

Diante do espelho, alisava o vestido de tecido branco e com alguns detalhes em preto, que me caía como uma luva. Ele ia até o meio das coxas e possuía um decote em "v" no busto. Meus cabelos escuros estavam devidamente escovados e caíam as minhas costas, enquanto uma gargantilha dourada descansava em meu pescoço.

Quando o farol do carro que me esperava chegou, eu já me encontrava pronta, então apenas alcancei uma bolsa do tipo carteira e desci novamente o lance de escadas, enquanto o salto estalava a cada degrau descido, enquanto eu me aproximava novamente do mesmo carro preto opaco.

Todas as luzes da cidade estavam acesas, os carros passavam apressadamente uns pelos outros. Algumas pessoas caminhavam apressadamente uma pelas outras, algumas vestidas para aproveitar a noite, outras estavam vestidas e com caras de quem iria passar a noite em casa. De qualquer forma, quando a escuridão do carro me abraçou, eu não vi nem ouvi mais ninguém.

Por alguma razão, a lembrança da noite em que eu finalmente corri para a "liberdade" — ou, aquilo que eu achava que era a liberdade — me atacou. Não foi fácil fugir da Árábia Saudita, principalmente em um carro como esse. Também não foi fácil entrar em território americano depois de todo o histórico da minha família. E ainda hoje, nove anos depois, eu me pergunto se eu de fato fiz a melhor escolha.

Na época, escolhi o que me garantiria uma barreira entre o propósito que fugi e eu, e os EUA parecia ser a melhor escolha. Neste caso, a HARPIA parecia ser a melhor escolha.

Cerca de quinze minutos após sair de casa, o carro parou novamente em frente à uma grande construção, onde flashes de câmeras iluminavam não apenas o local, mas as pessoas que eram cobertas por ele também. Homens de terno, mulheres com vestidos de gala, e entre todos eles estava eu.

Enquanto passava por entre as pessoas, perfurando os círculos de pessoas enquanto buscavam um espaço mais vago — e é claro, buscava o anfitrião da festa — sentia o olhar de todos queimarem as minhas costas, em suma maioria homens, que lançavam-me sorrisinhos e piadinhas sem graças que por pouco não revirei os olhos.

Até que finalmente eu o encontrei, Arthur Lombardi estava imerso em meio ao círculo de homens de terno que o acompanhava em meio a risadas. Pelo o que consegui ler pelo movimento de seus lábios ao falar, ele falava a respeito do grande crescimento de suas empresas — em específico, as quatro que existiam por toda a Nova York, em Manhattan, Brooklyn, Bronx e Queens respectivamente.

À medida que me aproximava, o olhar de cada um dos homens fixava seu olhar em mim, até finalmente o olhar de Arthur Lombardi cair sobre mim. Ele era um homem de aparência agradável. Era alto, aparentemente forte, os cabelos loiros devidamente penteados, seria um tipo de homem que qualquer mulher adoraria a companhia, isto é claro, se não fosse seu nível alto de estupidez.

— Senhor Lombardi, é um prazer conhecê-lo finalmente! — falei assim que me aproximei dele, abrindo um grande sorriso ao ver sua cara um tanto impactada para mim — Sou Elizabeth Rushman!

— Senhorita Rushman, é um honra conhecê-la! — Arthur apertou minha mão, e da maneira mais desnecessária o possível, beijou as costas da minha mão em um gesto de gentileza! — Estes são meus outros investidores, e estes aqui! — ele fez um gesto para dois homens ao lado dele — São meus filhos, Brandon e Anthony Lombardi. Bem vinda à nossa equipe de trabalho.

— É, será um prazer trabalhar com o senhor! — falei sorrindo grandemente, embora eu esteja contendo um tom sarcástico em minha voz.

Terei uma longa jornada nesta missão, principalmente, se eu quiser cumpri-la. 

A Justiceira {CONCLUÍDA}Onde histórias criam vida. Descubra agora